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Cães de guerra e amestrados em nome de Deus

Além do visível mercantilismo, as religiões, em parte, são um meio para se fazer as transações de interesse de alguns aqui na terra e, para outros, um caminho para alcançar as promessas de uma ficção celestial. Face à característica ilusória de suas pregações à acenarem para as mais belas e irracionais esperanças, servem-se dessa utopia para, com frequência, locupletarem-se às custas da ingenuidade do rebanho.

Não podemos afirmar que a fé religiosa é um sentimento instintivo, pois, embora possa parecer por abarcar considerável parte da população, não consegue despertar como uma necessidade da humanidade como um todo.

Arredias ao racional, falam do pecado, sua remissão e não fazem outra coisa senão cair na tentação dos mais graves pecados, vítimas das naturais contradições e fraquezas humanas. Em razão dessa dura realidade, ficando patente o divórcio entre a teoria e a prática, não podemos nos convencer da eficácia das boas ações que propaga, pois, se tivermos de fazer uma avaliação entre o bem e o mal, não sabemos para que lado penda a balança.

Com relação a igreja católica, um de seus primeiros erros, como inútil sacrifício de vidas, foram as cruzadas, imaginando ser de grande importância retomar dos mulçumanos a terra santa, considerado solo sagrado do cristianismo, como se esse gesto servisse para torná-la mais pura e autêntica. Pura irracionalidade! Os soldados, conhecidos como templários que conseguiram formar um grande patrimônio, misturando o divino e o material, foram os primeiros cães de guerra em nome de Deus. Em seguida, na idade média, tivemos a barbárie da inquisição. Os inquisidores de batina foram os mais cruéis e desalmados cães mandatários de Deus, como acreditavam. Existe algum traço divino nesse comportamento monstruoso? Qual a conclusão que podemos tirar de tudo isso? É que as religiões, sem menor dúvida, são produtos da criação humana. Pregando virtudes e santidade, carregam inevitavelmente, escravas das naturais contradições , as transgressões e os mais abomináveis crimes. O passado que nos revela a história e o presente que nos informam os meios de comunicação, não deixam dúvida a respeito.

Do outro lado, dentro do islamismo, assistimos, incrédulos e horrorizados, o tribalismo medieval de alguns grupos que retornando dois mil anos na história, ainda acham que deve impor pela força a fé e o cumprimento rígido dos costumes. O fanatismo, vemos pela televisão, protagoniza inimagináveis cenas de brutalidade que demonstram total desprezo e indiferença pela vida humana. Como não possuem a faculdade de pensar, não conseguem entender que um Deus sanguinário não preenche a aspiração do homem, pois, além de mostrá-lo como uma divindade selvagem, demonstra-o também impotente, necessitando de soldados terrenos pera defenderem seus pretensos interesses na terra.

Na antiguidade, com um entendimento mais evoluído, os romanos diziam que somente os deuses devem ocupar – se das ofensas feitas aos deuses. Deus não necessita de procuradores. Não pensa assim o fanático que imagina um Deus antropomórfico, com defeitos e virtudes humanas. Se Deus admite o livro arbítrio, cada qual tem o direito de expressar – se a seu respeito como bem entender. Por outro lado, se existe no céu um julgamento das ações humanas, cabe somente a ele julgar. Não cabe aos cães de guerra tomar – lhe a prerrogativa.

Contrariamente à matilha selvagem, temos na atualidade cães amestrados para, carinhosamente, pastorear o rebanho. Sobressaem – se nessa lida grande parte das chamadas igrejas evangélicas. Alguns de seus pastores, treinados para sugar o leite do seu rebanho, prometem o céu como recompensa. Cínicos aproveitadores da ingenuidade, transformam–se em novos capitalistas da fé, como se tivessem a aquiescência da graça divina. O povão está mais próximo do animal irracional do que do homem que pensa. A sua cega ingenuidade dá origem a mais preciosa mina, de produção inesgotável para se ganhar dinheiro sem fazer força e sem sofrer riscos contra a vida. Eis o traço sinistro das religiões, quer no passado, presente e, sem dúvida, no futuro.

Enfim, para onde caminham as religiões, frente à ciência cada vez mais crescente em seus conhecimentos? Sempre em expansão? Achamos que sim, o que é bom para seus predadores, especialmente para seus cães amestrados. Povo não pensa, pede, sente necessidade acima de tudo. “Se casualmente pensa, faz pela metade”, como dizia Voltaire. Numa opinião mais radical, afirmava Bertrand Russel, filósofo inglês, que se fosse possível ensinar lógica ao povo para aprender a pensar, fatalmente pensaria errado.

Assim, as religiões serão sempre um celeiro, quer de cães de guerra, especialmente entre alguns extremistas muçulmanos que morrem e matam indiscriminadamente em nome de Deus, acreditando que serão recompensados após a morte com um harém de bela mulheres, quer de cães amestrados, bem mais inteligentes e que em vez de acreditarem nas benesses do além, preferirem usufrui – las aqui na terra, fazendo acreditar ao rebanho que gozarão as delícias do eden, o maravilhoso impossível.