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Cultura

Alagoas está no mapa da genuína música carnavalesca

O compositor Jucá Santos rememora os grandes nomes da música carnavalesca alagoana

Abram alas porque a música de Carnaval genuína de Alagoas pede passagem. Ao longo de mais de 50 anos, compositores da estirpe de Jucá Santos, autor do frevo-canção “Evocação de Alagoas”; Juvenal Lopes, Edécio Lopes, Eliezer Setton, Ricardo Mota e muitos outros desfilam sua veia poética, com versos e prosas em marchinhas e frevos que fizeram e fazem muita gente cantar, brincar e viver.

Sem falar em gente como o famoso José Luiz Rodrigues Calazans, o “Jararaca”, compositor alagoano que ultrapassou fronteiras e botou o Brasil e ganhou o mundo, com a imortal, atemporal e hino do Carnaval que girou o mundo: “Mamãe eu quero”.

Ao longo do tempo, são marchinhas, frevo-canções e sambas que eternizaram um gênero de música popular que está presente no Carnaval de milhares de alagoanos, desde a década de 40. “Antes era tudo de Pernambuco, principalmente o frevo e as canções de Capiba. Depois Alagoas se firmou, quando começou a luzir a estrela dos grandes compositores, maestros e carnavalescos de Alagoas. A crítica social, de forma mordaz, porém alegre e graciosa, era o tom das nossas genuínas composições de Carnaval”, relembra o jornalista e compositor Jucá Santos, um folião setentão que sabe tudo de música carnavalesca. Chegou até mesmo a emplacar um bolero nas paradas de sucesso na voz de Waldick Soriano.

Para contar um pouco dessa história dos compositores alagoanos no Carnaval, temas usados e as letras, Agência Alagoas conversou com três carnavalescos autênticos que entendem bem o que significa a gênese da “folia” genuinamente alagoana.

O compositor Jucá Santos deu uma canja sobre a musicalidade dos Carnavais alagoanos nesses anos.

Evocação de Alagoas

Compositor, advogado e jornalista, Jucá Santos, 77 anos, tem energia de sobra para contar como emergiu e se manifestou a musicalidade alagoana nas composições do Carnaval. “Até 1946, as músicas de carnaval que tocavam pelas ruas eram essencialmente dos frevos pernambucanos. Mas a partir de então, alguns compositores daqui começaram a se aventurar”, lembra Jucá, que viu uma de suas composições virar hit na metade dos anos 70.

A composição de Jucá teve direito a mais de 10 regravações em Long Plays, os saudosos “bolachões” de 78 RPMs, quando Maceió aderiu ao disco de frevos autênticos, tocadas por orquestras que marcaram época nos anos 70, como a Big Banda Show, do maestro Ivanildo Rafael, e o Carnaval Temperatura, do maestro arapiraquense Jovelino Lima.

“Essa foi a era de ouro das composições de Carnaval em Alagoas. Época que tínhamos o Banho de Mar à Fantasia que ocorria uma semana antes do Carnaval e a pessoas iam à praia e sabiam as músicas de cor”, lembra Jucá, ao fazer referência também aos blocos “Amigo da Onça” e “Vulcão” que arrastavam milhares de foliões na praia da Avenida, ao som do frevo autêntico com marchinhas e bordões.

“Uma das primeiras composições feita por gente de Alagoas foi a ‘Sururu da Nega'”, diz ele. “É da favela, é Nega Juju, nasceu no rancho da Terra do Sururu(…)”, diz um dos trechos mais famosos da marchinha composta por Aristóbulo Cardoso e Pedro Nunes.

“Desses primeiros compositores de marchinhas lembro-me de figuras como Aldemar Paiva, Luiz Bandeira, que compôs a famosa trilha do Canal 100, que virou clássico na TV e no cinema e versava sobre futebol, além de nomes como Sabino Romariz, Marcos Costa e outros”, conta.
No caso de Jucá, o seu frevo-canção que virou sucesso, “Evocação de Alagoas”, foi composto em parceria com Alves Damasceno, em 1977, ao participar de um festival de músicas carnavalescas. “Ela, porém, foi gravada no ano seguinte pela Big Banda Show, no disco chamado Ala Frevo”, relembra.

A composição de Jucá exalta personalidades como Graciliano Ramos e Jorge de Lima e os bairros da capital que exalavam um certo glamour com as fantasias do Carnaval. “Relembro as Alagoas do passado, fascinado e com saudades mil… Relembro as Alagoas gloriosas, essa estrela radiosa no céu do Brasil (…)”, diz um dos trechos de sua música.]