O recenseamento da população indígena, que ganhou destaque em 10 de agosto, Dia de Mobilização para o Censo nessas localidades, tem peculiaridades. Como não há ruas com casas em sequência nas aldeias, há recenseador que opte por fazer a coleta de dados por núcleos familiares. Alguns grupos étnicos habitam malocas ou casas sem paredes, por isso, no questionário é aceito que o domicílio não tenha paredes.
Outra adaptação é a pergunta sobre religião ou culto, presente no questionário da população em geral. Em território indígena, a pergunta é “Qual sua crença, ritual indígena ou religião?”, para trazer uma caracterização mais ampla da religiosidade indígena.
Essas peculiaridades foram conferidas por quem foi a campo logo no início da coleta de dados dos indígenas para o Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), na Aldeia Lagoinha, em Mato Grosso do Sul. Na aldeia, vivem indígenas da etnia Terena.
“Eles são muito receptivos. Uma facilidade é o DMC [Dispositivo Móvel de Coleta], a dificuldade é que aqui não tem rua, então vou trabalhar em unidade de família, assim não me perco”, relatou Miriam Miki, recenseadora que atua na Aldeia Lagoinha.
O Censo Indígena vai mostrar o número de pessoas indígenas que vivem no país atualmente e as condições das comunidades, com perguntas sobre etnia, línguas faladas, questões de registro civil, arranjo familiar, religiosidade, deficiência, educação, trabalho, situação do domicílio e dos cômodos, assim como de água, saneamento, destino do lixo e acesso à internet, entre outros.
Essa edição vai contar com um importante avanço no mapeamento das aldeias indígenas, o que amplia a cobertura da pesquisa. “Nossa cartografia censitária avançou muito de 2010 pra agora. Tivemos acesso a um geosserviço de imagem que nos permitiu detalhar a localização de aldeias e comunidades indígenas de forma muito mais precisa que em 2010. Isso nos garante uma ótima cobertura censitária e que não vamos deixar nenhuma aldeia ou comunidade de fora do Censo”, explicou Marta Antunes, coordenadora de Censo de povos e comunidades tradicionais do IBGE.
O cacique da Aldeia Lagoinha, Jasiel Gabriel Marcelino, avalia que é importante levantar informações atualizadas sobre os povos indígenas. “Que o nosso conhecimento, nossa cultura, possa ser levado também para que o povo lá fora possa conhecer um pouco da nossa realidade. É bom ser reconhecido lá fora, mostrar a cultura, o modo de viver, o desenvolvimento do passado e o presente, e o futuro que nós queremos”, disse.
Apoio das lideranças indígenas
Outra característica particular do Censo 2022 para essa parcela da população é o questionário de abordagem às lideranças indígenas, quando é feita uma coleta prévia de dados e também se explica aos líderes o que é o Censo e é pedido o apoio para que as comunidades recebam os recenseadores e respondam aos questionários.
O contato inicial com as lideranças é importante porque os povos indígenas têm formas próprias de organização, hábitos e costumes. Além disso, cada território pode ter condições específicas de acesso e circulação.
Nesse contato inicial, é aplicado um questionário sobre a infraestrutura das comunidades indígenas. Essa é a primeira vez que esse tipo de informação será levantada. São perguntas sobre abastecimento de água, de energia e presença de escolas e unidades de saúde. Outras questões são sobre a língua em que as aulas são lecionadas nas escolas, número de professores, hábitos e práticas como a caça, a criação de animais e o artesanato.
O trabalho prévio de mapeamento do IBGE identificou 632 terras indígenas, 5.494 agrupamentos indígenas e 977 outras localidades indígenas, em 827 municípios brasileiros.
Caso os recenseadores identifiquem comunidades não mapeadas previamente, elas serão incluídas na pesquisa do Censo. De acordo com o IBGE, os povos em isolamento voluntário não entram no Censo 2022.
As equipes do IBGE que vão atuar nos territórios indígenas passaram por um dia a mais de treinamento específico e foram preparadas para a abordagem e possíveis adaptações de metodologia nos questionários. E vão obedecer aos protocolos de saúde, tais como terem tomado as vacinas contra a gripe, a febre amarela e a Covid-19. Devem ainda apresentar teste negativo para Covid-19, declaração de que não teve contato com nenhuma pessoa com sintomas gripais 10 dias antes da entrada em área indígena e usar máscara.