Dom Pedro e a futura Marquesa de Santos teriam se encontrado nas dunas do Peba?
Dom Pedro I teria visitado sua amante Domitila de Castro Melo, futura Marquesa de Santos, na praia do Pontal do Peba, situada no Litoral Sul de Alagoas. O suposto encontro amoroso do então imperador do Brasil é tema de comentário enviado por Francisco Sales, fundador da Casa do Penedo, profundo conhecedor dos meandros da história do país.
Na mensagem enviada ao blogueiro, Sales se reporta ao texto que escrevi em setembro (Dom Pedro I em Penedo ?!?) sobre matéria publicada na Agência Alagoas, site oficial de notícias do governo estadual. Ele avalia que a informação sobre a passagem de Dom Pedro I por Penedo, conforme consta no texto assinado pela jornalista Maryland Wanderley, deve ser resultado da observação da repórter de parte do acervo da Fundação que abriga os melhores registros disponíveis na “Cidade dos Sobrados” sobre a nossa história.
“Tentarei fazer, sem procuração, uma tentativa de explicar a colocação na matéria da jornalista Mary sobre a passagem de Pedro I pelo Penedo. Certamente ela viu numa das salas do Memorial da Casa do Penedo um belíssimo painel com uma fotografia de Pedro I, ilustrando o texto das Guerras da Independência, quando Labatut tomando como quartel o nosso convento e após a adesão da nossa Câmara à Independência, parte para Bahia, então capital da nação que surgia, para fazê-la também aderir.Penedo durante esse período teve papel destacado na aceitação de dom Pedro I como Imperador do Brasil. (As Guerras da Independência, Abelardo Duarte)”, relata Sales no e-mail que começa com um pedido de desculpas por não acompanhar com a assiduidade merecida as minhas “crônicas” no aquiacontece.com.br.
Preocupação com a nossa história
“Lendo este seu artigo (Dom Pedro I em Penedo ?!?/N.R.) observo a agudeza de sua preocupação com a nossa história e por esta razão venho comentá-lo”, prossegue Francisco Sales para então nos presentear com a hipótese, fundamentada em suas leituras, sobre o encontro entre Pedro I e sua amante na praia alagoana. “Não fosse este fato para registrar a “presença” do nosso primeiro imperador em nossa cidade, poderíamos ir buscar em Verdades e Mentiras de nossa história, apoiado em Assis Cintra, que o mesmo Pedro I chegou a vir a nossa cidade, anonimamente, para visitar sua amada Marquesa que veraneava na praia do Peba, longe dos olhos vigilantes e zelosos de José Bonifácio.”
O relato detalhado prossegue: “Servia de guia o nosso Barão (de Penedo, Francisco Inácio de Carvalho Moreira, ilustre cidadão penedense que representou o Brasil na Inglaterra, personagem que tem biografia publicada graças à Fundação Casa do Penedo/N.R.) que diplomaticamente preparou esse encontro para arquitetar a defesa que na Corte, na qualidade de advogado, trataria da anulação do casamento da Marquesa com o alferes Felício Pinto, marido traído da amada Domitila, como nos afirma Renato Mendonça.em Um diplomata na Corte da Inglaterra.”
“Sem maiores artifícios literários”, conforme frisa no texto, Francisco Sales acrescenta que “poderíamos dizer que este exemplo (do suposto encontro de Pedro I e Domitila em Alagoas/N.R.) seria seguido mais tarde pelo seu filho Pedro II que também veio a Sergipe em encontros memoráveis com sua amante Josefina Emilia, no Escorial, segundo nos informa Acrísio Torres em Os Amores de Pedro II em Sergipe.”
Descartes, o filósofo, no Penedo
Sales nos reserva ainda uma grata surpresa em seu comentário, sobre a passagem de outro personagem ilustre da história mundial no Penedo. “Em história esses fatos estão nas entrelinhas, como agora bem demonstra o nosso Leminski que relata a presença do filósofo Descartes em Olinda e no nosso Penedo durante a permanência de Maurício de Nassau no Brasil. Paulo Leminski, Catatau”.
O atento observador conclui a mensagem “deixando essas elocubrações e devaneios históricos de lado”, louvando a minha a “preocupação com o rigorismo da História, lembrando todavia que a verdadeira Historia do Penedo, a que verdadeiramente nos interessa, está carecendo ser reescrita”, avaliação que também considero válida e necessária.
A releitura de episódios passados do Brasil está em alta no mercado editorial. Só para exemplificar a nota, pesquisas realizadas por dois jornalistas (Eduardo Bueno e Laurentino Gomes) que se propuseram a ‘clarear’ o desenrolar de acontecimentos marcantes de nossa história, reunidas em livros, conquistaram leitores. O primeiro, ex-repórter do diário gaúcho Zero Hora, é autor da Coleção Terra Brasilis (Editora Objetiva), cinco títulos que desmitificam distorções sobre fatos da época da chegada dos primeiros europeus por aqui.
História Brasileira da Infâmia
No documentário “História Brasileira da Infâmia”, filme de Werner Salles Bagetti – jornalista formado pela Ufal e que também produziu um vídeo sobre a festa do Bom Jesus dos Navegantes em Penedo – Eduardo Bueno aparece na produção muito bem realizada e contemplada no programa Doc TV de 2005. Guiando um carro, Bueno lança seu olhar em direção ao Pontal de Coruripe, onde o primeiro bispo do Brasil, Dom Pero Fernandes Sardinha – interpretado pelo renomado ator paraibano Everaldo Pontes – teria sido devorado por caetés canibais, conforme registro oficial, versão contestada na produção com base em estudos de pesquisadores, entre eles Bueno e outros.
O documentário segue essa linha de abrir novos debates sobre o que nos é ensinado sobre a História do Brasil, discussão que pode ser amparada nos títulos publicados por Bueno ou nos sucessos de venda de Laurentino Gomes. Autor de dois best-sellers, o jornalista que já atuou no Estadão e nas revistas Veja e Época largou as redações para se dedicar à investigação de nosso passado. Para a sorte dos habituados à leitura, ganhamos dois livros brilhantes: 1808 – Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil; e 1822 – Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram Dom Pedro a criar o Brasil, um país que tinha tudo para dar errado, título que alcançou a impressionante marca de 100 mil exemplares vendidos em apenas 3 dias.
Recomendações
Nem precisava acrescentar, mas recomendo a leitura das publicações de Bueno e Laurentino e a compra do “Infâmia” (disponível, assim como todos os filmes produzidos com base no edital Doc TV, entre eles “Areias que Falam”, sobre o cotidiano de moradores do povoado Pixaim, situado próximo à foz do rio São Francisco, hábitos e costumes que resistem aos impactos na região ribeirinha). Uma visita à Casa do Penedo também é algo que deve ser feito ou ainda uma busca sobre a fartura de material lançado a partir de 2008 sobre a chegada da Corte Real portuguesa ao Brasil.
A seriedade desses trabalhos mostra que os nossos personagens não apenas as caricaturas apresentadas em produções como a ridícula minisérie “Quinto dos Infernos” (TV Globo) e o filme “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil”.
Por fim, agradeço a atenção do Dr. Francisco Sales, a quem, de público, parabenizo pelo excelente trabalho que desenvolve à frente da Fundação da Casa do Penedo.
