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Esporte

Brasil perde para a Argentina no basquete masculino

Argentinos fazem a festa na Arena Carioca 1

A Arena Carioca 1 nunca esteve menos brasileira do que no fim da tarde deste sábado (13.8). Depois que Manu Ginóbili converteu dois lances livres e ergueu os dois punhos fechados em comemoração, a festa nas arquibancadas foi toda em castelhano. Enquanto as pessoas de verde e amarelo se dirigiam cabisbaixas para fora do ginásio, os argentinos pulavam e cantavam para celebrar a vitória por 111 x 107 pela primeira fase dos Jogos Rio 2016.

Como todo clássico entre Brasil e Argentina, o jogo deste sábado não deixou nada a desejar em termos de emoção. Até exagerou. Sobrou drama dentro de quadra, principalmente para os brasileiros. Foram duas prorrogações e duas situações relativamente confortáveis para o time da casa administrar. Mas a vantagem duramente construída ruiu em arremessos fantásticos dos inspirados adversários, comandados pelo armador Facundo Campazzo e pelo ala-pivô Andres Nocioni, responsáveis por impressionantes 70 dos 111 pontos da Argentina.

Faltando dois minutos e vinte oito segundos para o fim do último quarto, o Brasil vencia por 83 x 77. Com cinco pontos seguidos de Campazzo, os argentinos encostaram: 83 x 82. Marcelinho Huertas converteu dois lances livres e deixou o Brasil novamente com três pontos de folga: 85 x 82. Os argentinos tinham a bola e 21 segundos para empatar o duelo com um tiro de três. Ginóbili tentou e errou, mas Campazzo ganhou o rebote no meio do garrafão lotado, do alto de seus 1,79m, e passou para Nocioni, que aguardava no canto, matar a bola de três.

A primeira prorrogação teve o mesmo roteiro. Parecia até ensaiado. Uma bola de três de Alex colocou o Brasil com os mesmos seis pontos de vantagem: 94 x 88. Novamente os argentinos tiveram que correr atrás. E correram. Como? Com uma bandeja de Campazzo e mais um dos oito tiros de três convertidos por Nocioni no confronto. Novamente Campazzo deixou tudo igual em 95 nos segundos finais. Desta vez, a Argentina ainda teve a última bola, mas o arremesso de Ginóbili bateu no aro e saiu.

Veio a segunda prorrogação e os papeis se inverteram. Com duas bolas de três de Campazzo e uma bandeja de Garino, a Argentina abriu oito pontos de vantagem rapidamente. Agora era o Brasil que precisava correr atrás. Também conseguiu. Leandrinho, que estava zerado no jogo, voltou à quadra e liderou a reação. Foram nove pontos seguidos do ala-armador que deixaram o jogo em 106 x 105 para os hermanos. O jogo foi para a decisão nos lances livres. Campazzo acertou três de quatro, Leandrinho fez dois: 109 x 107. Aí o Brasil cometeu mais um erro fatal na partida. Depois que Carlos Delfino errou dois lances livres faltando três segundos para o fim, Alex e Marquinhos perderam o rebote para Ginóbili, que sofreu a falta e não desperdiçou a chance, fechando o placar e selando a dolorosa derrota brasileira.

Erros determinantes

Um dos mais experientes do grupo, Alex assumiu a responsabilidade por dois lances capitais da partida: o rebote de Campazzo que gerou a bola de três de Nocioni no quarto quarto e o rebote de Ginóbili após lance livre errado de Delfino.

“No lance do Nocioni, o Guilherme estava de costas, tentou fazer a falta e acabou não conseguindo chegar. Mas o erro não foi esse, foi no rebote. Estávamos eu e ele no lance, a bola estava mais para mim e acabei não pegando. Depois, nos dois lances livres do Delfino, foi uma falta de atenção minha e do Marquinhos. Mas como eu estava na parte de baixo, foi totalmente minha”, comentou.

O técnico Rubén Magnano teve discurso parecido após a partida, dizendo que os jogadores fazem dentro de quadra o que ele pede. No entanto, o treinador apontou outros fatores como determinantes para as derrotas da equipe no Rio 2016.

“Quantos atletas nossos estiveram envolvidos em jogos decisivos e tiveram experiência internacional em competições desse tipo? Quantos jogadores temos decisivos em suas equipes?”, questionou o treinador. “São jogadores que têm papeis específicos em seus times e que na seleção têm que passar a ser determinantes. Tenho que mudar esse chip em 30 dias e trabalhar para que eles produzam tudo que precisamos. Tentamos”, declarou Magnano.

O treinador, no entanto, também elogiou os argentinos, que foram seus comandados na histórica campanha do ouro olímpico em Atenas 2004. “A gente encontrou uma equipe com um percentual muito alto nas bolas de três pontos e um Campazzo que jogou muito”, destacou Magnano, referindo-se ao armador e às 17 bolas de três dos argentinos. “Não podemos tirar o mérito. Estivemos competitivos por praticamente 50 minutos, infelizmente não conseguimos ficar com a vitória.”

“Não sei o que aconteceu”

Cestinha da partida com 37 pontos, sendo 24 deles em bolas de três, o ala-pivô Andres Nocioni elegeu o jogo deste sábado como um dos melhores de sua carreira. Aos 36 anos, o camisa 13 sequer soube explicar o desempenho contra o Brasil.

“Em termos de números foi um dos melhores jogos da minha vida. Foi incrível. Acho que nunca fiz tantos pontos. Não sei o que aconteceu”, admitiu Nocioni. “Foi uma luta incrível, duas grandes equipes. Me sinto muito orgulhoso de ambas. A verdade é que o Brasil fez um grande trabalho. Temos que parabenizá-los. Realmente deixaram tudo em quadra. Mas o esporte é assim”, acrescentou.

Situação complicada

Com a vitória, a Argentina não só assegurou a vaga nas quartas de final como complicou a vida do Brasil na sequência dos Jogos Olímpicos. Além de ter que vencer a Nigéria na última partida do Grupo B, na segunda-feira (15.8), às 14h15, o Brasil tem que contar com pelo menos uma derrota da Espanha para se classificar.

Caso o Brasil vença os nigerianos e os espanhóis percam para Lituânia, ainda neste sábado, ou Argentina, também na segunda-feira, a equipe da casa se classifica na quarta e última posição. Caso a vaga venha, no entanto, os brasileiros provavelmente enfrentariam os Estados Unidos nas quartas de final, time amplamente favorito à medalha de ouro.

“Ainda não tem nada perdido. Infelizmente dependemos de outros resultados, mas vamos manter a mesma pegada, a mesma forma de jogar. Eu acredito, como diz a torcida, nós acreditamos”, afirmou o pivô Nenê, autor de 24 pontos e 11 rebotes na partida.