Ultimamente a Igreja Católica (IC) tem ocupado os holofotes da grande mídia de um modo bastante curioso, pois ou é noticiada levando-se em conta a figura do Papa em suas visitas internacionais (e aí se dá uma conotação positiva à imagem do catolicismo), ou é noticiado algum escândalo envolvendo clérigos (dando-se aí uma conotação negativa, obviamente). Não obstante essa constatação, nenhum desses fatos me chama mais a atenção do que a obsessão de vários seguimentos da sociedade exigindo que a IC se “atualize”, como se tal instituição fosse um equipamento eletrônico ou um clube recreativo suscetível de modismos ou modificações. Como veremos, isso não passa de mera ignorância cujas conseqüências são os mais variados disparates, tais como as idéias pré-concebidas (preconceito) em torno do cristianismo e os aconselhamentos vazios e desfocados de qualquer idéia cristocêntrica.
Não é meu objetivo abordar questões da tradição católica que, a meu ver, podem ser questionadas, ou da omissão do Vaticano no que se refere aos escândalos protagonizados por clérigos em várias partes do mundo, mas, esclarecer que o padrão moral verotestamentário e neotestamentário não pode ser objeto de discussão não só para o catolicismo, mas para qualquer denominação cristã, de modo que questões envolvendo aborto, casamento homossexual e a banalização do divórcio, por exemplo, jamais serão admitidos, a não ser que se rasgue a Bíblia, sendo esta a mesma postura das demais denominações cristãs.
A partir de agora, peço permissão ao leitor para tecer minhas argumentações levando-se em consideração premissas da fé cristã numa visão interdenominacional. Não importa se você é ateu ou panteísta, enfim, peço, apenas, que continue a leitura e observe se, no campo das argumentações – inseridas numa lógica teísta/cristã -, esta crônica faz algum sentido.
Sou evangélico e não é o meu objetivo fazer uma apologia do catolicismo (doutrina com a qual tenho pontos de divergências e de convergências, obviamente), mas, sim, fazer uma defesa da intransigência do Vaticano em relação à preservação da pregação do padrão moral que deflue do Novo Testamento, o qual, biblicamente falando, é o compêndio doutrinário do cristão.
De um modo geral a sociedade civil, mormente jornalistas, políticos e lideranças, emitem suas opiniões no sentido de que Roma precisa mudar e acompanhar a “evolução” dos tempos, vez que a Igreja Católica (IC) estaria “congelada” e desinteressante para o rebanho, pregando os mesmos valores desde os últimos 2000 anos, motivo que justificaria a perda de tantos adeptos mundo afora, cerca de 120.000 pessoas anualmente (conforme várias fontes disponíveis na web). Ou seja, a sociedade ao que parece alienada no que concerne aos ditames bíblicos, quer lidar com a IC como quem lida com uma empresa ou um clube social, cujos sócios, descontentes com a administração atual, exigem mudanças na política administrativa, achando que os princípios bíblicos se comportam como as regras jurídicas que se adaptam aos novos valores da sociedade sob pena de não pacificar os ânimos que se inflamam quando da contraposição de interesses individuais.
Se a IC está perdendo adeptos isso, definitivamente, não tem vazão na advertência acerca do pecado que sempre foi pregada. Caso o afrouxamento do padrão moral cristão fosse motivo de sucesso para se ter igrejas lotadas, as igrejas cristãs reformadas estariam quase que extintas, haja vista a ortodoxia das chamadas denominações históricas em relação à preservação do cristianismo apostólico.
Ora, acredita a IC que seus dogmas e tradições têm inspiração divina e que os ensinamentos contidos na Bíblia também foram inspirados por Deus, de sorte que, se assim crê, é evidente que a sua doutrina não pode estar em negociação. Não é a IC quem é intransigente, é a Bíblia quem não transige e nem poderia, sob pena de ser uma mensagem relativa e não propagar uma verdade absoluta, tanto assim que está escrito no livro de Mateus 24: 25, que “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar”, deixando claro que a Palavra de Deus não vai se adequar aos caprichos ou modismos do homem. A Bíblia afirma, em 1 Cor. 6. 9-10: “Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus?
Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus.” Tal afirmativa não se constitui em algo relativo no tempo e no espaço. É algo que vale para sempre! Definitivamente, não há o que se negociar ou atualizar.
A visão religiosa não pretende ser uma fantasia, mas uma convicção acerca da realidade. A cosmovisão de determinada doutrina é uma visão acerca da existência, de como as coisas funcionam e de quem as rege. A religião não está na seara do “gosto” onde qualquer opção é válida enquanto afirmação. O gosto é relativo, mas a realidade (quanto a sua origem e às leis que a governa) não. Isso porque não pode haver duas realidades conflitantes sob pena de se infringir um princípio da lógica chamado princípio da não contradição (PNC). Se alguém diz que existe reencarnação e que não há inferno e outra diz que não há reencarnação e que há inferno, as duas sentenças não podem ser igualmente verdadeiras, de modo que uma delas, apenas, estará correta. Se alguém diz que Deus existe e outro diz que não existe, apenas um estará com a razão, é óbvio, já que Deus não pode existir e ao mesmo tempo não existir. Nesse sentido, Cristo, Kardec, Buda, Joseph Smith e Nietzche, por exemplo, não podem está todos corretos, pois uma pretensão diferente disso feriria o princípio lógico acima nominado.
A Bíblia, portanto, é a fonte de informação acerca da realidade para a IC e para todo o cristianismo, de sorte que se a sua doutrina mudasse ao sabor da metamorfose imposta pela tão propalada modernidade, a sua visão de realidade não seria confiável, pois que inconclusiva. Aliás, a assertiva de que toda verdade é relativa encerra em si uma grande contradição já que pretende expressar uma verdade absoluta ao asseverar, categoricamente, a relatividade de toda verdade, e isso também fere o princípio da não contradição.
Verdade seja dita, o relativismo gerou a seguinte situação: a maioria das pessoas que têm alguma crença quer uma doutrina que sirva aos seus próprios interesses, em outras palavras, a moda é criar uma religião pessoal. Ou seja, debruça-se sobre um self-service doutrinário servindo-se de tudo que lhe agrada, ainda que sejam itens contraditórios, chegando mesmo a um sincretismo religioso ao unir ingredientes de vários credos. Nesse sentido, aquilo que entra em rota de colisão com seus vícios carnais vai sendo excluído do prato ou nem sequer para o prato vai. O que Cristo disse somente tem validade até onde a pessoa concorda; e quando não concorda, as reações são verbalizadas, geralmente, por meio das seguintes advertências: – me desculpe mas Jesus não disse isso – ou: – isso é fanatismo, – ou ainda: – a Bíblia está errada, afinal, foi escrita por homens! Pra mim ela é só um livro de histórias!
Pois é, prezado leitor: um mundo caótico – repositório de tantos vícios, maldades de toda espécie, mentiras, vinganças, em que a maioria da população vive olhando para o seu próprio umbigo sem qualquer compromisso com o Evangelho e de evangelizar aqueles que ainda não conhecem a Deus – arvora-se na condição de julgar o padrão moral do Criador, cujas palavras só trazem mudanças positivas a todos aqueles que, verdadeiramente, as seguem.
Realmente, era só o que faltava.
É por isso que a voz do povo não pode ser a voz de Deus, afinal, não é demais lembrar que o mesmo povo que saudou Jesus como Rei, volitado ramos de oliveira com as mãos, também gritou: – Solte Barrabás e crucifiquem a Jesus! Aliás, em se tratando de povo, já dizia o poeta Augusto dos Anjos: “ (…) a mão que afaga é a mesma que apedreja (…)”.