O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair defendeu o álcool de cana na reunião de parlamentares do G8+5 (as oito maiores potências do mundo e os cinco grandes países emergentes, entre eles o Brasil), que trata de aquecimento global, em Tóquio. E opinou que, apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrar seu esforço em proteger a Amazônia, o aumento do desmatamento indica que o Brasil precisa da ajuda de outros países no combate à destruição da floresta.
A fala de Blair ocorreu no mesmo dia em que o fórum parlamentar fechou um documento de recomendações aos líderes do G8+5 pedindo mecanismos de mercado para as emissões de CO2 evitadas pela floresta em pé. O Brasil é contra tais mecanismos, tendo criado um fundo voluntário para que nações ricas recompensem o país pela redução no desmate –o Fundo Amazônia.
Questionado pela Folha sobre o aumento do desmatamento na Amazônia nos últimos meses, ele respondeu que “o presidente Lula está mostrando liderança nessa questão, mas é importante que a comunidade internacional dê apoio ao Brasil para conter a devastação da floresta”.
O ex-premiê, que virou uma espécie de lobista do tema mudança climática, entregou na sexta-feira um documento ao premiê japonês, Yasuo Fukuda, sugerindo como avançar nas negociações do regime de combate ao aquecimento global após 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto.
Em seu discurso ontem, ele ressaltou que, como o desmatamento representa 20% das emissões globais, são necessários fundos e programas específicos para tratar a questão.
O documento de consenso dos parlamentares do G8+5 cita as ações contra o desmatamento como “essenciais” nos acordos pós-Kyoto.
Segundo o documento, os países com florestas tropicais têm muito a ganhar dos potenciais mecanismos de mercado que transfiram fundos pela manutenção da floresta em pé.
“Tais mecanismos de mercado devem ser uma parte de uma abordagem mais ampla para o desenvolvimento de um pagamento por serviços de ecossistema”, diz o relatório.
O material de consenso será entregue hoje a Fukuda, para ser levado à reunião do G8 em Hokkaido no próximo dia 7. Segundo participantes ouvidos pela reportagem, a discussão sobre os biocombustíveis ainda não é considerada madura o suficiente para integrar um documento desse tipo.
Como metas de longo prazo, os parlamentares concordam em redução de emissões entre 25% e 40% (em relação a 1990) até 2020 e de ao menos 60% a 80% de redução até 2050. “Metas duras criam demanda no mercado de carbono, promovendo incentivo para inovação e investimento em fontes de energia com baixa produção de carbono”, diz o texto.
Certificação
Os parlamentares do G8+5 têm grupos de trabalhos sobre biocombustíveis, desmatamento ilegal, eficiência, adaptação, e tecnologia.
O grupo de biocombustíveis, liderado pelo deputado brasileiro Antonio Palocci, propõe a criação de uma certificação única. A certificação deveria levar em conta todo o ciclo de redução de emissão de CO2 comparado com os combustíveis fósseis. Outro item seria não usar terra com florestas e “grande biodiversidade” para a produção de biocombustíveis.
Recomenda-se também a revisão de subsídios no setor. Otaviano Canuto, vice-presidente para países do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), afirma que o banco iniciará um projeto-piloto com a criação de critérios de certificação do etanol da cana.
Depois, o modelo poderá ser seguido para outros tipos de biocombustíveis. De forma genérica, os parlamentares sugerem que os países do G8 desenvolvam opções de financiamento do manejo de florestas baseado no pagamento de serviços florestais.