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Curral de Gente I

É do conhecimento da grande maioria dos estudiosos que as margens do Rio São Francisco propiciaram a criação do gado que se beneficiava com as suas águas e com a salinidade de suas barrancas. Daí a designação de Rio dos Currais.

Hoje, passados muitos anos e, passadas também as farturas daqueles tempos; assistimos as faltanças não somente das abundâncias materiais como também das espirituais, em que pese a insistência em se bem dizer do fervor do povo barranqueiro. Mas se temos fé e esta gera esperança, isso já se esvai na névoa do tempo como os currais de gado e, ficamos a assistir “bestializados” a edificação de novos currais. Só que dessa feita, currais de gente.

A administração pública de nossa cidade de maneira equivocada e cruel intervém nos sítios históricos de preservação rigorosíssima e, de maneira a transformar os nossos logradouros em verdadeiros currais de gente.

O que se verifica na Avenida Beira Rio, ou Comendador Peixoto é um escárnio à nossa inteligência e um grave desrespeito à nossa cidade, já protegida por Lei Federal como Patrimônio do Brasil. Há pouco tempo a administração municipal foi obrigada a demolir parte das besteiras que havia construído com dinheiro público: quiosques a guisa de mercados de artesanato. Digo parte porque também foram edificadas outras construções para sediar restaurantes que, por sinal, de tão precários, não resistiriam a mais superficial inspeção sanitária se acaso saúde pública houvesse.

Assim como os quiosques do artesanato, esses “restaurantes” foram também denunciados e condenados e devem ser retirados brevemente. O mesmo ocorrendo com os postos de gasolina que ainda teimam em permanecer alheios a todo clamor público, alimentando o tráfego pesado na região e os bolsos de maus penedenses.

Nota-se que a parafernália de “arranjos urbanísticos” tem sempre como objetivo manter intocável os privilégios de uma minoria que insiste em retirar do caos o máximo proveito, e, mesmo quando isso vem em prejuízo da cidade que os viu nascer. É um ciclo vicioso: os postos se escudam na presença dos “restaurantes” e outras besteiras para justificar sua presença. Estes precisam dos motoristas, principalmente dos caminhoneiros que pernoitam na região e com isso, a favelização da orla se acentua, propiciando a prostituição, uso de drogas e toda uma série de desconforto social.

Um visual humano e ambiental dantesco domina a entrada principal da cidade que afasta dessa área seus habitantes, além de, é claro, os turistas que chegam mesmo a terem medo de passar por ali em determinadas horas.

Ainda em sua insana “gerência”, a administração pública substituiu as antigas pedras de calçamento por bloquetes modernos e de precária manutenção, e que nada tem a ver com Penedo, a não ser as conveniências possíveis nos editais licitatórios. E como se não bastassem essas crueldades, enchem esse espaço com estacas a guisa de currais para “orientar” o transeunte e evitar que os habitantes, ainda desatentos, utilizem mal esses espaços. E, alheia a tudo isso por incompetência e aulicismo, a Secretaria Municipal de Turismo e Cultura anuncia nos foros Gestores do Turismo um plano para receber os turistas nacionais e internacionais. Algo incrível de se acreditar.

Já que de nada servem os órgãos fiscalizadores para coibirem esses desmandos; roguemos aos céus que se alevante em defesa da Cidade do Penedo, Patrimônio do Brasil, a indignação dos verdadeiros penedenses e dos demais brasileiros contra esses atos vandálicos de verdadeira depredação da nossa cidade.

Que os homens de bem do nosso país acorram ao nosso clamor de modo a não permitir que a nossa cidade seja destruída por incautos, que, disfarçados de administrares públicos, de maneira irresponsável brincam com nosso patrimônio cinco vezes centenário.

Que se dê um BASTA a essa irresponsabilidade em nome do Patrimônio Brasileiro.

Que o Ministério da Cultura cuja titular Dra. Ana Buarque de Holanda, filha do grande historiador brasileiro, Sergio Buarque de Holanda, lance seu olhar sobre Penedo e exija que os órgãos a ela submetidos, atuem tempestivamente em socorro dessa Cidade cuja população vem ao longo dos anos sofrendo a amargura por todos os desmandos de suas administrações, e que vem assistindo no dizer de Aristides Lobo, “bestializada” a degradação de seu sitio histórico. Evocamos ainda as tradições dos Buarque de Holanda, recordando o querido Chico, para que possamos também “ter as nossas praças e os nossos jardins”. E que neles cantem os nossos pregões, mercadejes, os nossos ambulantes e, a cidade volte a ser um local agradável para se viver.