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Negócios/Economia

Com negócio inovador, empresária leva jacarés de Alagoas para o mundo

Foram necessários apenas três jacarés para dar início a um dos negócios mais inovadores do País. Hoje com mais de 12 mil espécimes, a Mr.Krocco teve um nascimento inusitado: procurando habitat, os animais – do tipo papo amarelo – foram parar no sítio da empresária e jornalista Maria Cristina Ruffo, em Maceió. O que seria um episódio assustador para a maioria das pessoas, porém, serviu para despertar a curiosidade da paulista radicada em Alagoas.
A partir da visita inesperada, ela resolveu pesquisar mais sobre os bichos e, ao saber que eles estavam em extinção, pleiteou junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) uma licença para criar a espécie. Com a recuperação da taxa de natalidade e a retirada do jacaré da lista vermelha do Instituto do Meio Ambiente (IMA), o que aconteceu em 2002, a iniciativa se transformou em empreendimento.

Atualmente, o criatório, localizado no bairro de Fernão Velho, é o único do Brasil credenciado a exportar a pele do animal, com registros comerciais nas esferas municipal, estadual, nacional e internacional. O local também foi o primeiro abatedouro da espécie instalado no Nordeste, abatendo uma média de 200 jacarés por mês – de onde são aproveitados a carne, vendida entre R$ 45 e R$ 80 o quilo, e o couro, que custa em média R$ 4 mil cada.

Para atingir tanto sucesso, no entanto, Ruffo estudou a fundo todas as questões que rodeavam o bicho e fez vários levantamentos sobre sua viabilidade econômica. “Fui para a Austrália e para os Estados Unidos ver se era um bom negócio e conhecer algumas técnicas. Outras tecnologias eu mesma precisei desenvolver, como o abatimento humanitário”, diz a empresária, ressaltando que os bichos são mortos sem dor.

As pesquisas continuam e os próximos passos já estão traçados: a criação de um curtume próprio da Mr.Krocco para o tratamento das peles – que hoje são enviadas até a Itália para que esse trabalho seja feito – e a coleta da urina do animal. “A urina do jacaré é o melhor fixador de perfume do mundo. No Brasil, porém, ninguém possui ainda a tecnologia para extraí-la, que é muito complexa. Estamos estudando isso”, ressalta ela.

Carne e pele
Atualmente, é possível saborear a carne do jacaré-de-papo-amarelo em diversos restaurantes de Alagoas. A comercialização ainda é restrita ao Estado devido ao porte do abatedouro e à licença da empresa, mas a intenção é aumentar os abatimentos, possibilitando o envio para outras localidades, como já ocorre com as peles, que desfilam em passarelas internacionais e em bancos de carros de luxo no Brasil e no mundo.

As exportações são feitas para Itália, Inglaterra e Dubai e o couro já tratado e colorido – ele pode ser tingido de qualquer tonalidade – é utilizado por diversas grifes de renome. Cristina Ruffo revela, porém, que em breve esse uso será de exclusividade da grife da Mr.Krocco, que tem lançamento previsto para o mês de junho, na Francal, maior feira de calçados e acessórios do País, além de ser destaque ainda na Rio Fashion Week.

Os produtos, que incluem bolsas, sapatos, cintos e carteiras, já começaram a ser fabricados e são 100% alagoanos. Para treinar os funcionários responsáveis pelas peças, a empresária trouxe professores italianos. “A mão de obra é toda alagoana; apenas a tecnologia foi trazida de fora. Vai ser de Alagoas para o mundo”, destaca a paulista, vencedora do Prêmio Mulher de Negócios 2011 do Sebrae na categoria Pequenos Negócios.

Para ela, a premiação foi um reconhecimento dos 18 anos dedicados ao empreendimento. “Comecei em 1994, mas só agora estou tendo retorno e vou poder ganhar dinheiro. Todo esse trabalho foi demorado e de muita luta. Representar o Estado foi muito emocionante. Estou aqui desde 1989 e tenho raízes aqui. Por isso, foi uma satisfação concorrer com as paulistas e trazer, pela primeira vez, o prêmio para Alagoas”, diz Cristina.

Comunidade
Além do empreendedorismo, o negócio de Cristina Ruffo se destaca também pela inclusão da comunidade de Fernão Velho. De acordo com ela, todos os funcionários contratados são da região e, toda vez que aparece um novo serviço a ser feito, a população do entorno é a primeira a ser incluída. “Quando preciso de pedreiros para qualquer ajuste nos criatórios ou de outros profissionais sempre escolho pessoas daqui”, afirma ela.

O mesmo vale para a fabricação da ração dada aos jacarés-de-papo-amarelo. “Quando chegam os frangos, contrato o pessoal daqui para tratá-los. Eles sabem que terão trabalho durante dois, três dias esta semana, mais dois, três dias na próxima e por aí vai. Temos uma participação na vida da comunidade e ela é sempre incluída no negócio. Sou geradora de emprego e renda”, expõe a dona da Mr.Krocco.

Mas e quanto ao medo dos bichos? Segundo a empresária, esse receio não existe. “Nunca tive problemas. A população daqui sabe que está segura, que não corre risco nenhum. Seguimos todas as medidas de segurança e, se não fosse assim, a primeira pessoa a correr perigo seria eu. Mas todo mundo aqui está acostumado, tanto que sou madrinha de várias crianças”, diz a paulista radicada na capital alagoana.