Ainda bem que a arte tomou conta do futebol paulista e quiçá, também, do futebol brasileiro. Numa decisão muito quente, em todos os sentidos, com cerca de quatro expulsões, o time mais fantástico dos últimos anos confirmou o título a que se candidatava a cada goleada, cada gol bonito, cada jogada de rara beleza plástica, lances esses que nortearam as atuações do Santos desde o início do Paulistão, quase quatro meses atrás.
O Santos du Soleil de Neymar, Paulo Henrique Ganso, Robinho e companhia se eterniza. As mais diversas enciclopédias futebolísticas daqui para a frente lembrarão sempre de uma equipe capaz de aliar espetáculo a resultado, mesmo que ontem tenha perdido: 3 a 2 para o ótimo Santo André, em final emocionante, épica, inesquecível . Os santistas jogavam por derrota de até um gol de diferença para levantar a taça. Essa vantagem foi adquirida pelo fato do Santos de hoje, ser um time extremamente ofensivo, que sempre joga procurando vencer por um maior número de gols a seu favor. Que fique esse belo exemplo para o bem do futebol brasileiro.
Aliando técnica, malandragem, e aquele espírito moleque, os fantásticos Meninos da Vila tiveram de mostrar ontem que também sabem se superar em condições adversas. O time teve três jogadores expulsos (Léo, Marquinhos e Roberto Brum), justamente os mais experientes, esteve atrás no placar por quase toda a partida, mas, mostrando maturidade, se aproveitou da vantagem conquistada durante todo o campeonato para confirmar o título e fazer a festa dos mais de 35 mil pagantes no Pacaembu.
A cautela no sistema tático do técnico Dorival Júnior, no entanto, não se confirmou no espírito dos jogadores santistas. Os garotos santistas começaram o jogo desligados e tomaram um susto no primeiro minuto: gol do Santo André. Cicinho driblou Felipe, cruzou e Nunes marcou. A torcida do Santos imediatamente calou-se, interrompeu a festa que fazia desde antes do apito inicial. Era um aviso sobre o teste cardíaco a que se submeteriam todos os santistas.
Logo em seguida, aos 7m, o velho Pacaembu voltaria a se incendiar. A arte entrou em campo pela primeira vez. Robinho passou de letra para Neymar que driblou três rivais para marcar o gol de empate. Lindo, lindo, lindo, diria o saudoso José Geraldo de Almeida. O troféu não podia mesmo deixar de ir para a Vila Belmiro. Mas o brilhante Santo André não estava disposto a aceitar o papel de mero coadjuvante. Primeiro, foi prejudicado, pois teve um gol mal anulado por impedimento de Carlinhos que só a auxiliar Maria Eliza Barbosa viu. Alê, porém, compensou, com gol de cabeça após jogada de escanteio aos 19 minutos.
Um jogo que valia tanto, não podia acabar sem conflito. Houve muita discussão em torno das insistentes quedas de Neymar e companhia. Os santistas tentavam cavar faltas, diziam os jogadores do Santo André. Os “maduros” Léo e Nunes discutiram feio e foram mandados embora do campo pelo contestado juiz Sálvio Spinola.
Com as expulsões, os espaços aumentaram e os talentos continuaram a brilhar. Número de jogadores igual, placar também, pois Neymar aproveitou toque mágico de Ganso de calcanhar e marcou outro belo gol. Os antistas só não contavam que outro experiente jogador, Marquinhos, pusesse quase tudo a perder na sequência com uma entrada maldosa em Branquinho e a expulsão. Minutos depois, o próprio meia do Santo André desempataria a decisão.
Só que, se a emoção tomou conta do primeiro tempo com a alternância no placar, jogadas ríspidas e inúmeras expulsões, a segunda etapa foi mais estudada. Exceção feita à jogada estúpida do também “rodado” Roberto Brum, que resultou em outro merecido cartão vermelho. Nem as expulsões e as oportunidades que o Santo André teve, inclusive com uma incrível bola na trave já nos acréscimos, poderiam tirar o título do Santos. Apesar do drama. “Estamos prontos para voos mais altos”, diz Dorival Júnior, ciente que seu grupo, apesar de jovem, demonstrou maturidade suficiente para sair em busca de conquistas maiores. Tudo isso para o bem do futebol brasileiro.