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Negócios/Economia

Artesanato em couro de tilápia é alternativa para sertanejos

Produção de sandálias por o couro da tilápia é geração de renda para o sertanejo

O sabor do peixe tilápia é irresistível. A preparação de pratos com a iguaria tornou-se, inclusive, o carro-chefe de alguns restaurantes. O que ninguém imaginava é que este peixe poderia dar, além de sabor à mesa, dignidade e renda para um grupo de artesãos na cidade de Piranhas, sertão de Alagoas, localizada a 290km de Maceió.

Bolsas, sandálias, cintos, carteiras, capa para agendas, bijouterias e dezenas de acessórios para cabelo são os produtos confeccionados a partir do couro do peixe pela Associação dos Artesãos em Couro de Tilápia (AACT), um exemplo de que parcerias entre poderes públicos e instituições privadas podem dar certo.

As mãos ágeis confeccionam adornos que encantam os olhos e mudaram a realidade dos sócios que hoje, através da venda dos produtos, conseguem custear as despesas e ter rentabilidade. “Apesar de termos ainda uma pequena rentabilidade, as vendas conseguem manter a associação sem termos que custear as despesas do nosso próprio bolso, como acontecia anteriormente”, explica a presidente Maria Cleonice Soares Vitor.

Além do custeio, a associação já adquiriu maquinário e investe parte do que recebe em matéria-prima e aprimoramento das técnicas e design utilizados nas peças.

Para chegar ao patamar de hoje, foi preciso capacitação e empenho. A associação foi fundada há três anos pelo governo do Estado, através do APL Piscicultura, e conta com o apoio do Sebrae e parcerias com a prefeitura de Piranhas e instituições de apoio.

O salto de qualidade veio após uma consultoria do Sebrae, que incentivou o grupo a alugar um ponto comercial no centro da cidade, o que facilitou o deslocamento, tornando viável a produção contínua. “Hoje a gente tem um ponto perto das nossas casas, o que facilita o nosso deslocamento porque estamos mais perto dos nossos filhos e dos nossos afazeres”, diz a presidente.

Associação estuda viabilidade de exportação

Atualmente, a produção mensal de cerca de 500 peças pode ser vista no Centro de Artesanato de Piranhas, em feiras realizadas nas principais capitais do país e até mesmo em vias de serem apreciadas por estrangeiros. A associação, juntamente com o governo do Estado, está viabilizando a exportação das peças para a Inglaterra.

Para o gestor de projeto do APL Piscicultura, Miguel Alencar, a AACT é um dos exemplos de prosperidade dentro do grupo de 14 associações com que ele trabalha. “Este tipo de artesanato confeccionado a partir do couro da tilápia tem chamando a atenção de diversas instituições que estão se oferecendo para serem parceiras. Este é o resultado da dedicação destes artesãos, que são um exemplo entre o grupo de associações que trabalho”, disse.

Miguel explica que o governo de Alagoaso dá todo o apoio ao projeto, inclusive buscando parcerias para a venda dos produtos, bem como para garantir o estoque da matéria-prima. “Conseguimos uma parceria com uma fábrica de ração para peixes em Paulo Afonso, cidade baiana vizinha, que fornece o couro da tilápia para a associação, o que garante o estoque da matéria-prima”, ressaltou. Ao todo, são cerca de 400kg de couro fornecidos mensalmente.

Alencar acrescenta que o governo estadual também viabiliza capacitações para o grupo. As capacitações, inclusive, têm rendido frutos. Um dos sócios, Manoel Rodrigues, hoje é professor e ensina a confecção de produtos.

Os cursos disponibilizaram o desenvolvimento de novos designs para as peças, criadas pelos próprios artesãos. “O Sebrae prestou uma consultoria de design das peças e hoje eles mesmos criam alguns modelos”, enfatiza Miguel.

Um dos modelos desenvolvidos pelos próprios artesãos é uma sandália feita em couro de tilápia e couro de bode. O design das peças é inspirado em temas sertanejos, como a caatinga, o cangaço e o Rio São Francisco, elementos presentes na realidade dos artesãos.

Além do curso de design, o grupo participou de capacitação para o curtimento da pele, que é feito através de processo orgânico, isento de tratamentos químicos poluentes. Os artesãos aprenderam, inclusive, a retirar a casca do angico, utilizada no processo de curtimento do couro, sem que a árvore seja prejudicada.

Os associados participaram de cursos na área de vendas, aprimorando a contabilidade da associação. Mensalmente, são vendidas cerca de 150 peças, garantindo, em média, R$ 100,00 por sócio. Parece pouco, mas diante da realidade dos homens e mulheres do Sertão, que sofrem com a escassez de trabalho, o valor auxilia na composição da renda familiar.