Além de enfrentar os famosos ataques de cachorros durante o trabalho, os carteiros de Maceió (AL) estão sofrendo com uma onda de assaltos. Profissionais alegam que chegam a ser vítimas de agressões e alguns foram obrigados a largar as ruas por temer represálias. Assustada com o crescimento no número de ocorrências, a direção dos Correios decidiu suspender a entrega de correspondências em duas regiões da capital alagoana: bairro da Pitanguinha e comunidade Virgens dos Pobres.
Na comunidade Virgem dos Pobres, carteiro tem que trabalhar em mutirão para fugir dos assaltos
O alvo principal dos assaltantes é sempre a bolsa com as correspondências, onde existem cartões de créditos, cheques e tickets alimentação.
De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios em Alagoas, mais de 20 assaltos a carteiros foram registrados em Maceió este ano.
“Na maioria das vezes, eles levam só a bolsa com as correspondências, mas em outras ainda assaltam bens pessoais e agridem o carteiro. Um deles chegou aqui cheio de hematomas por levar várias coronhadas do ladrão”, conta o presidente do sindicato da categoria, José Balbino.
Recentemente, as entregas foram suspensas no bairro da Pitanguinha, área central da cidade. “Estávamos enfrentando problemas constantes na região. Toda vez que o carteiro ia, era assaltado. Embora cause um grande transtorno à população, foi a única alternativa. Pelo menos até encontrarmos uma solução para entregarmos as correspondências”, explica o coordenador da área de operações dos Correios em Alagoas, Sergio Belo.
Para ele, o assalto a carteiros é uma prática difícil de ser contida por conta do grande número de funcionários atuando ao mesmo tempo e em vários locais. “Já fizemos reuniões com a Secretaria de Defesa Social, mas sabemos que esse controle é complicado. A PM realiza acompanhamentos, mas o número de assaltos vem crescendo”, alerta.
Sergio conta que na primeira comunidade onde os serviços foram suspensos, no ano passado, a solução encontrada foi a realização de mutirões. “Mandamos vários carteiros em um único dia. Todos juntos diminuem o risco de assaltos”, explica Sérgio, se referindo à comunidade do Virgens dos Pobres, na periferia da capital.
Neste sábado (15), a reportagem do UOL Notícias acompanhou parte de um mutirão na comunidade. No local, a lei do silêncio impera. Nenhum morador quis falar sobre o assunto. “Aqui a gente entrega as cartas e sai rápido. Ninguém vê nada que acontece”, explicou um dos quatro profissionais dos Correios que foram à comunidade.
Belo afirma ainda que os Correios disponibilizam acompanhamento psicológico aos profissionais vítimas de assaltantes. Por conta da onda de violência, a empresa orienta os carteiros a portarem apenas um documento de identidade no momento das entregas.
Para o presidente do Sindicato, uma das soluções seria retirar da entrega os materiais de valor. “O cliente receberia uma carta pedindo para comparecer à agência mais próxima. Pedimos isso à empresa, mas até agora não fomos atendidos”, diz Balbino.
Carteiro transferido
Vítima de dois assaltos, um carteiro contou ao UOL Notícias que deixou de fazer entregas após denunciar assaltantes do bairro onde atuava.
“No primeiro assalto, o cara me apontou uma arma e dei a bolsa. Na segunda vez, resolvi desobedecer e corri. Anotei a placa do carro e informei na hora a empresa e a polícia, que prendeu os bandidos”, contou o funcionário, que pediu para não ter a identidade revelada.
Desde o acontecimento, ele foi transferido e hoje trabalha na parte operacional dos Correios. “A empresa achou por bem me transferir por temer retaliação dos criminosos. Concordei”, falou.
Novo comandante desconhece problema
O novo comandante de policiamento militar da capital, tenente-coronel Valdir Pereira, disse que ainda não foi informado da suspensão dos serviços dos Correios em comunidades de Maceió, mas pretende apoiar a empresa.
“Peço que eles [dos Correios] nos procurem para tentarmos encontrar soluções. Vamos analisar o horário que o carteiro passa para assim dar apoio”, informou o comandante, que assumiu o cargo na última quarta-feira (12).
Carteiros do Rio sofrem desde 1994
Assaltos a carteiros não são novidades no país e há tempos são registrados em grandes centros, principalmente no Rio de Janeiro. O assunto chegou a ser ponto de questionamento dos empresários no julgamento do monopólio dos Correios pelo STF (Supremo Tribunal Federal), no último dia 5.
Um ofício enviado pelos Correios a um banco – apresentado como argumento no processo pelos empresários – confirma que a suspensão de entregas de cheques e cartões, em áreas de risco da capital fluminense, existe desde 1996. “Assaltos acontecem desde 1994”, diz o documento. Segundo os empresários, entregadores à paisana particulares correriam menos riscos. O STF decidiu pela manutenção do monopólio.