Por que Alagoas é único estado em que a Braskem patrocina um prêmio jornalístico, e não dá a mínima para propostas de projetos culturais?
Certa vez o crítico de cinema Jean-Claude Bernardet escreveu: “Não pretendo enunciar a verdade única e definitiva, nem procuro fazê-lo. Quero somente é provocar a gente, quero levantar problemas, fazer com que meus leitores tomem consciência de certos problemas e passem a refletir a respeito.” Acho seu escrito bastante apropriado, como prólogo, para o que pretendo rabiscar aqui. Uma vez que o que trago para reflexão são algumas perguntas e questionamentos básicos, que foram deixados ao léu, sabe-se lá porque e por quem, os quais, suponho, nunca foram postos à mesa na qual se assentam e comungam, fraternalmente, o Sindicato dos Jornalistas do Estado de Alagoas (Sindjornal) e a Braskem.
A título de contextualização: a Braskem S.A. patrocina alguns prêmios no Brasil e até em outros países. Porém, todos no âmbito cultural. O Prêmio Braskem Cultura e Arte, focado na produção cultural inédita e na promoção de novos talentos artísticos nas áreas de Música, Artes Plásticas, Cinema e Literatura, na Bahia, é um deles. Além do Prêmio Braskem de Teatro, também naquele estado. Em Porto Alegre, ela patrocina o Prêmio Braskem em Cena. Em Macaé, no Rio de Janeiro, apóia oficinas de dança, teatro, música e exposições. Até em países como Estados Unidos e Portugal a Braskem apóia projetos culturais.
Então, cabe aqui a primeira pergunta: por que Alagoas é único estado em que a Braskem patrocina um prêmio jornalístico, e não dá a mínima para propostas de projetos culturais? Será mérito exclusivo do Sindjornal? Ou será que o silêncio velado interessa em especial a uma indústria que, em Alagoas, tem muito mais a esconder que revelar? Sim, porque basta uma simples pesquisa na Web para sabermos que, das 31 unidades espalhadas pelo Brasil, é aqui, no nosso aquário, que a Braskem tem a unidade mais problemática em termos de localização e reincidência de acidentes. Portanto, esse prêmio – a expensas de um ladino e velado cala boca – é mesmo uma verdadeira pechincha para uma empresa do porte da Braskem, cujos tentáculos chegam a países como os Estados Unidos, México, Venezuela, Colômbia, Peru, Chile, Argentina, Holanda e Cingapura.
Ainda bem que existem as exceções, pois detesto generalizar. Contudo, quantos jornalistas, de olho no prêmio ou não, fariam reportagens investigativas, reveladoras e consistentes sobre os acidentes acontecidos na Braskem? Em especial os acidentes de maio do ano passado, que vitimaram funcionários e a população do bairro do Pontal. Eis uma pergunta de resposta precária, pois basta o leitor acessar a maioria dos sites noticiosos da Web (com honrosas exceções), e dos periódicos de Alagoas, a época, para perceber a cobertura pífia sobre os acidentes. Quando muito se limitavam à versão emitida pelos comunicados da própria empresa.
Posso estar enganado, mas a exceção para tamanha leniência foi uma única matéria, feita pelo jornalista José Roberto Miranda, para o semanário A Semana – publicada na edição de 24 de outubro do ano passado -, mostrando como estavam desassistidas as vítimas da explosão em um dos acidentes, e quais são de fato as políticas de segurança da empresa. Nada mais foi dito, escrito ou cochichado. Afinal, quantos arriscariam serem barrados no “Oscar” do jornalismo alagoano? E se uma ovelha desgarrada resolvesse encarar, será que tal matéria concorreria em pé de igualdade com as demais? Ou ainda, será que, sequer, poderia ser inscrita no Prêmio? É evidente que os promotores e patrocinadores do Prêmio Braskem de Jornalismo podem argumentar que não existe qualquer clausula no edital que proíba. Claro, precisaria? Dariam um tiro no pé dessa magnitude? Quem aceita a alienação em relação ao patrocinador, já aceitou as regras do jogo. E isso é um direito inquestionável, posto que de foro íntimo. Não cabe aqui fazer qualquer juízo de valor.
O bom disso tudo é que, apesar do outro lado da moeda, o mérito dos vencedores do Prêmio não pode e nem deve ser ofuscado por estas questões. O trabalho jornalístico do Thiago Correia, por exemplo, o grande vencedor deste ano, e dos demais ganhadores, independe de premiação para ser reconhecido e aplaudido pela excelência, singularidade e profissionalismo.
Ao iniciar este escrito com um prólogo, que considerei apropriado, a lógica pede um epílogo também no mesmo tom. Para tanto, fui encontrá-lo no Portal Terra de Notícias, postado no dia 23 de maio de 2011, às 20:55h, por alguém que assinou como Paulo – Triunfo – RS, e fez o seguinte comentário sobre o acidente na unidade da Braskem, em Maceió. Transcrevo, abaixo, ipsis litteriz.
“Isto se chama somente uma coisa, ganância, esta empresa quer ser a primeira no mundo. Primeira em mutilar trabalhadores, primeira em contaminar o meio ambiente.
Foi comprando tudo que vem pela frente, onde está o tal de CADE?
É a Odebrecht acima de tudo.”
