Diversas vulnerabilidades atravessam a população em situação de rua. Voltando seu olhar para essas pessoas, a Prefeitura de Aracaju oferta, desde 2015, serviços de saúde, através do Consultório na Rua, programa que foi intensificado durante a pandemia da covid-19, quando a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) ampliou tanto a carga horária quanto o número de profissionais que compõem a equipe.
Através de ações itinerantes por todas as regiões da capital, as equipes do Consultório atuam, após a intensificação da oferta do serviço, de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, prestando atendimentos entre testes rápidos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs); acompanhamentos de pré-natal; tratamento de tuberculose, hanseníase, sífilis, hepatite, HIV e outras doenças; atendimentos de diabetes e hipertensão; aplicação de vacinas, incluindo a da covid-19; e aconselhamento sobre álcool e outras drogas.
O olhar humanizado para as pessoas em situação de rua é reforçado pelo programa por meio de uma equipe multidisciplinar composta por assistentes sociais, enfermeiras, técnicas de enfermagem, psicóloga e médica clínica, grupo profissional que realiza uma média de 390 atendimentos mensais e, somente de janeiro a julho deste ano, atendeu mais de 2.600 pessoas.
Além dos atendimentos na rua, a equipe realiza os encaminhamentos para os órgãos e instituições de atendimento à saúde, de assistência social e proteção, como UBSs, Centros de Referência de Assistência Social (Cras), de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e de Atenção Psicossocial (Caps).
Atendimento humanizado
O atendimento humanizado garante maior eficácia no cuidado ao paciente. A secretária municipal da Saúde, Waneska Barboza, explica que esse é justamente um dos principais objetivos do Programa Consultório na Rua. “Através do trabalho da equipe multidisciplinar, é possível fazer a conexão desse público com aparelhos de saúde, assistência e segurança, a partir das necessidades de cada usuário”, salienta.
Waneska comenta que o trabalho do Consultório na Rua é feito de forma integrada, isso garante que uma rede de atuação estratégica possa atender de forma prioritária os assistidos pelo programa.
“Entendemos que o público-alvo do programa são pessoas que estão em uma situação muito mais vulnerável, por isso é necessário que o atendimento seja rápido e efetivo”, pontua Waneska.
A coordenadora do Consultório na Rua, Jayane Trindade, ressalta que o projeto nasceu para dar conta do processo de exclusão que a população em situação de rua sofre. O objetivo principal é possibilitar o acesso dessas pessoas à rede de saúde, fazendo encaminhamentos e articulações, entendendo a saúde não apenas como o tratamento de doenças, mas a partir de sua compreensão como direito humano e social. Desta forma, o Consultório na Rua é a ponte, o vínculo e o veículo dessa pessoa em situação de rua aos equipamentos e políticas públicas necessários.
“O programa atende toda a cidade. Percorremos da zona Sul à zona Norte, acompanhando os grupos ou pessoas em situação de rua que já foram mapeados pela equipe. Em dias específicos, fazemos a busca ativa por campos novos, identificando ruas e bairros com pessoas que ainda não foram acessadas e não são acompanhadas pelo Consultório na Rua”, detalha a coordenadora.
A enfermeira Keila Barros, que faz parte da equipe multidisciplinar do Consultório na Rua, enfatiza que a iniciativa é uma política pública que atende a uma demanda: o direito ao acesso à saúde da população em situação de rua.
“A equipe multidisciplinar trabalha em conjunto para garantir o atendimento das demandas que a população em situação de rua apresenta. Possibilitamos as pontes, estabelecendo diálogo com essas pessoas para que, a partir de articulação inter e intrassetorial, as diversas necessidades sejam atendidas”, destaca Keila.
Direito à saúde
Nas ruas há 15 anos, Arnaldo da Silva Emiliano conta que o primeiro contato com a equipe do Consultório na Rua aconteceu há dois anos. Com o acompanhamento, fez exames, recebeu medicamentos e foi encaminhado para atendimentos médicos nas unidades de saúde.
“Quando conheci as meninas eu estava doente demais. Com o acompanhamento que elas fazem direto, melhorei muito. Esse serviço é muito importante pra gente, tem que ter sempre. Mesmo na rua, recebo o atendimento, dá pra ver que a Prefeitura tá olhando pra gente”, comenta Arnaldo.
Marcos Silva está em situação de rua há cinco anos. Atualmente ele faz pouso na Orla da Atalaia, próximo à região dos lagos. Ele avalia o Consultório na Rua como uma iniciativa maravilhosa. Quando contraiu covid-19, recebeu os cuidados necessários, também foi vacinado para estar mais protegido contra a doença.
“Essas meninas sempre vêm ajudar. Com elas, temos toda a assistência, do Creas, do Cras, do PRD. Estamos assistidos por esse pessoal que sempre nos dá força, para que a gente se levante e consiga sair do meio da rua. Chegam junto com a gente, sem demora”, relata Marcos.