Noemi Loureiro, coordenadora do curso de Dança
Criada em 2007, a licenciatura em Dança da Universidade Federal de Alagoas comemora a primeira década de funcionamento e contabiliza algumas conquistas do curso, como a avaliação positiva do Ministério da Educação e o novo olhar, o entendimento, sobre qual é seu papel. Dentro dessas conquistas também está o novo projeto pedagógico, que atualizou as ementas das disciplinas, trazendo mais contemporaneidade aos conteúdos numa vertente atual.
O curso tem quatro anos de duração e apenas uma entrada anual com 35 vagas. Funciona de segunda a sábado, das 7h30 às 12h50, no Espaço Cultural da Ufal, na Praça Sinimbu. Sua infraestrutura ainda é precária e o corpo docente se resume a quatro professores efetivos e um substituto. Para a coordenadora Noemi Loureiro, essas dificuldades são sanadas porque o curso usa muito a estrutura disponível na licenciatura em Teatro e também tem apoio de professores da Escola Técnica de Artes.
Ao todo são 89 alunos matriculados, mas muitos deles não frequentam regularmente as aulas. Segundo a coordenadora, a evasão é provocada, também, pela falta de condições financeiras de muitos estudantes. “Sem alimentação e sem dinheiro para pegar transporte fica difícil. O RU [Restaurante Universitário] é lá em cima no campus [A.C. Simões] e não dá tempo de eles conseguirem chegar na hora da refeição. Alguns até que conseguem o benefício, mas as aulas terminam às 12h50 e até que eles peguem o ônibus para chegar lá em cima, o restaurante já estará fechado. É difícil”, lamentou Noemi.
De acordo com o procurador Educacional Institucional, Tiago Cruz, os gestores da Universidade têm tido um olhar sensível às questões relacionadas a todos os cursos de artes. “A Gestão reconhece as graves condições de infraestrutura dos cursos de arte da Ufal. Ela são críticas, de fato, mas temos envidado esforços, dentro dos limites, pra tentar reverter essa situação. Uma ação concreta foi retomar as obras do antigo prédio da Residência Universitária Alagoana (RUA). Com previsão de entrega para dezembro deste ano, o local vai poder abrigar as atividades e dar uma melhor condição para os cursos”, destacou.
Formação de professores
O curso é voltado para formação de professores. Segundo Noemi, tudo começou com os docentes de Teatro, Telma César, Nara Sales e Antônio Lopes. “Eles sempre tiveram um viés para a dança e viram a necessidade de esse curso ser criado para atender à demanda existente. As pessoas procuravam um lugar para atuar com dança, pois o que havia eram os grupos de danças populares ou as escolas de balé. Por isso, o que esses docentes pretendiam era criar o curso de Dança no viés da licenciatura, para formação de professores que passariam atuar na escola básica. Assim como o Teatro que também tem licenciatura”, revelou.
No desenvolver desse processo de criação e implantação, a coordenadora relata que os docentes envolvidos começaram a perceber as necessidades para que, de fato, o curso fosse focado como uma licenciatura. “No início, as pessoas procuravam o curso porque gostavam de dançar e outras queriam aprimorar uma técnica específica. Não pensavam no curso como um lugar de formação para, globalmente, levar a dança para o processo de ensinamento na escola, como qualquer outra disciplina. O objetivo é trazer o conhecimento para formação do ser de forma integral”, disse Noemi.
No início, a entrada anual era com 45 vagas. “Conseguimos reduzir esse número e, agora, são 35. Já tivemos turmas concluintes com duas pessoas se graduando. Muitos desistiam porque descobriam que não era aquilo que procuravam. Isso também é importante porque elas percebiam e saiam. Desde 2010, percebemos que houve uma mudança no entender do que é ofertado pela Ufal. Quem procura o curso são pessoas que, de um modo geral, sabem que vão trabalhar com licenciatura. No entanto, temos cerca de 40% dos ingressantes que ainda procuram o curso pensando em aprender a dançar. No geral, a comunidade fora dos muros da Universidade ainda pensa no curso como um lugar somente do ensino do lúdico, não se vê como profissional que vai atuar dentro da escola básica”, completou Noemi.
Pelos registros da coordenação, ainda há uma evasão alta, mas quem fica para concluir o curso é porque quer trabalhar com dança. “Mais da metade de alunos que entram no curso, acaba desistindo e por várias razões. As pessoas que procuram nosso curso, normalmente, têm condição financeira baixa e não conseguem se manter no curso porque, às vezes, não tem dinheiro pra vir assistir aula e não há bolsas suficientes nem políticas na Universidade que atendam a essas demandas”, afirmou.
Para a coordenadora, o curso de Dança é sim um instrumento de formação. “Temos disciplinas pedagógicas e promovemos a formação integral. O profissional formado vai ter a consciência primeiro daquele ser e, especificamente, a pessoa entra no corpo e nas ações relacionadas ao movimento como complemento dessa consciência. O trabalho que realizamos no curso não é apenas de ações corporais; a gente entra com pesquisa e com uma consciência da formação integral do ser pra poder utilizar o corpo como subterfúgio do movimento e alcançar o que a gente pretende”, confirmou.
