Lapinha do Centro Juvenilo Maria Auxiliadora foi trabalhado com palha de milho
A comissão julgadora do Concurso Lapinhas de Penedo visitou nesta terça-feira, 21, todos os trabalhos inscritos no projeto que chega à sua terceira edição. Lançado pela superintendência em Alagoas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o concurso realizado em parceria com a prefeitura registrou 14 inscrições em 2010, número recorde do projeto que tem por objetivo promover o resgate de uma tradição natalina.
Acompanhada com exclusividade pela reportagem do portal de notícias aquiacontece.com.br, a visita da comissão prevista para começar no início da tarde foi antecipada para evitar atropelos durante a ‘peregrinação’. Composta por dois representantes do Iphan/AL (os arquitetos Mário Aloísio Barreto Melo e Pablo Crhistian Maia da Silva), dois membros da sociedade civil (a advogada Denise Barbosa, e o jornalista Fernando Vinícius) e uma da secretaria municipal de Cultura (a diretora de pesquisa Marcelly Batista Delgado), a comitiva analisou as lapinhas expostas nas casas dos autores dos trabalhos.
Personagens feitos com pedra-sabão
A primeira parada aconteceu na residência de Carla Ferreira dos Santos. No chão da sala, personagens da passagem bíblica fabricados com pedra-sabão estão distribuídos compõem a lapinha com animais de brinquedo, bichinhos tomados emprestados do sobrinho, segundo Jayran Ferreira Santos, morador que abriu as portas da casa para a comissão julgadora. Ele assegurou que algumas peças da lapinha são herança de uma bisavó e que soube do concurso por meio da Rádio Penedo FM (97,3 Mhz e www.penedofm.com.br).
Já na residência da família Tavares toda a composição da lapinha é resultado de um trabalho completamente artesanal, produzido com bambu, pedaços de esteira de peri-peri e fibra de sisal. Filha de uma artesã especializada em trabalhos com palha de bananeira e de milho, Sandra Tavares disse que soube do concurso por meio de uma amiga. “Eu gosto muito de artesanato rústico, por isso resolvemos fazer dessa forma”, declarou sobre a lapinha que tem a participação de toda a família, marido, filhos e filhas do casal, trabalho registrado no último dia de inscrição.
Barbante, cola e tinta
Enquanto as duas primeiras visitas foram em casas de pessoas que estreavam no concurso, a terceira aconteceu na residência da vencedora da edição 2009, a artista plástica Karina Michele Souza. Utilizando barbante, cola e tinta, ela produziu os personagens com a técnica que disse ter aprendido em um programa de televisão, com o cenário feito com isopor, tudo preparado no período de duas semanas, conforme afirmou. No ano passado, Karina sagrou-se campeã do concurso fazendo a lapinha com blocos de espuma de alta densidade.
Outra inovação foi registrada durante a quarta visita, no Centro Juvenil Maria Auxiliadora, instituição fundada pela ordem religiosa salesiana há dois anos. Instalado na Vila Matias, bairro onde a maioria dos moradores é de baixa renda, o centro promove atividade complementares para meninas, aulas de música, dança e artesanato. Orientadas pela Irmã Paola Pellandra, parte das garotas atendidas pela entidade trabalham na produção da lapinha que tem como matéria-prima palha de milho.
Lapinha bordada
Na quinta visita, uma nova surpresa. Na nova sede da AISBOPE (Associação de Inclusão Social Bordadeiras de Penedo), a lapinha confeccionada pela técnica de Enfermagem Maria Josete estava exposta na parede. Entre dois castiçais, a manjedoura onde o Cristo nasceu foi trabalhada com agulha e linha, trabalho feito durante 20 dias, com cerca de 15 horas de dedicação diária, segundo a autora da lapinha que se inspirou em desenho feito por seu irmão.
Seguindo o modelo mais tradicional da composição que simboliza um episódio marcante no imaginário cristão, o artista plástico Raimundo Vieira – filho do renomado mestre santeiro do Penedo, Antônio Pedro – armou sua lapinha na sala de casa. Segundo Raimundo, a maioria dos personagens é obra de seu pai, elementos distribuídos sobre a mesa ornamentada, com a cidade de Belém pintada por Vieira na parede por trás da lapinha.
Tradição de mais de 40 anos
Em outra casa de artista plástico penedense (Joan Barros), a lapinha da família também foi disposta sobre uma mesa, composição trabalhada pelas filhas, principalmente Gabriela Barros, com pintura simbolizando Belém ao fundo de autoria de seu pai. Bem pertinho dali, a família do enfermeiro Jonas Barros Santos, o Joninhas, mantém a tradição de mais de 40 anos, segundo ‘dona’ Irene, mãe do responsável pela inscrição da lapinha “pequenina e simples’, como definiu a dona da casa sobre a permanência de uma tradição que independe de concurso para ser celebrada ano após ano.
Seguindo pela Rua Dom Jonas Batinga em direção ao bairro Santo Antônio, o bairro Barro Vermelho – o primeiro do Penedo – a comissão chega ao ateliê do carnavalesco e artesão Cícero Tadeu Gomes de Lyra, o ‘Tadeu dos Bonecos’, como é conhecido. Vencedor da primeira edição do concurso e segundo colocado no ano passado, ele produziu a lapinha com papel, formas que ganharam cobertura de pó de serra nos personagens. O fundo com a cor azul predominando ganhou o efeito especial de raio laser verde, emitido a partir de uma caneta especial manipulada por Tadeu.
Garrafa PET e animais de barro
Ainda no centro histórico de Penedo, na Rua Dâmaso do Monte, a casa de número 157 ganhou uma lapinha em sua sala, produzida por Cristiane Soares Roberto a partir de garrafas do tipo PET, com os animais que integram a cena feitos de cerâmica, peças de barro adquiridas. A inscrição no concurso aconteceu por conta de um panfleto colocado por baixo da porta da casa, material que a levou a se inscrever pela primeira vez no projeto que distribuirá R$ 10 mil em sua premiação, sendo R$ 3.100 para o primeiro colocado, R$ 2.400 para o segundo e R$ 1.500 para o terceiro.
Com ou sem concurso, a família do pescador aposentado Tarciso José Costa prepara sua lapinha a cada fim de ano, costume mantido há mais de 25 anos, inclusive esperando a véspera do Natal para colocar o Menino Jesus na manjedoura. Por conta da vista da comissão, a inclusão foi antecipada, o que também aconteceu na casa de Cristiane Paulino Santos, que herdou a lapinha de sua mãe, já falecida.
Miniaturas dentro de uma redoma de vidro
Na penúltima visita, a lapinha mais inusitada. Dentro de uma redoma de vidro, miniaturas de personagens tipicamente nordestinos sobre uma jangada, com uma imagem de São Francisco de Assis ajoelhado à frente da embarcação. Produzida pelo artesão maceioense Arlindo Monteiro, especializado em produzir peças com palitos de fósforo, a obra de arte está exposta na Boutique Butterfly, situada ao lado do Hotel São Francisco.
Por fim, a comissão encerrada as visitas com a apresentação de uma ‘lapinha viva’. Organizada pelos moradores das ruas Dr. Carlos Martins (popular Beco do Hospital) e São Vicente, o nascimento do Cristo ganhou movimento. Interpretado por crianças, adolescentes e jovens, com participação especial de um recém-nascido – no papel do Menino Jesus -, a lapinha começa com a chegada de José e Maria em Belém, o encontro do abrigo ao lado de um curral, a anunciação do nascimento, a visita dos três Reis Magos a Herodes e termina com a reunião em frente à manjedoura, encenação amadora, mas carregada do espírito natalino que emocionou a todos.
Vencedores serão conhecidos no próximo dia 30
Surpreso com a qualidade das produções das lapinhas, o arquiteto Mário Aloísio informou que os vencedores do 3º Concurso Lapinhas de Penedo serão divulgados no próximo dia 30, com a premiação entregue no dia 06 de janeiro.
