José Camilo dos Santos, o conhecido “Biu do Arroz”, foi um político dos velhos tempos. Biu tinha a pureza de quem ainda crê no ser humano.
Homem simples, de atitudes por vezes ingênuas e paradoxalmente astuto no trato político, elegeu-se vereador por força do tradicional “serviço prestado”.
À comunidade carente que o procurava atendia sem meias palavras ou falsas promessas. Biu doava aos doentes, o remédio; aos famintos, o alimento; aos que tinham frio, o cobertor e aos torcedores do Penedense, sua dedicação ao Alvirubro Ribeirinho.
Era um apaixonado por futebol e pelo Sport Club Penedense. Contam que certa vez o Antonio Vieira e o Antonio Correia fizeram um comentário, durante uma partida, sobre a falta de entrosamento na equipe. E o Biu teria argumentado:
– Se falta o entrosamento diga onde ele está que eu vou contratar!
Biu do Arroz tornou-se uma figura folclórica na história penedense do esporte e da política. E alguns episódios desta história fazem parte da imprensa penedense, que acompanhei na Emissora Rio São Francisco e também na Rádio Penedo FM.
Exemplos não faltam nos arquivos da propaganda e nos comícios realizados nas campanhas eleitorais.
No início da década de 90, quando o prefeito de Penedo era José Valério da Silva, o Zé Alves, Biu elegeu-se presidente da Câmara de Vereadores. Eu ocupava a pasta da Administração e fui convidada para uma solenidade de entrega do título de cidadão penedense ao empresário Nilson Ernesto Beserra.
A sessão foi realizada na mansão do empresário, recém construída na cidade, com toda a pompa e circunstância.
Recepcionada pelo empresário e sua família, perfeitos anfitriões, a sociedade penedense usufruía de uma noite de gala.
Na hora marcada, com todos os veradores presentes, foi instalada a sessão.Tomando assento no centro da mesa caprichosamente decorada, o Presidente do Legislativo Penedense iniciou a chamada dos vereadores, declarou aberta a sessão e solenemente convidou o prefeito e o vice-prefeito:
– “Convido o incelentíssimo sinhor prefeito Zé Alvis para tomar assento nessa mesa.”
– “Convido o incelentíssimo sinhô vice-prefeito, Zé Machado, para tomar assento nessa mesa.”
– “Convido o incelentíssimo sinhor Nilso Ernesti para tomar assento nessa mesa.”
Após os aplausos e depois de todos sentados, o presidente iniciou o seu discurso:
– “Incelentíssimo sinhô secretáro de educação, Bastião Pedo; incelentíssimo sinhô secretáro de finança, Jorge Hilto; incelentíssimo sinhô secretáro de obras, Paulo Givan; incelentíssima sinhora secretára de administração, Mata Mátis….”
E assim seguiu, cumprimentando uma a uma as autoridades presentes, até que, encerrada a lista, Biu olhou para todos os lados, abriu os braços em um gesto que objetivava abranger todo a assistência e disparou:
– “Incelentíssimos todos!”