Os serviços da Secretaria Municipal da Assistência Social e Cidadania (Semasc) existem para que as pessoas sejam protagonistas de suas histórias. Para que elas entendam que o valor da vida não pode ser mensurado. Para promover a dignidade. Muitas vezes, para que esse processo se desencadeie, é necessária apenas uma oportunidade. A Casa de Passagem Acolher, mantida pela Semasc, é uma delas.
Uma das pessoas que vivenciaram essa oportunidade é o senhor Cláudio José da Silva, de 57 anos. Ele, que é motorista há quase 40 anos, passou por um momento muito difícil no início de 2017. Acometido pela hanseníase nos membros inferiores, passou alguns meses sem poder trabalhar e se movimentar livremente. Sem casa e nem amigos em Aracaju, Cláudio passou a dormir no Terminal Rodoviário Gov. José Rollemberg Leite, a Rodoviária Nova. Os técnicos do Centro Pop, equipamento vinculado à Semasc, encontraram o caminhoneiro e o encaminharam para a Casa de Passagem Acolher. A partir desse encontro novas pessoas passaram a fazer parte da vida de Cláudio. “Eu acho aqui melhor do que uma família. Fui muito bem atendido, o pessoal é todo maravilhoso. Nunca faltou nada. Estou saindo porque tenho que ir trabalhar e já estou curado. Mas eu gostaria muito de ficar aqui. O pessoal todo é de primeira classe”.
Acolher
A Casa de Passagem acolhe pessoas em situação de rua que não possuem vínculos familiares, condições de autossustento e que precisam de acolhimento institucional para a garantia da sua proteção social. Atualmente, a casa de passagem possui capacidade para realizar 20 acolhimentos sendo que 14 vagas são destinadas aos homens e seis vagas são destinadas às mulheres. Mesmo com o limite de permanência de três meses, que é prorrogado em casos de doença, a coordenadora da Proteção Especial da Semasc, Lorena Lobato, comenta que a Casa atende no limite da capacidade e articulações com o Estado estão acontecendo para a ampliação das instalações. “Estamos tentando firmar um acordo com o governo do Estado para que o número de vagas aumente, porque a nossa necessidade é gritante”. Por isso, a Semasc está em processo de negociação com a Secretaria de Estado da Mulher, da Inclusão e Assistência Social, do Trabalho, dos Direitos Humanos e Juventude (SEIDH) para ampliação de mais 20 vagas junto ao Centro de Apoio ao Migrante.
Rotina
No Acolher há uma rotina pré-estabelecida, com horários para as refeições, limpeza dos dormitórios e horários de abertura e fechamento dos portões. Em caso de descumprimento de alguma das regras por três vezes, o usuário é desligado do equipamento. A coordenadora do equipamento, Fernanda Fraga, explica que esse mecanismo facilita o fortalecimento da convivência social. “Aqui o usuário não pode sair sem avisar, tem que obedecer ao horário de chegada, não pode chegar sob efeito de algum tipo de droga. Ele precisa arcar com a responsabilidade de seus atos e se a pessoa aceita conviver dessa forma, alguns passos para o processo de saída das ruas já são dados”.
Saúde
Para as pessoas que estão com a saúde debilitada, como era o caso de Cláudio, o Consultório na Rua, projeto da Secretaria Municipal de Saúde, é acionado. Os técnicos levam todos os serviços disponíveis em um consultório médico para as ruas de Aracaju, além de realizar os atendimentos nas Casas de Passagem. “Para que a população seja beneficiada é necessário que todos os entes do município ajam. Cada um em seu setor, mas ainda assim de forma conjunta, para que o povo receba de fato um serviço de qualidade”, explicou Lorena, ao destacar a importância do trabalho setorial entre as secretarias do município.
O objetivo é que, assim como o senhor Claudio, que deixou a Casa de Passagem na última semana de abril para iniciar mais uma viagem como caminhoneiro, com carteira assinada por uma transportadora, as pessoas atendidas possam trilhar novos caminhos em suas vidas. Para aqueles que ficaram, o senhor Claúdio fez questão de deixar um recado. “Toda vez que eu estiver aqui em Aracaju eu venho ver o pessoal. Aqui eu tenho amigos que cuidaram de mim em um momento muito difícil da vida. Eu não largo Aracaju do peito nunca mais”, disse emocionado.
