No pátio do Esquadrão de Polícia Montada Coronel Moura Brasil, no bairro de Cambeba, em Fortaleza, os cavalos estão perfilados. Uma turma de crianças se prepara para montá-los e começar mais uma aula de equitação. Ao fundo, ouve-se a canção “Para nossa alegria”, que ficou famosa na internet. Ela resume a emoção que contagia o espaço. Como se fosse um balé equino, os animais se movimentam ao som da música, cantada e tocada por um grupo de alunos do projeto socioeducacional do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) Regional Fortaleza, em uma sala próxima ao campo de equitação.
É assim todos os dias da semana: uma turma faz aulas de equitação e outra de música. No contraturno escolar, 96 crianças em situação de vulnerabilidade social participam do projeto “Cavaleiros do Futuro”. Dessas, 70% são beneficiárias do Bolsa Família, programa de transferência de renda coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Segundo a supervisora do Creas Regional Fortaleza, Regiana Ferreira Nogueira, as crianças frequentam o projeto todos os dias da semana – dois deles são dedicados à equitação e os demais à música. Para participar, uma das exigências é a frequência escolar. Podem integrar o projeto crianças e jovens de 10 a 14 anos, durante, no máximo, dois anos.
Comportamento – O tempo em que passam no esquadrão tem mudado a vida dessas crianças e jovens da periferia de Fortaleza. Há um ano, Francisco Lucas Coelho de Oliveira, 13 anos, era um garoto que vivia na rua – por falta de opções de lazer – e que “aprontava” na escola. Estava sempre metido em brigas e não tinha boas notas. A mãe resolveu achar uma ocupação para ele e foi ao Creas Regional Fortaleza inscrevê-lo no projeto. “Hoje minha mãe tem até orgulho de mim”, diz o menino.
Sayron Victor Araujo Veras, 12, também mudou o comportamento depois de entrar no projeto. Morador das redondezas do Esquadrão de Polícia Montada Coronel Moura Brasil, ele já ia ao local. Informalmente, ajudava os futuros colegas a encilhar e a lavar os animais, até que se inscreveu e há quase dois anos participa do projeto.
Além da disciplina, perdi a timidez por causa das apresentações de música, conta Sayron. No projeto, ele toca cavaquinho, triângulo e bateria. Sua música preferida é Asa Branca, imortalizada na voz do pernambucano Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
De acordo com o instrutor de música Nilzélio Maya, as aulas são teóricas e práticas – tanto voz quanto instrumental (violão, contrabaixo, cavaquinho, bateria, percussão). O repertório, acrescenta, é escolhido com a ajuda das crianças. “Mas, às vezes, eu mudo a letra, parodiando, para que sejam canções que edifiquem”. O projeto, diz o instrutor, ajuda a descobrir talentos, não só musicais.
Assim como o Creas Regional Fortaleza, existem mais 40 unidades estaduais e outras 2.174 unidades municipais em todo o país, cujos serviços são custeados em parte pelo MDS.
