Morando na casa da sogra por conta de dificuldades financeiras, a dona de casa Rosiele Tenório faz malabarismo para comprar o leite do filho mais novo, o pequeno Railan, de um ano e oito meses. Com o pacote de 200 gramas a quase R$ 10, ela gasta quase R$ 300 só com o alimento, que também é consumido pelo filho mais velho, o Ravi, de 5 anos.
Além dos dois meninos, tem também a Rilary, de 3 anos, e tantas bocas para alimentar gera um custo que nem sempre a família consegue arcar. Por isso, uma ajuda que passou a chegar este mês na casa deles gerou alívio à jovem mãe.
Por meio do Programa Primeira Infância Cidadã (PPIC), a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) começou a distribuir pacotes de leite em pó para as famílias em situação de vulnerabilidade que tenham crianças de 1 a 3 anos ou, no caso daquelas que tenham alguma deficiência, até 6 anos de idade.
São dez pacotes por mês, pelo programa Leite é Massa, que vão beneficiar mais de 1.300 meninos e meninas moradores de bairros da periferia de Maceió, como o Vergel do Lago, onde mora Rosiele e os filhos.
“O meu filho menor já toma leite com Mucilon, mas o leite tá quase dez reais e ele toma um pacote por dia, chega a quase 30 pacotes por mês. Com essa ajuda, já vou usar o dinheiro para comprar fralda e comida. O programa me ajuda muito em tudo”, afirma.
A ajuda do PPIC a que Rosiele se refere vai além do benefício da ação Leite é Massa. Ela abrange as visitas realizadas pelas assistentes sociais, enfermeiras e outras profissionais às mulheres e crianças que possuem o perfil do programa.
O acompanhamento começa ainda na gestação, quando as mães recebem orientações sobre o parto, amamentação, cuidados com o corpo, além de esclarecimentos sobre violência contra a mulher e assistência psicossocial.
Valdenice Lôpo da Silva, visitadora social do PPIC do Cras Área Lagunar, é quem acompanha Rosiele e os filhos. Ela explica que para entrar no programa, a família precisa ter Cadastro Único e estar com o Número de Identificação Social (NIS) atualizado.
Quando um bebê nasce, é papel da visitadora agendar um horário para que a mãe insira o novo integrante no cadastro e, assim, garantir o recebimento de benefícios direcionados a esse público, como o Auxílio Brasil, o Cria, o BPC e outros.
“O acompanhamento também traz conversas com a gestante sobre como ela está se sentindo em relação à gestação. Esse atendimento envolve vários aspectos. Depois que a criança nasce, vem o acompanhamento dela também. É uma ação muito necessária, elas ficam muito alegres. E com a distribuição do leite, a gente está contribuindo para alimentar as crianças e até outras pessoas da família, ou seja, é uma ajuda muito grande”, reforça a visitadora.
Sthefane Alves conhece bem a dificuldade em comprar alimentos para o filho, Wiliam Gael, de um ano e cinco meses. Ela é marisqueira, mas está parada porque a cheia da Lagoa Mundaú em julho deste ano, por conta das chuvas, tornou o sururu escasso e tirou a renda de quem sobrevivia da venda do marisco.
Para comprar o leite do bebê, conta com a ajuda do pai e da mãe, e dos R$ 150 que recebe do programa Cria. “É a primeira vez que estou recebendo e é uma boa ajuda. Com o dinheiro que vou economizar, já compro a fralda e a massa”, diz.
Quem também comemora a ajuda é Suelaine Vitória da Silva Pimentel, mãe de Ravi, de 2 anos. Moradora do Virgem dos Pobres, ela vende feijão verde para sustentar a pequena família, formada somente por mãe e filho.
O que complementa a renda é o Auxílio Brasil, mas boa parte vai para o aluguel e quase não sobra para as demais despesas. “Sou sozinha, ninguém me ajuda. O que recebo de benefício é para pagar a casa e comprar as coisas dele. Dá para sobreviver”, conta.
Por isso, os benefícios recebidos por meio da Assistência Social são importantes para ela, que tenta dar o melhor ao pequeno Ravi, mesmo com o pouco tempo que sobra após voltar para casa de um dia de trabalho.
A visitadora que acompanha Suelaine é a enfermeira Morgana Carolina dos Santos Gonçalves. Ela conta que tem encontrado no PPIC realidades difíceis, em que algumas mães deixam de comer uma ou mais refeições para garantir que os filhos se alimentem.
Com a cheia da Lagoa Mundaú, Morgana ressalta que muitas famílias perderam muita coisa e a situação ficou mais difícil, por isso o programa Leite é Massa se torna essencial para garantir a alimentação das crianças menores em situação de vulnerabilidade.
O Cras Área Lagunar é um dos 16 Centros de Referência da Assistência Social existentes em Maceió que atuam no atendimento das famílias em situação de vulnerabilidade com programas como o PPIC.
Só esse Cras vai atender nos próximos dias 19 famílias com o programa Leite é Massa, cada uma com 10 pacotes de leite. Para o secretário de Assistência Social de Maceió, Claydson Moura, a ação atende a uma necessidade das famílias que é urgente.
“Eu conheço a realidade das mães pobres e vi o depoimento de uma delas, que não tinha o que dar de comer ao filho de 9 meses. O programa Leite é Massa vai garantir que as crianças tenham um alimento e, até mesmo, que as pessoas da família tenham um alimento que nem sempre conseguem comprar com os benefícios já garantidos pela Assistência Social”, declarou.