×

Artigos

Câmaras de Vereadores: Nababescos Zoológicos

Nunca devemos fazer generalizações, descuidando-nos de ressalvar as exceções, embora, relativamente ao titulo acima, seja difícil observá-las. Será que se justificam, nas três esferas do legislativo, especialmente nos das cidades de pequeno e médio porte, orçamentos tão elevados, desproporcionais as suas realizações? Nós, pessoalmente, não conhecemos farra mais irresponsável e desregrada de se gastar o dinheiro público. É um fato que alimenta a nossa descrença, quase absoluta, na seriedade dos nossos legisladores que, legislando em causa própria, ignoram o dever implícito de trabalhar em prol da sociedade. Perdem cada vez mais a credibilidade e perde a área social tão carente de recursos financeiros.

Diante dessa estúpida realidade, ficamos constantemente a matutar sobre a natureza humana. As ações do homem, na sua maioria, são orientadas pelo racional ou pelo emocional e o instinto animal? Pelo coletivo ou pelo interesse pessoal? Sentimos uma sensação de que o raciocínio lógico, pela preguiça mental de considerável parcela das pessoas, está sendo gradativamente alijada da espécie humana. Enquanto uma pequena e privilegiada elite o emprega, a manada, como tal, animaliza-se. Lembramo-nos muito bem do nosso susto, quando fazíamos o primeiro grau, ouvir o professor dizer que o homem era um animal.

Se o homem pensa, como pode ser um animal! Não entendíamos. Não nos dávamos conta que excetuada a faculdade de pensar, o homem em suas funções orgânicas, em nada mais difere dos demais animais. A triste realidade é que comemos, bebemos e sentamos o nosso trazeiro no vaso sanitário. Não fosse isso um irônico capricho da criação, o homem estaria mais para um semideus do que para um animal. Infelizmente, carregando dentro de si, simultaneamente, o sublime pensamento com o incompatível e repulsivo depósito de fezes, não passa, com uma grande dose de comicidade, de um cagão racional.

Como estamos a fazer considerações sobre a impiedosa selva legislativa, não podemos deixar de nos referir ao seu rei, o Congresso Nacional, que num rompante de inspiração merdífica e leonina achou por bem, através da Emenda Constitucional nº 58/2009, permitir o aumento do número de vereadores. Qual a finalidade dessa aberração? É válida, como defesa, a alegação de que não haverá ônus porque não será permitido o repasse de recursos financeiros para compensar as perdas? Pura balela. Dentro de poucos anos, procurarão os sofridos pelo ócio a recuperação do que perderam. A conclusão a se tirar dessa insanidade é que os nossos conscienciosos congressistas, narcisistas e egocêntricos com o alcance da visão no limite do próprio umbigo, chegaram à conclusão que têm o direito de aumentar suas bases eleitorais, ampliando o número de vereadores que na sua maioria não faz jus a um centavo pelo que nada que faz. Tem isso alguma importância?

Por outro lado, quem foi que disse que quantidade é sinônimo de qualidade? Muito pelo contrário, pois, é exatamente na quantidade que prolifera toda a ralé. As câmaras de vereadores pelo imenso Brasil, aconchegantes camas, são em grande parte um verdadeiro palco para o teatro de comédia. Entre os poucos que se sobressaem, predominam os Zé Mané que sequer conhecem seus deveres funcionais. Ignorando todos esses fatos, o Congresso Nacional, como se também estivesse preocupado com o desemprego, achou que o melhor caminho era aumentar o número de vagas para alguns ociosos que passarão a condição privilegiada de ociosos remunerados. Foi uma decisão lamentável e irresponsável. Quem não gostaria de ser vereador para ter o privilégio de mamar tranquila e suavemente nas tetas das vaquinhas do município? E se a função não fosse remunerada, como acontece nos países nórdicos, quantos se candidatariam? Haveria candidato, sim, mas não nos números atuais. Teríamos duas vantagens: eleições limpas, sem a compra de votos e a melhor qualidade dos candidatos.

Vamos agora ao terreiro penedense. Não podíamos finalizar o presente, sem deixar de informar o eleitor da nossa cidade a respeito do montante do repasse do executivo para a câmara de vereadores e a sua destinação. Não sabíamos e ficamos ingenuamente boquiabertos. Não são informações obtidas na fonte, podendo haver pequenas incorreções.
Devemos confessar, desde já, que lágrimas vieram aos nossos olhos ao sabermos do miserê dos penitentes edis, tendo em vista seus vencimentos, praticamente simbólicos, frente a um trabalho estafante e desumano. São despojados e indiferentes ao vil metal.

Você sabia que o executivo repasse para câmara de vereadores 7% da arrecadação mensal? Que esse percentual atinge uma média de duzentos mil reais? Que um vereador, por uma sessão semanal, embolsa três mil e oitocentos reais? Que cada um tem direito a dois assessores? Que cada um destes percebe mil reais por mês? Que a verba de gabinete de cada vereador é de oito mil reais? O que você acha de tudo isso? Com toda essa miséria, você gostaria de ser vereador? Quem não gostaria de usufruir tamanha indigência! O repasse do executivo é exorbitante, convenhamos. Em troca de quê? Não se justifica gastar tanto por tão pouco. Penedo, em termos de Alagoas, é uma cidade de porte médio, sem complexidade de problemas, razão porque os nobres vereadores, sem prejuízo de suas atividades habituais, realizam uma sessão semanal, nem sempre com uma pauta de votação. Como sofrem nossos Edis!

O mais curioso é que não obstante o desumano trabalho que desempenham, felizmente tem uma saúde de ferro, pois, do contrário já teriam contraído a ociotite, doença degenerativa adquirida pela crônica inércia. Para ajudá-los a nada fazer, cada um tem direito a dois assessores. Você pensa que isso é uma piada? Não é. Apesar de ter tudo para ser a mais engraçada e desgraçada piada, tão nociva aos interesses da sociedade penedense. Uma outra curiosidade que nos chama a atenção é como os nobres vereadores conseguem justificar os gastos com a preciosa verba de gabinete. Qual é a mágica? Obedecem a linha reta ou preferem as sinuosidades? Em resumo, caro leitor, chegamos à conclusão que um vereador custa ao combalido cofre do município a bagatela de treze mil e oitocentos reais. Como se gasta inutilmente neste Brasil! Quem gostaria de perder ou ver reduzida essa mamata?

Eis porque, há algumas semanas atrás, alguns vereadores, em vez de aplaudir e parabenizar o Jorginho Seixas por ocasião de sua posse relâmpago, ao que parece amparada na Lei Orgânica do Município, com qualidades para engrandecer a câmara, preferiram se insurgir contra a mesma. Esse deselegante incidente, que não teve outro objetivo senão defender interesse dos vociferantes opositores, não da câmara, lembrou-nos cenas do mundo animal.

Como é fascinante assistirmos aos documentários do mundo animal e vermos cada espécie a utilizar sua estratégia de sobrevivência. Uma das mais curiosas, comum a muitos, é a demarcação territorial pela urina. Não se permite que outros competidores o adentrem. O nosso legislativo, em parte, procedeu de forma animalescamente territorialista. Achamos que cada um de nós exibe comportamento semelhante a determinado animal. Perdida no mundo da paz, a pomba, isolada, assiste entre outros comportamentos, a ferocidade leonina e a voracidade dos abutres. Não sabemos se você tem o mesmo gosto que o nosso em achar a visita ao zoológico como um dos mais divertidos passatempo. Vá e visite, de graça, o nosso legiferante zoológico. Um lembrete: seja amistoso e não entre em competição no território dos mesmos.