O brilhante intelectual penedense Carlos Hora, grande artista plástico e querido professor de inglês de várias gerações assumia o cargo de Secretário Municipal de Cultura quando surgiu a idéia de inovar nas comemorações do aniversário de Penedo com a utilização do famoso canhão da praça da Prefeitura.
Durante os preparativos do evento, com a imagem do cano do inofensivo artefato bélico apontando para o caudaloso rio São Francisco, a visão de um tiro deflagrado no momento mais solene da festa que homenageava inúmeras personalidades, pareceu algo espetacular.
Chamou-se então um especialista em fogos de artifício, encomendou-se o tiro do canhão e no dia certo, na hora exata, com toda a pompa, lá estavam as autoridades.
Praça enfeitada, banda de música, políticos, homenageados, o clero a imprensa e a comunidade, todos devidamente engalanados, participavam das comemorações e esperavam o anunciado momento especial da festividade. A rádio Penedo FM transmitia ao vivo com o repórter Lula Costa.
No instante combinado, no ápice da abertura das comemorações, o foqueteiro foi chamado para acender o estopim.
Isqueiro na mão, o “especialista” hesita. Acende o cordão e, semblante carregado, dá dois passos para trás e depois sai em desabalada carreira praça afora.
Atônitos, os espectadores não têm tempo de perceber o que está acontecendo até que ouvem o barulho ensurdecedor do tiro do canhão e logo após o tinir dos cristais da casa da professora Consuelo Cruz, esfacelando-se.
Foi uma correria. O povo entrava na igreja, na Câmara, nas casas, enveredava pela praça Padre Veríssimo e pela rua Don Jonas Batinga. Na porta da Catedral Diocesana, pasmo, Lula Costa permaneceu com os microfones do carro de som e da emissora na mão olhando, absorto, a bola de fogo e fumaça que descia ladeira abaixo pela rua Dâmaso do Monte.
Depois, um silêncio sepulcral se abateu sobre o pelourinho penedense.
Foi então que o padre tocou no braço do Lula Costa:
– Lula, diga alguma coisa.
E a voz de Lula Costa, aflito, vendo o canhão saltar da base, ao vivo, pela rádio Penedo FM ecoa nas paredes seculares do Penedo:
– Eita tiro da porra!!!!!!!!!!!