Criatividade, alguns instrumentos e, claro, talento. Essas são as características necessárias para transformar matéria-prima em arte, neste caso, em arte em madeira. Arte essa que não fica pronta assim, tão rápido e pode demorar dias, meses e até anos para ser finalizada, a depender da complexidade da peça.
Para a escultura alagoana Cida Vieira, o grande trabalho se torna um prazer e pelas suas mãos nascem animais, folhas, cadeiras, mesas e até objetos abstratos, a partir de um simples tronco de Jaqueira. Suas peças compõem a última atração da exposição Eu Amo Maceió, que segue no Parque Shopping até o dia 31 de março, levando artesanato e produtos da economia solidária de todos os cantos do Estado.
Já se foi o tempo em que as mulheres executavam apenas os trabalhos domésticos e se limitavam em não fazer os trabalhos que exigiam força física e mental. Atualmente, o sexo feminino vem dominando o espaço das artes. Cida é natural de Boca da Mata, e antes de se tornar escultora, era artesã mas, não trabalhava com madeira. Suas experiências com madeira se iniciaram ajudando o marido, também escultor da escola de Manoel da Marinheira. Porém, a perda de seu companheiro em um acidente de trânsito, a forçou a mudar completamente sua postura de ajudante.
“Meu marido trabalhava como escultor e todas as suas obras eram inspiradas no artista Manoel da Marinheira, e pouco antes de ele falecer eu tentava fazer algumas peças. Quando ele partiu não pude deixar que essa arte tão bonita também acabasse. Então comecei a colocar a mão na massa para apender mais e me tornar uma profissional. Com isso, passei a me sustentar, desde então não parei. Isso é minha paixão”, disse a artista.
Trabalhando neste ofício há 16 anos, Cida até já perdeu as contas de quantas peças já fez. “Acredito que eu já produzi ao longo desses anos mais de cinco mil peças, porém pode ser que eu tenha produzido mais. Trabalho em ritmo frenético e agradeço a ajuda de meu pai e de meu filho que fazem o serviço mais pesado, como tirar a casca da madeira e cavar uma gamela. Mas, todas as criações são minhas, ainda nem me dei conta ao exato de quantas eu já fiz”, afirmou Cida.
Hoje a artista reside na Praia Francês, localizada no município de Marechal Deodoro, com seus três filhos e disse que suas obras são inspiradas nos bichos e no estilo do artista Manoel da Marinheira. Sua paixão é produzir coisas da natureza como animais, folhas e frutas estilizadas, além de mesas, bancos, cadeiras e outros objetos abstratos que saem de sua mente. Tudo é confeccionado com madeira da Jaqueira vinda de sua cidade natal Boca da Mata.
Cida conta que hoje consegue viver bem e sustenta a família com o dinheiro das vendas de suas obras, que variam de R$ 150 a R$ 30 mil. Ela explica que as peças mais caras são as mais trabalhadas e as que levam mais tempo para serem feitas, pois segundo ela, o trabalho com a madeira é muito desgastante e uma produção deve ser bem pensada e produzida.
O talento da escultora já ultrapassou as fronteiras brasileira. Hoje suas peças encantam o Brasil e países do mundo todo. “Muitos turistas brasileiros e estrangeiros já passaram pelo meu ateliê, já vendi peças para Alemanha, Suíça, Estados Unidos, França e Canadá. Na maioria das vezes, eles vêm por indicação de alguém ou dos hotéis onde ficam hospedados e muitos disseram que não sabiam que aqui em Alagoas existia um trabalho tão belo quanto o meu. É uma satisfação enorme esse reconhecimento do meu ofício que é resultado de muitos anos de dedicação. Me sinto muito feliz”, contou a escultora.
Cida disse que inicia várias obras ao mesmo tempo, pois como tem muitas ideias em mente, ela precisa colocá-las em prática antes que as esqueça. Tem dias que a escultora chega a fazer 20 peças ao mesmo tempo e ao decorrer do trabalho elas vão ganhando formas e até se diferenciando daquilo que foi pensado antes.
Para a escultura não existe uma peça igual à outra, “Esculpir é muito do momento e por isso não é possível reproduzir uma obra semelhante à outra, cada uma tem a sua diferenciação, são trabalhos diferentes”, disse a escultora.
A artista disse que muita gente já perguntou se ela tinha o interesse de esculpir em outros materiais e ela disse que não, pois a madeira é a sua paixão e foi um legado deixado pelo seu falecido marido. Hoje esculpir em madeira é o seu maior prazer, pois se trata de uma obra-prima vinda de sua cidade natal, Boca da Mata.
Os certificados na parede da sala da escultura revelam o tamanho de seu talento, Cida ganhou no ano de 2010 o prêmio de melhor obra na exposição do Salão de Artes da Marinha em Alagoas, com a obra “O gato”, que ficou conhecida mundialmente e procurada por muitos, mas Cida não a entrega por valor algum, pois se trata de um prêmio importante para sua carreira. A obra encontra-se hoje na sala da casa da artista.
Na exposição Eu Amo Maceió, Cida levou diversas peças e conta que a parceria com a Prefeitura é uma grande oportunidade para divulgar seu trabalho. “Pra mim é um prazer enorme ter minhas criações em uma exposição como esta, embora eu tenha mais trabalho para idealizar uma peça, pois se trata de um evento grande. A exposição Eu Amo Maceió traz expectativas de vendas e de divulgações. Estar em um shopping da cidade onde o movimento é grande, significa reconhecimento”, destacou.
A Exposição está no Parque Shopping desde dezembro e já comercializou cerca de R$ 40 mil em produtos. A ação é fruto de uma iniciativa da Prefeitura de Maceió, por meio da Semtabes, e do Parque Shopping que conta ainda com o apoio das empresas Braskem, Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (Fiea), Sebrae em Alagoas, Associação Comercial de Maceió, APL Móveis, Casas Jardim e Governo do Estado, além do apoio da Fundação Municipal de Apoio à Cultura (FMAC).
“É muito bom ver o resultado de uma união de forças. Fomos em busca de parcerias e graças a elas e ao esforço da nossa equipe da Semtabes, alcançamos o nosso objetivo, dar mais visibilidade à produção artesanal de Alagoas e o trabalho da economia solidária de Maceió. Nestes meses, eles geraram renda, por meio da comercialização dos produtos, mas, acima de tudo o que fica é ter a certeza de que suas produções podem ocupar qualquer espaço no mercado. A autoestima deles melhora quando surgem ações deste tipo. O apoio a ações de acesso a mercado são nosso foco no momento”, destacou a secretária municipal do Trabalho, Abastecimento e Economia Solidária, Solange Jurema.
