Na Câmara de Piaçabuçu, a política deixou de ser apenas uma prática administrativa para se tornar um espetáculo com roteiro próprio, recheado de encontros estratégicos, almoços intermináveis e promessas tão saborosas quanto uma peixada na beira do Rio. É uma peça digna de plateia lotada, com atuações que oscilam entre o drama e a comédia.
Os almoços, aliás, parecem ser o novo plenário. É em torno das mesas fartas – regadas a suco de manga muito saboroso por sinal e arroz de coco– que as alianças são desenhadas e as traições arquitetadas. Entre uma garfada e outra, cada vereador vai testando o terreno, jurando lealdade hoje e ensaiando um voto contrário amanhã. Dizem que até o cardápio faz parte da estratégia: quanto maior o peixe, maior a promessa que será feita.
A cada encontro, os opositores órfãos de Antonino e Kayro Castro entram e saem como quem tenta ganhar terreno, mas acabam sempre com as migalhas deixadas pelos veteranos da casa de leis. Já os da base governista, experientes nesse jogo, sabem que é nos detalhes que se vence: uma sobremesa caprichada aqui, um “deixa comigo” ali, e a conta da mesa se transforma em mais pressão sobre o prefeito Rymes Lessa.
Entre discursos engolidos e alianças feitas à sobremesa, a pergunta que fica é: quem sairá mais alimentado dessas reuniões? E quem, ao final, acabará com a indigestão política? Enquanto isso, o povo assiste de longe, imaginando se as decisões que afetam Piaçabuçu realmente são tomadas no plenário ou na mesa daquele restaurante com a bela vista para o rio.
Na saga dos vereadores de Piaçabuçu, a política virou um banquete – e, como em todo grande banquete, sempre sobra prato quebrado para alguém recolher.