Ciente de que precisa qualificar constantemente funcionários e candidatos às vagas que surgem na Usina Hidrelétrica de Belo Monte, o Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM), responsável pelas obras, instalou em Altamira, no Pará, aquilo que o gestor de Capacitação da empresa, José Eugênio Sayegh, classifica como “o maior e melhor centro de capacitação do Brasil”. Em três meses, foram formados mais de 3 mil alunos.
Só com a estrutura do Centro de Capacitação Profissional do programa Capacitar para Crescer, foram gastos cerca de R$ 1 milhão para formar instaladores hidráulicos, pedreiros, ferreiros, armadores, eletricistas, carpinteiros, soldadores, lubrificadores, sinalizadores e operadores de máquinas pesadas, entre outras funções. Na grade de cursos, há até aulas destinadas ao modo que um funcionário deve se comportar profissionalmente em um ambiente de trabalho.
“Quem se destaca, tem emprego garantido. Perdemos para o mercado metade dos 420 pedreiros que formamos porque essa é uma profissão que tem demanda crescente”, afirmou Sayegh.
O centro prepara tanto iniciantes quanto trabalhadores já contratados e que foram promovidos para funções mais complexas. Esse é o caso de João Batista Silva Costa, de 33 anos. Depois de se destacar no trabalho que fazia – e por ter um bom convívio com os colegas – , o carpinteiro, que estava há apenas 3 meses nas obras, foi convidado para fazer o curso de escavadeira hidráulica. Ele abraçou “com força” a chance de avançar na carreira profissional.
“As portas se abriram por causa da minha dedicação e pelo respeito que tenho com os colegas”, disse ele enquanto manuseava um dos cinco simuladores comprados por US$ 50 mil (cerca de R$ 94,3 mil) pelo CCBM.
Dos profissionais formados, 26% são mulheres. Jeane Cordeiro da Silva, de 29 anos, estava se matriculando em um curso de lubrificador quando a Agência Brasil visitou o local.
“Por sugestão do meu marido vim fazer esse curso. É a oportunidade de, pela primeira vez, ter uma profissão”, disse a futura aluna.
“O que conseguimos fazer aqui é transformar pessoas em profissionais com domínio de atividades e equipamentos”, informou o instrutor de máquinas pesadas, João Damasceno Sousa.
Foi por meio desses cursos que Joelson Lima Silva, 42 anos, descobriu a habilidade que tinha com tratores e deixou para trás o salário de R$ 1,5 mil como sinaleiro para se tornar operador de trator de grade – e passar a ganhar R$ 2,2 mil.
“Eu prestava serviço a uma madeireira com um trator que tinha, que acabou apreendido pelo Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis]. O conhecimento que eu tinha era usado para desmatar. Agora, é usado para construir e para pagar minhas dívidas. Vou juntar R$ 50 mil e comprar um novo trator para trabalhar com um tio em um projeto de remanejamento [ambiental]”, afirmou Joelson.
O engenheiro e gerente de obras do Sítio Canais e Diques, Reinaldo Lino, disse que Belo Monte tem dado muitas oportunidades para pessoas que, como Joelson, tiveram suas atividades inviabilizadas pela Operação Arco de Fogo, da Polícia Federal, na Amazônia.
Segundo ele, esse é um benefício indireto que, por causa do isolamento da região, nem sempre é conhecido pela maioria dos brasileiros.
Enquanto isso, aos 19 anos, Jardel Sino Lobato, em sua primeira semana como auxiliar de montagem, faz planos para a vida a partir da primeira oportunidade real de seguir uma vida profissional.
“Quero trabalhar o máximo de tempo possível aqui. Já está bom, mas poderá ficar melhor”.