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Cultura

Com o reisado nas veias, mestre Expedito lidera grupo em Viçosa

Liderança foi passada pelo pai e até hoje mestre Expedito segue na brincadeira

Quem vê o senhor franzino, até meio tímido, não imagina a força que ele carrega dentro de si. Mas, como diz o ditado popular, as aparências enganam e mestre Expedito Tavares logo trata de mostrar o motivo pelo qual foi escolhido como Registro do Patrimônio Vivo de Alagoas. Dono de uma pisada forte e de um ritmo marcante, é ele quem comanda o histórico reisado Virgem dos Pobres, localizado no povoado de Bananal, em Viçosa, e um dos últimos do Estado.

A liderança do grupo foi passada pelo pai, o também mestre Osório Tavares, e abraçada por mestre Expedito com todo vigor. O talento para dar continuidade à tradição – que se iniciou com o avô e mestre Terto Tavares – foi revelado ainda na infância, quando, aos 8 anos, ele entrou no folguedo como figurante. “No início, achava que não conseguiria dançar e disse isso para o meu pai, mas ele me encorajou muito, até que realmente consegui”, conta.

Já adulto, aprendeu a tocar pandeiro e, acompanhado por um dos irmãos, que era tocador de viola, passou a animar o reisado. Foi somente quando mestre Osório – atualmente com 96 anos – já não aguentava mais puxar a brincadeira que mestre Expedito decidiu ocupar sua posição, levando o legado adiante. Agora, aos 58 anos, ele tenta convencer o filho mais velho a comandar o grupo, criado na década de 30.

A animação do Bananal

Atualmente, o reisado Virgem dos Pobres conta com 25 integrantes, com idades que variam entre 5 e 46 anos. Os ensaios acontecem aos sábados e domingos e são disputados entre a comunidade. “Todo mundo fica querendo participar. Tem sempre alguém na minha casa pedindo pra entrar, mas nem sempre dá, pois estamos completos. Mas o interesse é bom, porque a semente vai ficar”, ressalta o mestre.

O grupo está acostumado a se apresentar em todo o Estado, em especial entre agosto e dezembro, e até uma equipe alemã já veio a Alagoas filmar a arte feita em Viçosa. Apesar do sucesso, o cachê de cada apresentação é de apenas R$ 500. “O dinheiro é pouco, não dá pra viver”, lamenta seu Expedito. Mas se alegra imediatamente, quando lembra que agora contará com a bolsa mensal de 1,5 salário que passará a receber como mestre do Patrimônio Vivo de Alagoas. “Aí vai ser bom demais. Foi uma bênção para mim”, diz, acrescentando que, com o pagamento, vai reparar as alegorias do folguedo.

Apaixonado pelo que faz, ele revela que o auxílio dará mais independência à “animação do Bananal”, mas, mesmo que não ganhasse nada, continuaria se dedicando à tradição iniciada pelo avô. “Tenho o maior prazer em brincar. Só paro quando não aguentar mais pisar e cantar, assim como aconteceu com meu avô e meu pai”, diz ele, que canta, orgulhoso, seu amor pelo reisado: “Sou um alagoano / Sou filho de Alagoas / Minha voz no mundo zoa / Quando eu danço o reisado”.