A eleição da primeira mulher presidente do Brasil trouxe à tona uma velha discussão sobre o papel da mulher na sociedade.
Infelizmente, ainda é comum ouvirmos vários jargões machistas a respeito da luta da mulher pelos seus direitos como pessoa e sua participação na política, no meio empresarial, nas Forças Armadas.
É muito comum também, ouvir indagações do tipo: é feminina ou feminista? é lésbica?, etc…, como se nelas se encerrassem todas as verdades do mundo a respeito de quem seja esta ou aquela mulher.
E não é de estranhar que muitas mulheres, às vezes, pareçam desorientadas, uma vez que o machismo reinante em nossa sociedade cultural vem tentando fazer nossa cabeça no sentindo de exaltar nossa feminilidade, aquela de mulher sexy, bonita, perfumada, unhas grandes e vermelhas, etc e tal. E aí, nesse caminho, tome ridicularizar a luta das mulheres para ocupar seu espaço, dando uma conotação pejorativa, que transforma as mulheres independentes em figuras patéticas, mandonas, briguentas e mal amadas.
Além disso, esse trabalho de persuasão encerra uma ameaça: ou vocês mulheres se ajustam aos nossos conceitos ou ficarão solitárias e sem amor.
Quem, seja homem ou mulher, está disposto a incorrer em semelhante castigo?
Principalmente para nós mulheres, esta ameaça tem um poder de coação muito grande, porque ao longo de toda a nossa vida fomos condicionadas a “merecer” o amor dos homens. Não fomos preparadas para conquistar o amor, mas para merecer.
Ensinaram-nos (as nossas mães submissas), que eles só vão gostar de nós se formos assim ou assado. As mesmas mães também educaram os filhos e muitas de nós repetem os mesmos erros.
Quem ainda não ouviu aquela frase brilhante: “Se você fosse diferente…”. O ponto é que, se nos comportarmos dentro dos padrões estabelecidos pelo código que eles traçaram para nós, teremos nossa recompensa, caso contrário…
Quando nos perguntam se somos feministas ou femininas sentimos o peso da responsabilidade e da importância de nossas conquistas. Alguns ainda “brincam”, dizendo que lugar de mulher é molhando a barriga no tanque e enxugando no fogão ou ainda tentar alienar o movimento dizendo que a valorização profissional da mulher é a responsável pela desestabilização do lar, da família e da sociedade.
Ser mulher, independente e capaz, é antes de tudo ser gente, é não aceitar que a relação entre os sexos seja desigual, uma relação em que um exerce poder e domínio sobre o outro, mas uma relação em que cada um ocupa o seu lugar.
E por falar em lugar, lugar de mulher é mesmo na cozinha e no tanque, quando ela convive com um homem incompetente e preguiçoso que não sabe fritar um ovo ou lavar uma cueca e ainda se dá ao luxo de discorrer sobre a vida.
Lugar de mulher é na cozinha, sim, mas é também na sala, no escritório, na rua, na Presidência da República, na luta, batalhando para construir um mundo melhor, enfrentando a prepotência machista que ameaça a terra com uma guerra nuclear, os vícios do poder e a política de conceitos e escrúpulos notadamente elásticos.
Lugar de mulher é aqui e acolá, envolvida no trabalho de resgate à cidadania, à dignidade, lutando contra a violência num esforço concentrado para que a família seja uma instituição forte, em que exista reciprocidade, diálogo, solidariedade, cumplicidade, confiança.
Lugar de mulher, feminina, feminista, competente e independente, é sempre ao lado do companheiro e nunca, nunca mesmo, atrás dele, anônima, porque ao lado de todo homem e de toda mulher, deve sim, haver um companheiro consciente.
Lugar de mulher é na Presidência da República sim, lutando para dar um novo sentido à vida que a mãe natureza deu-lhe a missão de perpetuar.
E se as mulheres, que também são o laboratório da vida humana, não forem capazes, quem haverá de ser?