Inundações, alagamentos, deslizamentos de encosta, falta de água potável e de alimentos, mortes, danos pessoais e governamentais. As tragédias citadas podem ser tonar frequentes na região metropolitana do Rio de Janeiro. É o que mostra o estudo Vulnerabilidades das Megacidades às Mudanças Climáticas: Rio de Janeiro, feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Universidade de Campinas (Unicamp). A pesquisa, dividida em 13 temas, foi divulgada hoje (7), na prefeitura do Rio.
As projeções, do levantamento que reuniu também 29 colaboradores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Fiocruz, do Instituto Pereira Passos e da Fundação GeoRio, são de elevação da temperatura máxima anual e da ocorrência de dias e noites mais quentes, além do aumento da duração das ondas de calor. A média da temperatura máxima deve passar dos 35,5 graus Celsius (°C) – entre 2011 e 2040 – para 38,6 °C, de 2071 a 2099.
Praias como as do Leblon podem desaparecer nos próximos cem anos, e o mar, destruir calçadas e ruas na orla carioca, causando danos à infraestrutura de saneamento, como tubulações de esgoto. Populações inteiras que hoje vivem às margens das lagoas e baías do Rio e municípios da região metropolitana teriam de ser removidas. Enchentes como as que ocorreram na região serrana do Rio, em Niterói e nos morros da cidade do Rio devem se tornar cada vez mais frequentes.
O economista Sergio Besserman, um dos coordenadores do projeto, disse que é necessário desde já se planejar para enfrentar essas alterações. “Prevenir-se, neste caso, significa salvar vidas e patrimônios. A sociedade tem que cobrar, e as autoridades e a iniciativa privada têm que dialogar e se articular para investir na manutenção de manguezais e adaptação às mudanças climáticas. A adoção de sistema de alerta, plano de contingência, por exemplo, são medidas que precisam sair do papel.”
O estudo propõe medidas imediatas como: a criação de bases de dados consistentes, instrumentos de previsão e monitoramento em tempo real, metodologias que permitam aumentar a previsibilidade dos fenômenos e seus efeitos.
Besserman disse que as medidas de prevenção não são baratas, mas que a demora pode ser danosa e mais cara para a sociedade, pois afeta áreas como saúde, economia e meio ambiente. “Muito conhecimento ainda precisa ser produzido. Só para dar um exemplo, não há estudos sobre a Bahia de Sepetiba.”
A região metropolitana do Rio de Janeiro é a maior aglomeração urbana da costa brasileira, com uma população de cerca de 11,5 milhões de habitantes.
A pesquisa mostra um prognóstico desanimador para as bacias dos rios Acari e Joana, localizados na zona norte da cidade, áreas fortemente urbanizadas. A falta de saneamento ambiental adequado e moradias irregulares devem intensificar os pontos críticos de alagamento.
O estudo também prevê o aumento do número de dias e meses por ano mais favoráveis à ocorrência de dengue, além da possibilidade de epidemia de leptospirose – doença causada pela urina de ratos, que se prolifera nas inundações.
Há ainda a possibilidade de salinização de depósitos naturais de água no solo, com perda da qualidade para consumo trazendo problemas para o abastecimento, com aumento na insegurança alimentar.
Outras orientações da pesquisa são: a criação de um plano diretor de drenagem urbana que considere os cenários futuros de mudanças climáticas, planos de contingência, ações integradas e coordenadas envolvendo diferentes escalas e temas e a cooperação e coordenação entre municípios. Por último, o estudo aconselha que a formulação das políticas públicas considere o desenvolvimento urbano, o meio ambiente e a saúde pública como objetos de políticas transversais.