×

Artigos

Brasil Honesto X Brasil Corrupto: Qual é o maior?

Tem sentido a interrogação acima? Não, assim pensam muitos. Nós, pessoalmente, achamos que procede. É tamanho o descalabro da integridade moral em todos os níveis e de forma tão generalizada que não chega a incidir em excesso a indagação acima. É preciso apenas que se veja pelos dois lados, prático e teórico, a respeito da nossa probidade. Vamos imaginar uma pesquisa nacional a respeito do título acima. Qual seria o placar? Naturalmente que predominaria, disparado, o Brasil Honesto. Isso porque, temos de admitir, até a imensa procissão dos corruptos engrossaram nesse sentido a votação. Todos admiramos a honestidade. Ninguém quer ser reconhecido como gatuno, mesmo o sendo de carteirinha. E o que é mais cômico, vemos corruptos, com frequência, condenando a corrupção. Por outro lado, temos de convir, um forte contingente dos que se acham e se declaram honestos, não passam, no íntimo, larápios que não tiveram a oportunidade de furtar.

Todo esse pessimismo que nos acompanha tem um sólido fundamento na imundície do presente que resulta do passado da nossa história. Quanto ao futuro, é nebulosa a nossa esperança e otimismo para melhor. Somos, desde o nascimento, um país órfão de boas instituições, molas mestras para o desenvolvimento, no mais amplo aspecto, de uma nação. Quem nos colonizou? Portugal, órfão das referidas instituições. Com essa nudez, como poderia nos dar a formação moral? Empunhando a bandeira do Cristianismo de uma forma retrógrada, sem uma visão desenvolvimentista apoiada numa forte base, como procediam os ingleses, os portugueses se contentavam tão-só com o lucro fácil e rápido através do saque das nossas riquezas, sem o desejo de aqui permanecer. Para reforçar a convicção sobre a importância das boas instituições, vejamos a diferença entre os países colonizados pela Inglaterra e Portugal e Espanha. É enorme a diferença. Atentemos ainda para Alemanha, França e Itália, destroçados na segunda guerra mundial. Foi relativamente rápido o reerguimento. Em sentido contrário, como estaria o Brasil, sem um forte apreço pelo trabalho, responsabilidade, honestidade, respeito à liberdade, entre outros? Respondam.

Como estamos a falar sobre honestidade, achamos oportuno, a título de uma pequena amostragem da índole pátria a respeito, de um fato ocorrido em uma faculdade de Direito. O professor pergunta quem gostaria de ser prefeito para fazer um pé-de-meia. Unanimidade geral. Não bastasse, um dos alunos que estva no exercício de vereador, fez questão de ser explícito e enfático: tem que roubar mesmo! Essa cena retrata, não obstante entre um punhado de alunos, o desprezo que lhe emprestamos. Não seriam ainda muito jovens esses alunos para se sentirem influenciados pelas vantagens da corrupção? Não seria normal que essa queda precoce fosse antecedida pelos protestos a favor da honestidade? É o caminho natural.

Encanta-se na juventude para depois desencantar-se. A propósito, muitas vezes em nossas divagações ficamos a imaginar se fosse possível ver o Congresso Nacional dentro do túnel do tempo e fazê-lo retornar no tempo. O que veríamos? Jovens senadores e deputados em desfiles pelas ruas a condenar os desmandos do país, em especial a espumarem de revolta contra a corrupção. Voltando à presente realidade, nos perguntamos: o que fizeram com os belos ideais? Simplesmente sucumbiram às tentações de uma tradicional atmosfera carregada das nuvens negras da corrupção, das duas casas do Legislativo. Acontece que a rapinagem não é apanágio exclusivo do Legislativo. A nossa trindade terrena, que nada tem de sagrada, participa da mesma farra com dinheiro público.

Somos de uma pobreza ética a tal ponto que não nos damos conta do ridículo quando fazemos alarde, como se fosse coisa do outro mundo, de uma inesperada demonstração de honestidade. Vamos citar o casal de mendigos que encontrou vinte mil reais e os devolveu ao dono. Foi manchete nos meios de comunicação. Ora, devolver o que não nos pertence é a coisa mais natural e assim deveríamos encarar. No Japão, por exemplo, onde está enraizada a honestidade, tal ocorrência certamente não seria objeto do noticiário. Vivemos um paradoxo de convivência com a honestidade, isto é, quanto mais a admiramos, menos a praticamos, dando-nos a impressão de se tratar apenas de uma musa a nos inspirar um ideal impossível, apesar disso não nos deixa de causar admiração a nossa posição no cenário econômico, entre as dez maiores economias. Já pensaram como seríamos ainda maiores se não fôssemos eticamente aleijados? De qualquer maneira é um milagre. Ah, não vamos nos esquecer de que Deus é brasileiro! Sim, brasileiro de nascimento, não de coração, pois, se assim fosse, já teria se apiedado e reduzido drasticamente o rebanho de gatunos. Paciência! Só nos resta esperar, apesar de toda desilusão, que caia sobre nós o milagre.

 Enquanto essa graça divina não acontece concluamos a nossa pesquisa. Vamos por a bola em jogo. Façam as apostas. Foi iniciada a partida. Os jogadores do Brasil Honesto não tem jogo de cintura e demonstram ares de ingenuidade. Tomam dribles vergonhosos. As vaias são ensurdecedoras. A torcida adversária não esperava ser brindada com tamanha comédia. É dado o apito final. O Brasil Honesto perde com uma humilhante goleada e deixa cabisbaixo o estádio e pela primeira vez, como diria Rui Barbosa, sentiu vergonha de ser honesto.