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Carnaval do Penedo

Embora o Carnaval em Penedo já existisse há alguns anos, foi a partir de 1928 que começou a sua memorável comemoração de Grande Folia Carnavalesca, contagiando as ruas da cidade. Manifestava-se, assim, a tradição em suas raízes populares, através dos Blocos de Caretas, Palhaços, Batucadas, do nosso tão famoso Zé Pereira, e dos grandes bailes de máscaras promovidos pelos Clubes Sociais.

A chegada do Rei Momo em nossa cidade causava a maior agitação e correria. As pessoas se aglomeravam no Cais do Porto, à margem do rio, aguardando surgir no céu, o tão esperado hidroavião pousar nas águas do “Velho Chico”, trazendo a Penedo Sua Majestade o Rei Momo, para comandar os quatro dias de reinado carnavalesco.

Com a chegada de Sua Alteza, a multidão entusiasmada escutava o discurso da abertura dos festejos carnavalescos, proferido pelo Rei da Alegria, que o iniciava com as seguintes palavras: “Cidadãos! Quando a pátria dá um berro, todo cidadão é soldado. Talqualmente, camaradas, quando Momo solta um espirro, toda gente perde a cabeça e cai no frevo, qual vitalinas arrenegadas, avançando pra riba de eu…”

Ao término do discurso, o povo aplaudia, abrindo espaço para a passagem do Cortejo Real, em meio a uma chuva de confetes e serpentinas, da alegre multidão que se espalhava na diversidade de fantasias, máscaras, plumas e paetês pelas ruas ornamentadas da nossa cidade.

O itinerário dos desfiles do Carnaval iniciava-se na Praça Jácome Calheiros, descia pelo Rosário Estreito e Rosário Largo, subindo pela Rua da Penha (atual Rua João Pessoa), num alegre e contagiante rodízio da folia. O tão aclamado “Corso” (a carreata), nessa época, desfilava em automóveis de várias marcas: o Ford Bigode, o Cabriolet Sport, o Cupê, o Sedan, o Chevrolet modelo Baratinha, e o inesquecível Coche. Eram veículos ornamentados em grande estilo, que desfilavam pelas ruas com seus foliões, espalhando alegria em meio a batalhas dos lança-perfumes, dos confetes e serpentinas dos blocos de frevo. Divertiam-se até altas horas da madrugada.

Com o passar dos anos, o espaço foi ficando pequeno para tanta festividade. Aos poucos, transferiu-se de uma vez por todas para a Avenida Floriano Peixoto.

Existia o Bola Preta que era o bloco dos casados, e o Bola Branca que era o bloco dos solteiros. À tardinha, em meio a batuques, frevos e algazarras, saiam em visitações pelas residências da cidade. Depois, iam todos para o Penedo Tênis Clube e Filarmônica, onde caíam com muito gosto na grande folia, regida por excelentes orquestras. Participava também a Legião Negra que era o bloco dos mais novos.

Os blocos do Morcego, da Nega Maluca, e tantos outros, desfilavam também em ‘carros abertos’, nas carrocerias de caminhões, que faziam o Corso levando a alegria pelas ruas da cidade. A moçada que por algum motivo ficava de fora de toda essa folia, esperava nas portas de suas casas com mangueiras de água, divertindo-se na tentativa de molhar os participantes desta alegre passeata. Tudo isso durante os quatro dias de carnaval.

Às tardes, os Clubes promoviam interessantes bailes infantis, com direito a prêmio de melhor fantasia.

A tradição também aponta o famoso ‘Boneco de Frevo’ como sendo de origem penedense. Depois é que passou a ser fabricado na cidade de Olinda (ainda pesquiso a veracidade deste curioso fato). Os nossos bonecos mais antigos são: a Boneca do Vá, a Raquel, e a Sulamita. Atualmente temos os Bonecos do Jucilmar, do Xinho, e os Bonecos do Tadeu.

Havia também o desfile das Batucadas Milionários do Samba, Unidos do Bairro, e da Escola de Samba Bloco da Alegria do Barro Vermelho. Nas terças-feiras de carnaval, Penedo recebia as escolas de samba de Carrapicho, hoje Santana do São Francisco.

Durante o dia acontecia o famoso entrudo: batalhas de talco, água, lança-perfumes, confetes e cantorias ao som inebriante das bandinhas de frevo e batuques. Saiam também o arrastão do Zé Pintinha e do Zé Mulher, uma espécie de “Zé Pereira”, onde se dançava pelas ruas jogando talco, maizena, e agitando nas mãos galhinhos das árvores que iam colhendo pelo caminho. Ainda fazia parte deste cortejo, a Cabeça de Mula, a alegoria de um grande Jacaré (que abria e fechava a enorme boca), e também o conhecido Boi que corria atrás e dava marrada em quem aparecia, fazendo assim a festa da criançada que o instigava e escondia-se em meio aos foliões. Durante os dias de carnaval, apareciam pelas ruas da cidade, os famosos Bobos, que se vestiam cobertos da cabeça aos pés, e carregavam um chicote ou cipó, para se defenderem dos que buscavam descobrir a sua identidade secreta. Nos dias de hoje, ainda aparece um ou outro perdido, para a alegria e medo da garotada.

A folia carnavalesca na Av. Floriano Peixoto permaneceu até o ano de 2004, quando o IPHAN achou por bem, que os festejos do carnaval fossem transferidos para outra localidade que não apresentasse riscos de abalo nas estruturas dos monumentos históricos do local, devido à elevada altura do som produzida pelos trio-elétricos. Nessa época, a moçada já abraçava com muito afinco o “Swing Baiano” mais conhecido como “Axé Music”. A Folia do Frevo foi caindo no esquecimento da juventude penedense, que passou a preferir a Folia dos “Trio-Elétricos”.

Vale lembrar, que na primeira gestão do nosso atual prefeito, a Secretaria de Cultura se empenhou em resgatar algumas de nossas mais antigas tradições: A Lavagem do Adro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que data bem mais de trezentos anos. E assim, em 2005, pela primeira vez depois de tantos anos, o Cortejo da Lavagem com suas baianas, flores, batuques e cantorias, reabrem o cenário cerimonial da cultura afro-penedense. Após o término da Lavagem, as baianas se retiram, deixando o antigo espaço nas Ruas do Rosário para a retomada da apoteótica chegada do Rei Momo e de toda a sua comitiva, dando inicio a abertura da folia do Carnaval Penedense.