Às vésperas de mais uma eleição, os prováveis (desejosos) candidatos já começam a se ouriçar.
É tempo de participar. De tudo. Da festa de emancipação política, supostamente a mais importante para os que desejam impressionar o eleitor com demonstrações inequívocas seu amor por suas cidades, ao aniversário da boneca de pano da filha da cunhada do amigo do vizinho.
É hora de embrenhar-se na casa de taipa da periferia e dizer: “- Meu Deus, isso é um absurdo!!!”, como se ninguém soubesse que existem milhões de seres humanos sobrevivendo de forma desumana sobre pedaços de “plástico preto” e marquises de lojas.
É hora de sentar na beira da calçada para uma prosa com os garis, cumprimentar os velhinhos na fila da aposentadoria e pagar a pinga no boteco da esquina. Vale tudo.
É o momento de colocar criancinhas no colo e até beijar aquelas que encontramos descalças, nuazinhas, nariz escorrendo, cabelos empinados e fedidos pela falta de um bom banho com água e sabão.
Resumindo: é a vez da hipocrisia tomar conta das ruas, dos parlamentos, dos palanques, dos encontros, das reuniões e, por um processo de fusão, ser absorvida pelos políticos carreiristas e pelas chamadas “lideranças políticas”.
E neles, nos palanques, tome discurso!
Nossos prováveis candidatos têm solução para tudo, para todos os problemas, sejam eles de ordem social ou até mesmo moral (por que não? Oxente!).
E o discurso é um só: – Vamos construir a maior e melhor escola desta cidade! Vamos construir um hospital! Vamos construir essa estrada! Vamos construir uma creche! Vamos trazer indústrias! Vamos gerar empregos! Vamos construir casas! Vamos, vamos, vamos…
Promessas!
Pena que a realidade esteja tão distante das demonstrações e intenções das pré-campanhas e campanhas eleitorais!
A grande verdade é a grande maioria dos nossos homens (e mulheres) públicos têm um profundo desconhecimento da realidade. Eles não conhecem praticamente nada do mundo em que querem colher o voto. Às vezes, não conhecem sequer a geografia.Não conhecem o clima, não conhecem a fauna, a flora e muito menos os seres humanos transformados em potenciais eleitores.
Essa grande maioria, com doutorado na ciência da adaptação, não pensa no homem, na mulher, na criança, nos jovens, nos seus sonhos e anseios. E são essas as pessoas que, em seus delírios, buscam um Salvador, um Messias, alguém que seja capaz de, num passe de mágica, lhes tirar da miséria em que sobrevivem e que lhes seduza com comida, saúde, segurança e escola, nessa ordem.
É por isso que de vez em quando aparece um ídolo, um redentor que com uma boa conversa, um bom marqueteiro, um discurso emocionado, algumas lágrimas e alguns poucos afagos nas crianças de nariz corizando conseguem chegar ao poder.
Será que há alguma chance? Algum remédio que possa ser ministrado? Alguma esperança que possa ser traduzida para os que, como eu, enxergam essa verdade com a sensação de carregá-la como o peso do mundo sobre os ombros de Atlas?
No entanto, como ser humano, eu também sonho, e nos meus delírios, eu creio em milagres!