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Crítica partidária, parcial e subserviente

De vez em quando nos surpreendemos com arautos das virtudes que, vítimas de inevitável ironia do destino, caem nas malhas das contradições que desnudam sua pureza moral. O que acontece, com freqüência, é que esses puros do pecado estão apenas travestidos como tais, são pobres de espírito que querendo aparecer, contentam-se em parecer em vez de ser verdade.

 A oposição, para ganhar respeito e credibilidade, tem de se firmar no bom exemplo pessoal de quem a faz. Vamos aos meios de comunicação como o mais esclarecedor dos exemplos. Todos carregam com tamanha ênfase o compromisso com a verdade, a liberdade de expressão e a imparcialidade, que chegam a nos convencer que são de fato portadores de indestrutível blindagem contra as tentações do partidarismo, do personalismo e do poder econômico. Acontece que todo o virtuosismo dessa canção não passa, na maioria das vezes, de uma agradável música aos nossos ouvidos, que se dispersa no espaço e se distancia do decantado objetivo. A razão desse desencontro entre querer e o poder está nas limitações do homem que não obstante persiga os grandes ideais, não se dá conta que estão, na maioria das vezes, além das suas possibilidades.

 Quando ouvimos um programa de interesse público em uma emissora de rádio ou quando lemos e escrevemos para um jornal, o fazemos por acreditá-los credores da nossa confiança e independentes sob todos os aspectos da manifestação do pensamento. Naturalmente que desapontamento a esse respeito é mais uma constante do que raras exceções. Uma, entre outras causas, está na sobrevivência. Os meios de comunicação, como qualquer negócio do comércio, tem no lucro o combustível para continuar a existir. Nada de anormal quando isento da ganância pelo lucro, principal causa do desvio de compromisso com a verdade.

 Vejamos a imprensa interiorana, atendo-nos à nossa cidade, composta de pequenos jornais e algumas emissoras de rádio. Qual é o panorama a respeito? Está devidamente vacinada contra tudo que possa denegrir a sua imagem? Está isenta da parcialidade, do partidarismo, da crítica puramente sistemática e irresponsável? Todos sabemos da importância da crítica, até mesmo da radical quando procedente e intuito construtivo.

 Quem acompanha um pouco os programas informativos e de participação do ouvinte, percebe que não existe entre as nossas emissoras uma terceira via, isto é, neutra, apartidária e descompromissada com o executivo municipal. Se em parte existem críticas cabíveis e aceitáveis, no geral predominam as de origem passional ou de insatisfação pela perda de interesses pessoais. Os mesmos erros que a oposição de hoje calava no passado, agora os aponta como verdadeiras calamidades. E assim se alternam com as mesmas briguinhas insossas e carentes de credibilidade.

 Face a essa irretorquível veracidade o que vemos é o disfarçado servilismo que se irmana com a hipocrisia, razão porque devemos ficar alertas para não nos enfeitiçar com eloquentes pregações dos bons costumes, oriundas de tartufo da moral. Esses personagens sentem dificuldade para se desvencilhar do exibicionismo, do interesse pessoal, o mais versátil dos atores a desempenhar todos os papéis de puros e até de desinteressados.

 Em suma, ilustre comunicador, se você não está seguro da sua força de caráter para não ceder à mentira, à tentação a parcialidade com o intuito de prejudicar terceiros, silencie. É muito mais meritório o virtuosismo do silêncio ao estardalhaço oco da demagogia. Escravize-se ao nobre ideal da liberdade de expressão calcado na verdade e na responsabilidade. Não seja conivente com a mentira e inconveniente com a parcialidade que cede ao passionalismo
partidário, vícios que destroem e pervertem, com o beneplácito da maldade, a realidade dos fatos.