Criação coletiva de pessoas em tratamento no Instituto Municipal Phillipe Pinel e no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ipib/UFRJ) e de integrantes da Associação de Moradores da Lauro Muller, entre outras entidades, o bloco Tá Pirando, Pirado, Pirou! completa dez anos de existência no carnaval deste ano e promete muitas loucuras no desfile.
Seguindo a tradição, o bloco desfila no domingo anterior ao carnaval. Este ano, será no próximo dia 8, com concentração às 15h, em frente ao Instituto Benjamin Constant, na Avenida Pasteur número 250, e início do desfile às 16h, seguindo até a Praça General Tibúrcio, na Praia Vermelha, disse uma das organizadoras do bloco, a musicoterapeuta Pollyanna Ferrari. Outra coordenadora, a psicóloga Marcela Weck, disse que, além dos usuários da rede de saúde mental, saem no bloco os profissionais do setor, englobando médicos, enfermeiros, assistentes sociais, entre outros.
A média de participantes tem sido entre 900 e 1,3 mil pessoas por ano. Pollyanna disse que a expectativa este ano, porém, é a ampliação do número de participantes em virtude da comemoração dos dez anos de atividades. “Eu imagino 1,5 mil pessoas”, manifestou.
Durante todo o ano, os organizadores do bloco mantêm oficinas semanais para preparar as pessoas em tratamento para o desfile. “[Há] oficinas de música, de composição musical – para fazer os sambas do bloco – de percussão para quem quiser participar da bateria, de estandarte, de arte, [este] está construindo um carro alegórico. São várias oficinas para criar o desfile”, disse Pollyanna.
O enredo deste ano é Sou louco, sim, também sou bonito. É que nem tudo se leva no grito. Mais de 40 sugestões de temas foram apresentadas, mas a frase vencedora foi a proposta por Demétrius Lucas, em tratamento no Ipub/UFRJ desde 1991 e que sairá pela primeira entre os puxadores do bloco. Ele integra a comissão organizadora do bloco desde sua fundação. Demétrius disse que foi importante para ele ter sua frase escolhida para o desfile. Acrescentou que o carro alegórico que está sendo montado retrata um salão de beleza, em alusão ao tema da estética. “O carro representa o nosso imaginário de usuário, de paciente de saúde mental. O carro está bem animado, bem irreverente”, disse.
A música oficial deste ano é uma marchinha composta por Hamilton de Jesus, também usuário da rede pública de saúde mental do Rio de Janeiro, que envolve as três esferas de governo e é integrada também pelo Centro Psiquiátrico do Estado do Rio de Janeiro (CPRJ), além do Ipub e do Instituto Pinel. “É uma novidade para nós. [Houve] uma escolha e este ano, vai ser uma marchinha. Normalmente, é sempre samba”, observou Pollyanna.
Hamilton de Jesus também informou que sua música “A, E, I, O, U” aborda os dez anos do bloco e ainda “a beleza, a loucura e o tratar bem”, atendendo ao que foi pedido pelos psicólogos. Ele compõe também para o bloco Loucura Suburbana, do Instituto Nise da Silveira. Hamilton se trata no CPRJ desde 1998.
O bloco Tá Pirando, Pirado, Pirou! é hoje ponto de cultura mantido pela Secretaria Municipal de Cultura. O desfile tem patrocínio da Petrobras.