Cruzeiro foi eliminado pelo River nas oitavas da Libertadores
O ponto forte do Cruzeiro sob comando de Mano Menezes tem sido a disputa de competições de mata-mata. Não à toa, o time venceu as duas últimas edições da Copa do Brasil e está na semifinal do torneio novamente neste ano. A equipe tem atuado sempre no “limite” nesses confrontos, contando com noites inspiradas principalmente de Fábio e Thiago Neves para classificar. Mas, desta vez, a receita não funcionou. Nessa terça-feira, a Raposa foi eliminada pelo River Plate nas oitavas de final da Copa Libertadores.
A estratégia do Cruzeiro tem sido muito clara. Marcar com todos os jogadores atrás do meio-campo, tomar a bola e sair rápido em contra-ataque. Até por esse motivo, Mano abriu mão de Fred para atuar com Pedro Rocha como “falso 9” há alguns jogos. O problema é que o time tem encontrado dificuldades para conseguir essas escapadas e, quando consegue, tem errado bastante no passe final. Por isso, as chances de gol são escassas.
Em Buenos Aires, a única oportunidade clara aconteceu no gol anulado de Marquinhos Gabriel, ainda no início da segunda etapa. Estratégia compreensível, diante do atual campeão da Libertadores, fora de casa. Em Belo Horizonte, precisando ganhar para avançar, Mano iniciou com três volantes em meio à impossibilidade de ter Robinho como titular, em função de incômodo na panturrilha. A equipe, que já não tem tanta efetividade em contra-atacar, teve menos escapadas ainda.
Resultado: o Cruzeiro assustou pouco o goleiro Armani. A única chance claríssima de gol foi com Pedro Rocha, no primeiro tempo, quando Armani salvou já sobre a linha. No segundo tempo, com as entradas de Robinho e Fred, a equipe melhorou, mas o mais próximo que chegou do gol foi em um chute de Thiago Neves de fora da área. O River Plate teve mais posse (57,2%) e mais finalizações (13 contra 9), mas também não obrigou Fábio a fazer milagres.
Mais uma vez, dois zeros no placar, e a vaga ficou nas mãos de Fábio e nos pés dos cobradores. Henrique e David pararam em Armani, e os argentinos converteram todas as cobranças. O final foi diferente, mas o enredo foi muito parecido com alguns nos últimos anos.
Na caminhada da Copa do Brasil de 2017, o Cruzeiro foi campeão passando por Grêmio e Flamengo, na semifinal e na final, respectivamente, nos pênaltis. Fábio pegou uma cobrança em cada disputa. Diante do Tricolor, a equipe fez um jogo de recuperação na volta, em BH, mas, diante do Rubro-Negro, a exemplo do que aconteceu contra o River, empatou a ida fora e não conseguiu vencer a volta em casa. Contra o Palmeiras, nas quartas de final, empatou em São Paulo por 3 a 3 e a volta por 1 a 1, com gol aos 43 minutos do segundo tempo, avançando pelo critério de gols marcados fora, que não existe mais.
Na competição do ano passado, o caso de maior sofrimento foi nas oitavas de final. O time foi à Vila Belmiro e venceu por 1 a 0. Na volta, no Mineirão, abriu o placar logo no início, mas recuou e viu o Peixe virar, levando a decisão para os pênaltis. Fábio defendeu três cobranças e ajudou a equipe a avançar (veja no vídeo abaixo). Em 2019, contra o Fluminense, empatou fora de casa e, na volta, saiu atrás no placar, virou, tomou o empate e avançou nos pênaltis, novamente com Fábio decisivo.
E essa situação de a equipe jogar no limite está sendo vista dentro do próprio elenco. Depois do jogo, o atacante Fred, que diz não se encaixar no estilo reativo de Mano Menezes, afirmou que o time joga, realmente, os mata-matas para vencer por 1 a 0 e para passar de fase.
– A gente está jogando o jogo para fazer isso mesmo, para ganhar de 1 a 0, para passar de fase, principalmente nesses mata-matas. Está poupando todo mundo aí no Brasileiro, então é natural sofrer. No último jogo, jogamos com oito moleques, com muita personalidade, com muita qualidade, mas sem treinar com a gente. É normal sentir essa dificuldade, mas as características estão sendo para criar pouco, mas matar o jogo com os caras lá da frente, que são rápidos.
O que diz o treinador?
Mano Menezes foi questionado sobre o fato de o time jogar sempre no limite, mas tratou o questionamento como oportunista e disse que em nenhum momento o time deixou de acreditar na classificação durante o tempo normal.
– Já imaginava que iam aparecer os primeiros aproveitadores, é bem comum que apareçam nessa hora. Em nenhum momento o Cruzeiro deixou de acreditar. O Cruzeiro lutou até o final dos 90 minutos para tentar fazer o gol. Thiago (Neves) ficou porque é um jogador importante, capaz de fazer um gol com qualquer lance. Por isso ele ficou. Não ficou para bater pênalti. Nem bateu. A derrota pode ser dura, pode ser triste, mas a gente não pode enganar o torcedor. Não se trata de estilo, de abdicar, de não querer. O Cruzeiro já jogou, depois de 1997, quando conquistou o bicampeonato da Libertadores, 11 edições da Libertadores, contando esta. Passaram oito treinadores diferentes: professor Levir, Luxemburgo, Paulo César Gusmão, Adilson Batista, Cuca, Marcelo, com um time bicampeão brasileiro, um timaço, até chegar em mim. Todos com estilos diferentes, maneiras diferentes de armar o time. Ninguém conseguiu ganhar. Porque é difícil ganhar. É num detalhezinho, como foi hoje. Algumas vezes, o Cruzeiro conseguiu vantagem fora de casa, e não conseguiu confirmar dentro de casa.
