O plenário da Assembleia Legislativa de Alagoas ficou lotado por alunos e educadores nesta sexta-feira, 14, para discussão dos impactos do Novo Ensino Médio. O tema foi uma proposta dos deputados Bruno Toledo (MDB) e Ronaldo Medeiros (PT), atendendo a uma solicitação do deputado federal Rafael Brito (MDB/AL), ex-secretário de Educação de Alagoas. Ele destacou que a Assembleia Legislativa de Alagoas foi a primeira do Brasil a debater a temática.
Bruno Toledo, que presidiu a sessão, ressaltou a importância da participação de docentes e alunos nesta discussão inédita e pioneira em todo Oaís. “É um momento enriquecedor para o Parlamento alagoano, que promove um debate acerca dos impactos das mudanças para promoção de soluções efetivas benéficas à sociedade”, complementou.
Rafael Brito agradeceu a Toledo e ao presidente do Legislativo Estadual, deputado Marcelo Victor, pela realização da sessão e garantiu que após ouvir os posicionamentos sairá da Casa do Povo com propostas positivas. O deputado federal, no entanto, acredita que não há clima para revogação do novo modelo, suspensa por uma portaria do MEC. “O próprio presidente Lula e o ministro da Educação, Camilo Santana, já defendem que alguma coisa disso seja aproveitado, mas o consenso é de que esta reforma realmente não é ideal e precisa ser vista e revista para que as vozes do povo possam ser ouvidas”, afirmou Brito.
Escolas
A secretária especial de Gestão de Ensino de Alagoas, Roseane Vasconcelos, lembrou que o novo Ensino Médio já está no segundo ano de implantação dentro da rede estadual. “O professor se sente ameaçado com a carga horária dele sendo reduzida, assim como a necessidade de lecionar matérias desassociadas de sua disciplina”, lembra Vasconcelos, explicando que cada Estado tem liberdade para remanejar suas aulas. Isso implica em reduzir, por exemplo, a carga horária de disciplinas como Química ou Biologia. “Na minha visão, este não é o Ensino Médio que atrai o aluno. Mudaram para que o ensino médio fosse atrativo para nossas crianças, mas deste jeito elas não vão sair mais preparadas”, complementou a secretária especial, lembrando que o colégio não tem de preparar apenas para um vestibular, mas também para a vida.
Com alto índice de abandono escolar e baixo nível de aprendizado, o ensino médio é considerado há anos um dos gargalos da educação básica do País. Com o objetivo de reverter os resultados negativos, o Governo Michel Temer aprovou em 2017 a reforma dessa etapa. Que, conforme apresentado pelos profissionais, obteve um efeito contrário. Ricardo Lisboa, superintendente de Desenvolvimento de Ensino, em sua apresentação, deu detalhes do número de alunos na rede estadual e um comparativo da evasão. Conforme dados de 2022, Alagoas possui 127.502 alunos matriculados no Ensino Médio, sendo 8.910 em escolas federais, 15.461 em escolas privadas e 103.131 na rede estadual, o que corresponde a 81% do total. Já a porcentagem de estudantes que estão com dois anos ou mais acima de sua idade ideal é de 8% nas escolas privadas e mais de 33% nas escolas estaduais. Uma distorção idade/série que implica diretamente na evasão escolar.
“É importante que a gente possa melhorar a comunidade escolar a partir de mudanças positivas no ensino médio, incluindo aí o desenvolvimento de vários parceiros, como universidade estaduais e federais, assim como também o Sistema S”, completou Lisboa, ressaltando que não basta mudar apenas o Ensino Médio, mas que aconteça toda uma cadeia de alterações.
Alunos
Para os estudantes, a ampla oferta de disciplinas com temas diversos acabou atrapalhando o aprendizado de conteúdos que consideram essenciais. Julia Magalhães, aluna do curso de História da Universidade Federal de Alagoas, representante do corpo discente, é líder do grupo que pede a revogação do novo Ensino Médio. “Qual é o futuro para os estudantes que não vão estudar em uma escola particular, em locais que não possuem laboratórios de química ou informática?”, critica a estudante, afirmando que a retirada de aulas de Artes e Filosofia e a diminuição do itinerário de disciplinas de Ciências Humanas não deveriam acontecer.
“A gente quer revogação plena dessa mudança e que não nos esqueçamos do problema de infraestrutura das escolas, da falta de concursos pra professor efetivo, da falta de professores qualificados e também do problema gigantesco da formação continuada”, complementou Magalhães. Também contrário, Patrik Lira, representante da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), afirma que o novo Ensino Médio promove desigualdade social entre a educação pública e a educação privada. “É uma diferença muito grande entre suas matérias. Precisamos escutar os professores, escutar os alunos e os profissionais da educação que também estão sendo atingidos”, completou Lira.
Estiveram presentes na sessão os deputados Delegado Leonam (União Brasil), Dudu Ronalsa (MDB) e Rose Davino (PP). A professora Cledilma Costa, representante do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), mais os gerentes das Gerências Regionais Sandra do Nascimento (1ª), Alexsandra da Costa (2ª), Ana Paula Barros (3ª), Josenildo Maraba Lilma (4º), Afonso de Alcântara (5ª), Heloísa Teixeira (6ª), Artur Ferreira (7ª), Edivaldo Barros (8ª), Jorge Luiz dos Santos (9ª), Edclea da Silva (10ª), Jeorgens da Silva (11ª), José Henrique dos Santos (12ª) e Cassio de Lima (13ª).