×

Avatar

O diretor canadense James Cameron não dá ponto sem nó. Cada obra sua marca história no cinema. Responsável pelos filmes mais marcantes da ficção científica de ação, O Exterminador do Futuro 1 e 2 (e seus efeitos especiais revolucionários na época) e Aliens: O Resgate, foi também o pai do colossal Titanic e do melhor filme de ação não ficção científica (na minha opinião) de todos os tempos, True Lies.

Depois de um hiato de 12 anos desde Titanic, Cameron apresenta sua nova cria envolta de muito marketing, Avatar. Começa marcando história sendo a obra mais cara da história do cinema com orçamento estimado em US$ 500 milhões, boa parte gasta em novas e revolucionárias tecnologias. Cameron contratou o mesmo estúdio que produziu Gollum de O Senhor dos Anéis, pois queria o mesmo resultado real para seus personagens azuis. E o resultado foi surpreendente.

Avatar sem dúvida é o próximo grande passo da computação gráfica, corrigindo eternos defeitos que nunca a tornaram totalmente plausível. Não se chegou ainda ao ponto da perfeição absoluta, há um leve sentimento de fantasia no que vemos, mas sem dúvida após Avatar faltará muito pouco para isso. O grande segredo foi captar a total interpretação dos atores, cada micro movimento de rosto, olhos, corpo e transportar para a “marionete digital”, tornado a captação de movimentos perfeita e categorizando seus antecessores como meros bonecos duros e quebrados. Os personagens possuem uma vida nunca antes vista, e em determinado momento do filme, ignoramos que são criaturas digitais e conseguimos nos emocionar com a “interpretação” das criaturas digitais.

Os cenários também são de um realismo impressionante, com cada detalhe trabalhado meticulosamente e iluminação muito natural. Nos sentimos em uma verdadeira aula de exobiologia, onde no começo da projeção nos são apresentados seres e plantas do planeta Pandora que serão utilizados no ato final. O que ainda peca talvez seja a textura da pele ainda muito plástica, contrariando a grande regra de nossa realidade onde a imperfeição é que gera nossa percepção de perfeição, porém isso jamais tirará o mérito do nível alcançado por Cameron.

Avatar começou a ser elaborado em 1995, porém Cameron alegou que esperou o momento em que a tecnologia fosse suficiente para tornar seu projeto possível. É aí que Cameron dá uma verdadeira “tapa na cara” indireta na cara de George Lucas. Se George não pensasse apenas em marketing e lucro e tivesse esperado mais um pouco para a concepção da nova trilogia de Star Wars, estaria recebendo os elogios no lugar de Cameron.

Ok, Avatar revolucionou a computação gráfica, efeitos especiais e criou um mundo totalmente novo mais impressionante até que o mundo criado por George Lucas em Star Wars, mas… e quanto ao roteiro? É neste ponto que acredito que Cameron poderia ter revolucionado ainda mais, abrindo mão dos velhos clichês e amálgamas de filmes antecessores. Esta foi uma oportunidade perdida, mas não totalmente.

Avatar não é um filme ingênuo, mas também sua história não é exemplar. Apoiando-se no calor da discussão atual sobre a destruição da natureza e exploração dos recursos naturais pelo homem, o filme junta pedaços de diversos filmes, apenas atualizando um contexto já bastante utilizado com um final totalmente previsível, onde o diretor ainda tenta induzir que o final não será feliz com uma leve distração no último ato da projeção.

Percebemos vários elementos batidos de seus antecessores, como povos tribais evoluídos (Evoluídos? Intenção de Cameron de mostrar que evolução não significa tecnologia avançada?) integrados à natureza, elemento já explorado em filmes como A Máquina do Tempo, Star Wars ou a idéia de uma natureza integrada e espiritualizada já abordada em Final Fantasy. Além disso temos os velhos clichês do forasteiro que é respeitado pela tribo, ideais de guerra e luta, pacifismo, etc. só que abordados sempre de forma preguiçosa e superficial.

Mas acredito que a intenção de Cameron não foi produzir um filme filosófico que fizesse as pessoas pensar por alguns dias (talvez você pense na lição do filme por algumas horas no máximo), sua intenção foi romper os paradigmas do cinema em termos de tecnologia e experiência sensorial, o que conseguiu com maestria. Avatar é um filme dinâmico do começo ao fim, de tirar o fôlego com muita ação e beleza visual e que já tem sua posição garantida na história do cinema.

P.S.: Não vejo a hora de assistir Avatar em um cinema 3D. Se a experiência visual já foi marcante em um cinema comum, deve ser muito mais em três dimensões.