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Alagoas

Áudio: Produtores de arroz podem renegociar dívida

Safra recorde de arroz no Baixo São Francisco não trouxe folga para produtores

Agricultores com lote situado em área do Projeto Boacica, localizado entre Igreja Nova e Penedo, que estão em débito com a administração do distrito podem renegociar a dívida. Para tanto, é preciso compareçer na sede do Distrito de Irrigação do Perímetro Boacica (DIB), criado há doze anos para gerenciar o cultivo de arroz na várzea ribeirinha, local onde vivem cerca de 600 famílias de baixa renda.

O convite foi lançado nesta segunda-feira, 10, durante o Programa Lance Livre (Rádio Penedo FM/97.3 Mhz) pelo gerente do DIB, o engenheiro agrônomo Germano Vieira de Albuquerque. “O que a gente está solicitando é que esses agricultores compareçam para renegociar novamente”, disse Germano, ressaltando que a situação caminha para um patamar irreversível. “Isso vai ter um fim, não é possível que a gente mantenha esse procedimento (renegociação dos débitos) porque tudo isso é extremamente desgastante, tanto para a administração como para o agricultor”.

Débito dos irrigantes chega a R$ 800 mil

Ainda de acordo com Germano Vieira, a dívida dos associados para com o Distrito Boacica é de aproximadamente R$ 800 mil, cálculo que inclui débitos negociados anteriormente ainda pendentes, inadimplência da taxa de uso pela água irrigada e dívidas da última safra, colhida no mês passado. Construído pelo governo federal há 25 anos para minimizar os impactos provocados com a construção das hidrelétricas no rio São Francisco, o perímetro irrigado está à beira de um colapso financeiro que virá com a cobrança de energia elétrica e outorga pelo uso da água.

O consumo dos equipamentos que bombeiam água para os lotes equivale ao custo anual de R$ 1 milhão e 300 mil, segundo Germano Vieira. Quem paga atualmente essa conta é a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), órgão do governo federal que em 2009 passou a arcar com a despesa por causa do fim dos chamados “créditos de energia” negociados com a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), empresa estatal que administra as barragens que geram energia.

Gazeta de Alagoas (cortesia)Uma mudança na política da direção da Codevasf pode implicar na transferência do custo para os associados. “Nem recebendo 100% da taxa de administração do distrito que chegaria a R$ 400, R$ 500 mil por ano”, afirmou o gerente do DIB sobre a impossibilidade de arcar com o pagamento da conta de energia. Além disso, a Agência Nacional de Águas (ANA) já definiu o pagamento pelo uso do líquido, cobrança que mais cedo ou mais tarde acontecerá.

Unidade de Beneficiamento de Arroz

Como se não bastassem esses problemas que reduziram quadro de pessoal administrativo na sede do Distrito Boacica e provocaram atraso no salário dos funcionários, a paralisação da fábrica de arroz situada em Igreja Nova gera mais prejuízos para os produtores do grão. Construída em 1986 pela Codevasf e doada mais tarde ao governo estadual, a UBA (Unidade de Beneficiamento de Arroz) que chegou a ser administrada até por uma cooperativa de Santana do Ipanema, município situado no Médio Sertão Alagoano, terminou sendo leiloada em 2006. Por seu preço mínimo, R$ 1 milhão e 340 mil, o Grupo Santana, empresa com sede no Rio Grande do Norte, arrematou a estrutura que estava fechada desde 2002.

Passados quatro anos, a UBA continua parada. Ivanílson Araújo, dono do Grupo Santana, foi recentemente cobrado pelo governador Teotônio Vilela para fazer a fábrica funcionar e teria garantido a reativação para este ano. A promessa, se cumprida, atenderá apenas a próxima safra porque a primeira, encerrada mês passado e alardeada pelo governo tucano por causa dos números registrados, mal dá para pagar os custos de produção.

12 mil toneladas de arroz a preço de banana

Os rizicultores do Boacica negociaram a safra que alcançou faturamento bruto de R$ 6 milhões, segundo Germano Vieira, sem poder barganhar melhor preço ou segurar o produto para escoar na hora certa. A impossibilidade acontece por falta de local para armazenar e beneficiar toneladas de arroz, 12 mil colhidas na primeira safra de 2010 em 1.720 hectares de lotes irrigados do Boacica, processos que deveriam ser realizados na fábrica, conforme previsto no negócio entre o Grupo Santana e o governo estadual.

Em débito com a administração do distrito, alguns por comodismo, conforme declarou o gerente do DIB, sem crédito para obter novos financiamentos e ainda desprovidos da fábrica que poderia lhes dar alguma esperança de lucro, os produtores de arroz do Boacica buscam alternativas. Cerca de 750 hectares do perímetro irrigado estão ocupados por plantio de cana de açúcar, escolha que pode gerar ainda mais prejuízo para o pequeno agricultor.