Na década de setenta, parece-me que em 1973, Badega do Engenho, como era conhecido, em razão do nome da sua fazenda produtora de cana, tronou-se, aos quarenta anos de idade, prefeito de Pederneiras. Não fez uma administração que chamasse a atenção, capaz de mudar a fisionomia do município. Sua fazenda, herdada, continuava, como no tempo de seu pai, sem inovações para torná-la mais rentável. Era a confirmação de uma verdade segunda a qual quem não sabe governar o que é seu, muito menos com a administração pública.
Embora nunca tivesse aparentado um comportamento que denotasse grande simplicidade ou vaidade, logo depois houve uma transformação que o tornou presunçoso. Uma presunção engravidada, como acontece com frequência, com o deslumbramento do poder. Essa mudança, numa cabeça vazia como a dele, incapaz de uma autocrítica para avaliar seu ínfimo potencial para pretender atingir altas pretensões políticas, tornou-o obsessivo.
Concluído seu mandato, passou a residir na capital. Uma particularidade contribuiu para que perdesse, quase por completo, a sensatez que o impediu de atinar para suas limitações. Era, acreditava, amigo do governador. Este, às vésperas das eleições, confessou-lhe querer como seu sucessor. É bem provável que a sua esdrúxula decisão tenha sido causada por esse conto da sereia. Aproxima-se o pleito. Luz verde anuncia a boa expectativa. Na hora decisiva, sem passar para a amarela, surge a sua frente a luz vermelha. Desaba em destroços pela decepção. Foi a primeira rasteira aplicada pelo mui amigo governador Pedro Pardela.
Baixada a poeira do desapontamento, não havia outra alternativa senão esperar a próxima eleição. Ela chega e mais uma vez alimentava a esperança que o amigo governador batesse o martelo, escolhendo-o como seu candidato. Muito antes da convenção partidária, um estranho no ninho foi o contemplado. Entrou em parafuso.
Onde sobra vaidade e desmedida ambição, falta o bom-senso e avaliação autocrítica de suas limitações. Foi um excepcional prefeito, com repercussão em todo estado? Não. Possuia um grande carisma pessoal? Não. Carregava dentro de si a vibrante eloquência dos palanques, capaz de hipnotizar a massa e convencer o eleitor? Não. Dispunha de dinheiro a rodo, que nem sempre funciona, para contornar esses pontos negativos? Não. A fazenda engenho, da normalidade passou para uma situação crítica. O somatório das dívidas, incluídas as de ordem trabalhistas, impagáveis, terminou indo a leilão. Estava politica e economicamente, liquidado, reduzido a frangalhos.
Convém ressaltar que a vaidade do Badega também foi estimulada pela aparição quase diária do seu nome na seção política dos jornais da capital que o apontava como um dos possíveis candidatos ao governo ou vice-governador. Essas especulações causavam estranheza e seus conterrâneos citadinos, vez que não tinha, no geral do estado, visibilidade política e densidade eleitoral perto de conhecidas raposas com essas qualidades.
Como podia o Badega voar, se não tinha asas para essa proeza que o teria permitido chegar ao ápice e chegar ao mais alto cargo do Estado? O único atributo que possuía era a ambição, necessária, é bem verdade, mas dentro de limites para não se tornar obsessivamente doentia, como aconteceu. A sua obsessão, somada à decepção política, traído pelo mui amigo governador Pedro Pardela, reduzido à pobreza e ao esquecimento, afofou o juízo e, transformado num débil mental, sua única atividade cerebral era repetir, sem parar: QUERO SER GOVERNADOR, QUERO SER PREFEITO…