No convívio com os pilotos brasileiros da Stock Car, que corre este fim de semana em Interlagos, percebo que não fui o único decepcionado com a estreia da Fórmula 1 no Mundial de 2011. Mas ainda acho que minha decepção é maior que a de todos. Do começo ao fim da corrida, não gostei de nada. As novas regras não foram eficientes para se conseguir mais ultrapassagens e nem os pneus provocaram tantas trocas como era desejado.
Com muito custo, ainda consigo culpar a temperatura mais baixa de Melbourne pela falta de mais pit stops. Não que eles sejam necessários para tornar uma corrida interessante, mas porque tem havido tão poucas ultrapassagens que passei a olhar com muita esperança o objetivo da Pirelli em criar pneus que, forçosamente, teriam de ser trocados de três a quatro vezes por corrida. No fundo, acho a ideia tão artificial quanto a da asa móvel, mas como quero ver corridas com muitas disputas de posições, vivo a esperança que as mudanças tragam bons resultados. Com a temperatura de Sepang, que faz do GP da Malásia o mais quente do ano, a movimentação de entrada e saída já deve ser bem maior.
Quanto à abertura do aerofólio traseiro, a decepção foi ainda maior. As ultrapassagens que vi foram as de carros velozes em cima de carros mais lentos, aquelas que sempre aconteceram. Mas na hora da briga entre grandes, a nova regra não funcionou. Felipe Massa, mesmo com um carro inferior à McLaren de Jenson Button, por ter ganho a posição do inglês na largada, conseguiu segurá-la por 11 voltas, mesmo com Button usando a asa móvel e babando de vontade de passar.
Posso até continuar acreditando que em outras pistas com retas maiores o artifício venha a funcionar. Mas já não estou certo disso. Mesmo quem fez as novas regras admite ainda ser muito cedo para uma boa avaliação delas e, nesse aspecto, a próxima pista, na Malásia, não vai ajudar muito. Lá a reta do box não é maior – na verdade, tem 10 metros menos -, mas existem outras retas do mesmo tamanho. Fico com a sensação de que poderia dar certo liberar o uso da asa móvel em outros trechos. Por outro lado, mesmo correndo o risco de falar uma bobagem do ponto de vista técnico, já que não tenho conhecimento para isso, eu imagino se não seria mais fácil criar um tipo de botão de ultrapassagem para, durante a corrida e por alguns segundos, aumentar a potência do motor. É uma solução simples que se usa na nossa Stock Car.
E o que dizer do domínio da Red Bull ? Nada diferente do que ocorreu em 70% do campeonato passado, só que agora começou bem mais cedo. A McLaren, que chegou à Austrália desacreditada, acabou sendo a que andou mais perto da Red Bull e a justificativa é que isso se deve a uma reformulação completa do projeto. Mas Adrian Newey garante que o segredo está numa cópia bem feita do sistema de escapamento da própria Red Bull. Na F-1 de hoje, fala-se que a única saída dos projetistas para se conseguir um diferencial está na aerodinâmica, e a novidade da vez é este escapamento jogando gases para baixo do carro. O princípio é fazer o ar passar por baixo do carro em velocidade maior do que o que passa por cima. Isso gera pressão aerodinâmica de cima para baixo. Com o duplo difusor proibido, todos se voltaram para o escapamento.
Vamos ver se a McLaren repete na Malásia a performance da primeira corrida e, principalmente, se a Ferrari dá algum sinal de que pode reagir. Por enquanto, a Red Bull está disparada, simplesmente 22 segundos à frente da McLaren, o que na pista australiana equivale a 1,4 quilômetro. É muita coisa! A próxima coluna, eu escrevo já na Malásia, um lugar nada agradável com um clima detestável. Depois, a China, com passagens por Hong Kong e Xangai. Serei um entre 1,3 bilhão de habitantes, fora os turistas. Um dia desses vi uma estatística assustadora: só o número de estudantes de inglês na China é maior que o de pessoas na Inglaterra. É de assustar, não é?
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