Um olhar mais aprofundado sobre a influência africana na formação da identidade brasileira. Esta é a proposta da oficina temática “África, o Brasil e os Quilombos – Heranças Geográficas”, curso promovido pela Secretaria de Estado da Educação (SEE) em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (Secad/MEC) que se encerra neste domingo (20), no Centro de Formação do Cepa (Cenfor/Cepa).
Ao todo, 37 alunos se matricularam na oficina, dentre os quais, professores que atuam em comunidades quilombolas; professores com formação em História ou Geografia e militantes do movimento negro em Alagoas.
Ministrado pelo professor doutor Rafael Sanzio, da Universidade de Brasília (UNB), o curso apresenta um programa de educação fundamentado na geografia afro-brasileira, enfocando os deslocamentos demográficos entre o Brasil e a África e a territorialidade dos quilombos no passado e no presente, dotando os professores de ferramentas que melhorem a transmissão de conteúdos de História e Geografia brasileira e africana e outras questões relativas aos dois povos.
De acordo com a gerente de Educação Étnico Racial e de Gênero, Irani Neves, o conteúdo sobre a geografia dos quilombos repassado na oficina permite um novo olhar sobre a correlação entre o Brasil e a África, suprindo uma demanda de conhecimento ainda ausente na maioria dos livros didáticos.
“Este curso nos proporciona um conhecimento que geralmente não temos em nossa formação inicial e, a partir desta formação, os professores ampliam a sua prática pedagógica, pois terão conteúdo para ir além dos livros. E tudo o que vimos aqui pode ser vivenciado com uma visita a uma comunidade quilombola em Santa Luzia do Norte”, conta Irani.
Identidade
Para o ministrante da oficina, Rafael Sanzio, o conhecimento da territorialidade é fundamental para se compreender a identidade das comunidades quilombolas brasileiras.
“A historiografia brasileira precisa ser recontada, pois ainda se concentra em uma matriz europeia. Aqui em Alagoas, por exemplo, temos o maior acervo arqueológico de quilombos da América Latina, mas poucos sabem disso. Logo, ao conhecer a sua territorialidade, as comunidades quilombolas compreenderão sua identidade e, consequentemente, conduzirão melhor a busca pela garantia de seus direitos”, explica Sanzio.
Estudante de Direito e professor de Música em duas comunidades quilombolas no município de Água Branca, Graciliano Tolentino foi um dos alunos matriculados. Ele afirma que o conteúdo abordado na oficina será de grande utilidade para a sua prática pedagógica. “Trabalho com 50 pessoas, entre crianças, adolescentes e jovens quilombolas e o que aprendi aqui me permitirá ajudar a comunidade a se organizar de forma sistemática”, destacou.