O carnaval de Penedo começa nesta sexta-feira, 3 de fevereiro, com o desfile de aniversário da Raquel. A Boneca do Vá vai para as ruas acompanhada por foliões, ao ritmo do frevo e do Zé Pereira, contando a história de uma senhora que, com pouco mais de meio século de vida, aos 52 anos, transformou-se em um marco feminino na história do carnaval penedense.
A loura Raquel traz em sua postura de rainha, o brilho do “Império do Momo” e as lembranças dos velhos carnavais.
Volto à minha infância e reencontro rostos conhecidos no colorido da Floriano Peixoto. Revejo os amigos que comigo formavam o Bloco dos Caretas (Solange, Neno, “Sinha” Valda, Margarida, Betânia, Elvira, Walter).
Quando crianças, surrupiávamos as bordadas mochilas de pão de nossas mães, furávamos buracos para fazer olhos, nariz e boca, transformávamos os cabos de vassoura em uma espécie de cajado e usávamos as latas de goiabada e banha (naquele tempo eram de metal mesmo!) para fazer os nossos tambores.
As camisas velhas de Zé Vécio, Luiz Fausto e Dominguinhos, bem como os vestidos de dona Lourdes, “dinha” Lúcia Espinheira e “tia” Valda, serviam de disfarce para os corpos raquíticos e tão conhecidos dos moradores da região que conheciam as nossas traquinagens. Assim era o Bloco dos Caretas e nos quatro dias de carnaval, invariavelmente, saíamos pelas ruas nos divertindo com as “Lanças” de água, confetes e serpentinas.
O Bloco dos Caretas acabou porque o Valdi Fernando, que era muito comportado, só lia a revista Tio Patinhas e tinha medo de mim (hehehe), jogou-me um penico de mijo no “oitão” da Catedral, para se vingar de nossas provocações.
A verdade é que nós perturbávamos muito, mas também é verdade que eu gastei muita água do rio São Francisco para tirar o cheiro impregnado do xixi e no ano seguinte preferi outra brincadeira.
À tarde tinha as matinês no palanque montado na Floriano Peixoto, em frente à Lojas Paulista e na Filarmônica, a nossa Filó. Era o momento de vestir nossas fantasias. Nos domingo e na terça-feira, esperávamos com ansiedade pelo desfile das escolas de samba de Neópolis e do Carrapicho.
Quando a tarde começava a dar os primeiros sinais de cansaço e as luzes se acendiam, era encantador ver o brilho dos enfeites carnavalescos pendurados nos postes. Eram arlequins, colombinas, baianas, máscaras, pierrôs e muitas, muitas luzes.
No palanque montado no QG do Frevo, os músicos caprichavam nos acordes e quando a noite chegava com todo o seu mistério e fantasia, Zé Mulé aparecia, soberbo, em um canto do palco.
Era um espetáculo resplandecente, multicolorido, envolto na suavidade das plumas que se moviam ao sabor da brisa.
Ali, encostados na porta da loja de dona Mirthes, nas escadarias da Teatro 7 de Setembro, nos degraus do Bar do Agobal ou entre as bancas dos roletes de cana, observávamos, fascinados, a magia dessa festa que é sinônimo de alegria, até que o encanto era quebrado pelo tradicional “já pra casa, menina!”.
E o que nos restava, então, era ouvir os acordes do frevo e do samba dos bailes da Filarmônica, enquanto não éramos vencidos pelo sono próprio das crianças.
O carnaval está chegando. Penedo é um cenário vivo e vibrante para o grande espetáculo da alegria do povo que explode em danças, fantasias, brincadeiras e muitas…muitas lembranças!
Feliz carnaval para todos!