Há algum tempo não escrevo. Tenho apenas usado a voz para informar e reconheço, nem sempre convencer meus ouvintes porque, infelizmente, ao informar, sou obrigada a narrar fatos onde estão embutidas as maiores atrocidades contra o ser humano.
E quando me refiro a atrocidades, não falo de crimes de sangue. Falo de atitudes e comportamentos.
Depois de ter percorrido tantos caminhos e ter me engajado em tantas lutas, entristeço-me com essa nova geração de eleitores que está se formando.
Na campanha eleitoral passada, ouvi um jovem dizer que só votaria em quem lhe pagasse pelo voto. Outro dia ouvi uma adolescente dizer que, como não estava obrigada a votar, só iria fazer o recadastramento biométrico determinado pela Justiça Eleitoral se vereador tal lhe desse um “agrado”.
Alguém já disse que os jovens de hoje são como insetos dos pântanos: já nascem envenenados.
É frustrante e decepcionante a escassez de lideranças que ofereçam uma única possibilidade que seja de renovação do nosso comportamento político e que sejam capazes, também, de mudar esse equivocado conceito de cidadania.
Falo de pessoas, jovens ou não, mas com novas ideias, com ideologia, com vontade de mudar as coisas, de recuperar valores que perdemos nesses descaminhos que a política tradicional tem seguido.
Falo de mudança, de gente que faça um desenho novo e estabeleça um novo conceito de moralidade política.
Detesto esta sutileza venenosa, esse “jogo de cintura” maleável que continua sendo cúmplice do desgoverno que comprovamos dia após dia e que continua se alimentando na miséria humana.
Então me pergunto onde vamos parar com tantas desgraças escolhidas de forma democrática.
O que essas escolhas nos tem ofertado? O que os nossos filhos nos perguntam hoje quando os orientamos sobre os valores morais e éticos da sociedade e dizemos a eles que não mintam, não roubem, não enganem, não matem, não difamem?
Que nesse país só vence quem é desonesto? Que só existe justiça para quem tem dinheiro? Que matar um macaco, uma cobra, um jacaré ou cortar uma árvore é mais grave do que matar ou estuprar um ser humano? Que todo político é corrupto? Que não adianta estudar e que um diploma não leva ninguém a lugar algum a não ser a uma cela especial porque bandido branco, rico e com nível superior é privilegiado, principalmente se for político?
E afinal, o que vamos fazer? Como construir certezas com tantos argumentos que se tornam inconsistentes diante da desmoralização que esses infelizes, escolhidos democraticamente, impõem à nossa cidadania e às nossas instituições?
Precisamos encontrar urgentemente uma saída, uma verdade concreta, forte, duradoura, que não exploda em nossas cabeças como bolas de sabão.
Afinal de contas, desgraça escolhida democraticamente, é falta de vergonha!