Está em cartaz na Galeria de Arte Cesmac Fernando Lopes, a exposição fotográfica “A Utopia Cristã: O sonho franciscano em Alagoas”, de autoria do do fotógrafo Luiz Manoel da Cunha, professor dos cursos de Comunicação Social do Centro Universitário Cesmac. A mostra é um trabalho documental sobre a Vila de São Francisco, localizada entre os municípios de Quebrangulo e Paulo Jacinto, onde viveu o beato franciscano Antônio Fernando Amorim – líder religioso que morreu assassinado na década de 50. Aberta ao público em geral e com acesso gratuito, a exibição fica em cartaz até o dia 17 de maio.
O ensaio fotográfico de Luiz Cunha faz parte de uma pesquisa ampla e multidisciplinar que vem sendo desenvolvida pelo Centro Universitário Cesmac, em parceria com a Université Stendhal, de Grenoble, na França, sobre “A Utopia cristã no Nordeste Brasileiro: A Trajetória do Beato Fransciscano e do Beatismo em Alagoas”. A exposição traz 42 imagens em preto e branco que mostram como é o cotidiano da população que vive na Vila São Francisco e como a fé reliogiosa e os valores franciscanos ainda resistem em sua expressão sóciocultural.
“Queriamos trazer ao público um registro iconográfico sobre o que resta dessa comunidade formada na década de 40, em Alagoas, que detinha características semelhantes ao do movimento de Canudos, de Antônio Conselheiro, e que é pouco conhecida pela população alagoana. A mostra está dividida em três temáticas: o Surgimento, a Resistência e o Declínio, para poder discutir a trajetória dessa irmandade que ainda se mantém unida em torno da utopia franciscana”, diz Luiz Cunha.
Segundo Cunha, a ideia de fazer o ensaio fotográfico veio a partir de outras pesquisas suas sobre romeiros e ex-votos em Alagoas. Para realizar seu trabalho, ele fez cinco viagens para a região, percorreu os municípios vizinhos e passou dias hospedado na Vila São Francisco. “No passado, até os batizados realizados na Vila chegavam a reunir cerca de 17 mil fiéis. Com a morte do beato franciscano, Antônio Fernando Amorim, o movimento perdeu a sua força, mas ainda resiste na fé religiosa de alguns membros da irmandade. E era essa resistência que queríamos trazer ao público”, conta.
História – O beato franciscano Antônio Fernandes de Amorim era natural do município de Paulo Jacinto, onde foi comerciário, e de lá seguiu rumo à cidade de Batalha (AL) para iniciar sua cruzada, com base nas lições de Antônio Conselheiro e a devoção a São Francisco de Assis. Ele fundou a Vila São Francisco, na década de 40, para que os romeiros, seus seguidores, pudessem encontrar no local um espaço para fazer retiros espirituais. Localizada a 110 quilômetros de Maceió, às margens do rio Paraíba, a Vila logo se tornou um local de peregrinação.
A Vila Francisco recebeu esse nome depois que o beato Franciscano foi assassinado, em 1954, por motivos políticos. Antônio Fernandes de Amorim queria implantar a Ordem Terceira de São Francisco de Assis na região – uma organização religiosa fraternal formada por leigos masculinos e femininos que admitem a penitência, a fé e a caridade cristã, criada por São Francisco de Assis, na Itália, no ano de 1221. A partir de sua morte, o pequeno povoado passou a ser administrado pelos frades franciscanos capuchinhos, vindos da Itália, entre eles Frei Damião de Bozano, que peregrinou pelo interior do nordeste brasileiro.
Até hoje, nas primeiras quintas-feiras de cada mês, a Vila São Francisco recebe inúmeros romeiros, provenientes da zona da mata, do sertão e do agreste alagoano, para receber as bênçãos e para participar das reuniões da Ordem Terceira de São Francisco de Assis.
Anualmente, a Vila recebe milhares de peregrinos que mantêm viva a tradição religiosa. Antônio Fernandes de Amorim foi assassinado aos 35 anos de idade, no auge de sua missão evangelizadora, por causa de seu envolvimento com a política regional. O beato franciscano foi executado quando se encontrava no alto de uma escada, trocando uma lâmpada no poste em frente à Igreja de São Francisco de Assis. O crime, de cunho político, nunca foi elucidado.
