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Política

Aliados defendem Sarney contra pedido de renuncia feito por Simon

Senador Renan defende Sarney

Mais uma vez, o parlamentar peemedebista defendeu a saída de José Sarney (PMDB-AP) da presidência do Senado. Durante o pronunciamento do senador gaúcho, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), aliados de Sarney, fizeram duras críticas a Simon.

Em um aparte, Calheiros disse que o esporte preferido de Simon é falar mal de Sarney. “As pessoas intrigam, mas eu gosto de Vossa Excelência. Só lamento que o esporte preferido do senhor nos últimos 35 anos tenha sido falar mal do Sarney. Quando o PMDB indicou o presidente Sarney para ser vice-presidente do Tancredo Neves, desde aquele momento que o senhor fala mal do Sarney, porque queria ser o candidato a vice-presidente do PMDB e não conseguiu”, disse Renan.

“Isso é mentira, o senhor está inventando”, rebateu Simon. Calheiros ainda afirmou que Simon teria, em reuniões fechadas, apoiado a candidatura de Sarney à presidência do Senado. “Sou testemunha das reuniões da bancada em que Vossa Excelência pedia que o Sarney saísse presidente do Senado. Não entendo como Vossa Excelência fala mal de algumas pessoas, pede para as pessoas saírem e, em circunstâncias iguais, Vossa Excelência cala, silencia. Isso é o que lastimo em Vossa Excelência”, argumentou Renan.

“Recebo as afirmações de Vossa Excelência com muita tranquilidade. Acho que Vossa Excelência, como líder e como presidente [ex-presidente do Senado], é uma figura controvertida”, rebateu Simon, dizendo que Calheiros muda de posição conforme seus interesses políticos. “O senhor fez um acordo na China com o Collor e, na véspera dele ser cassado, o largou”.

Visivelmente nervoso, com respiração afegante, Collor disse que Simon deveria “engolir” e “digerir” suas palavras “como julgar conveniente”. “As minhas relações com o senador Renan Calheiros são conhecidas e das quais não me arrependi”, disse Collor, negando a existência da reunião com Renan na China. “O senhor fala sem saber o que aconteceu, não é testemunha. Tudo aquilo é pura invencionice”, afirmou Collor.

Senador da oposição também defendeu enfaticamente Sarney

Ao defender o presidente da Casa, José Sarney, o senador Papaléo Paes (PSDB-AP) afirmou nesta segunda-feira (3) que o Senado vem sendo “tumultuado por discursos repetitivos, discursos de golpe, que são inaceitáveis”. Para ele, há uma diferença entre pedir a licença ou a renúncia de Sarney – o que, ressaltou, é admissível – e a prática sistemática de discursos que “dão a sensação de golpe”.

– Sarney foi eleito e tomou posse. Sai da Presidência do Senado se quiser. É uma decisão de foro íntimo – declarou ele.

Ao criticar os colegas que discursam sistematicamente contra Sarney, Papaléo disse que eles “jogam para a torcida” e que isso é perigoso para o Senado.

– Não se pode deixar esta Casa morrer. Ela é fundamental para o processo democrático. Ela equilibra a democracia. O Legislativo não pode ser unicameral – argumentou ele.

Segundo Papaléo, esses senadores estão entre os responsáveis pela imagem negativa da Casa perante a opinião pública. Ele afirmou que “há uma hipocrisia entre tais parlamentares, pois se houvesse uma votação secreta [para decidir quanto a uma possível cassação de mandato], Sarney ganharia; se fosse aberta, creio que perderia”.

Mais calmo, Collor pediu a palavra e mais uma vez atacou Simon e defendeu Sarney

O senador Fernando Collor (PTB-AL), defendeu, nesta segunda-feira (3), a permanência no cargo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), manifestando a ele sua solidariedade por já ter sofrido “tudo que ele está passando”. Collor questionou o papel da mídia nas crises anteriores, como a sofrida pelo presidente Getúlio Vargas, que acabou se suicidando em 1954, e por ele próprio, que renunciou à Presidência da República em 1992.

– Sei como essas coisas são urdidas, fabricadas, vazadas. Sei como essas coisas correm nos subterrâneos dessa imprensa que deseja que esta Casa se agache a ela, a esses ou aqueles que acham que podem mandar também numa Casa democrática, livre, independente como o Senado da República – disse.

Ainda questionando o papel da imprensa, Collor citou exemplos do que chamou de “mau jornalismo” e “fraude”: segundo o senador, a revista Veja teria colhido informações sigilosas a respeito de seu então tesoureiro de campanha, Paulo Cesar Farias, que legalmente não poderiam ser publicadas. Para que isto ocorresse, disse, o então deputado José Dirceu declarou ter recebido os dados anonimamente, para em seguida repassá-los à revista, que então publicou os dados sem cometer crime.

Collor disse ainda que Roberto Pompeu de Toledo, articulista da Veja, teria procurado o então ministro do Supremo Tribunal Federal Ilmar Galvão, relator do seu caso naquele tribunal, e teria oferecido a capa da revista e uma entrevista nas páginas amarelas caso o declarasse culpado. Segundo Collor, o jornalista foi expulso do gabinete do ministro.

– Nem Dirceu nem Roberto Pompeu de Toledo podem desmentir isso – disse, ressaltando saber de outros 25 casos como estes.

O parlamentar também classificou o movimento dos “caras-pintadas”, que fortaleceu a pressão em favor de seu impeachment, como um “movimento estético-cultural” que “foi urdido”, exemplo de que “nem sempre as vozes das ruas são as vozes que estão mais abalizadas para emitir uma opinião isenta”. Collor também revelou que o então governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola o teria procurado para recomendar-lhe que resistisse durante o processo de cassação de seu mandato, ao contrário do que fez Getúlio Vargas.

Collor também rebateu discurso do senador Pedro Simon (PMDB-RS), que o havia antecedido na tribuna, dizendo que o parlamentar gaúcho tem repetidamente feito comentários em Plenário que o ofendem.

Instado por alguns senadores para retirarasse as palavras ofensivas dirigidas a Simon em aparte, Collor disse lamentar, mas declarou que mantinha o ataque ao senador gaúcho. O parlamentar alagoano mandou Simon “engolir suas palavras, digeri-las e depois fazer com elas o que quisesse”.

Collor voltou a pedir que Simon não cite mais o seu nome e corrigiu o que chamou de “erro histórico”: ele nunca o teria convidado para compor a sua chapa, nas eleições de 1989, como candidato a vice-presidente como a imprensa e o próprio Simon teriam divulgado à época.