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Negócios/Economia

Agricultoras se associam e vendem produtos a programa de alimentos

Josefa Mendes da Silva, 24 anos, é universitária do curso de Letras da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), mora na comunidade Taboquinha, zona rural de Arapiraca, e pretende pagar os custos da formatura, nos próximos dois anos, com dinheiro do próprio trabalho.

Ela e outras 20 mulheres da comunidade são agricultoras, mas enxergam no trabalho coletivo, por meio de uma associação, a oportunidade para melhorar de vida, ajudar a família e ter mais segurança financeira. Elas produzem bolos, doces e broas, e vendem para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Compra Direta Local da Agricultura Familiar.

Cada uma das associadas pode vender até o limite anual de R$ 3,5 mil ao PAA, mas esse valor passará para R$ 4,5 mil a partir de 2010. A novidade anima ainda mais Josefa Mendes, que produz broas. “O nosso êxito já despertou nas outras agricultoras o interesse. Para todas nós, é importante o apoio da família e dos técnicos que nos acompanham desde o início”, comenta.

Dentro do grupo, cada uma das que produzem bolos têm uma cota anual para fornecer 700 quilos do produto ao PAA. Cada uma das doceiras deve fornecer 500 quilos do produto por ano, e cada “broeira” deve entregar à central 437 quilos da iguaria por ano.

Quem também está satisfeita com a participação na associação e o aumento no valor da compra para o próximo ano é Laudjane da Conceição Silva, de 26 anos. Com o dinheiro que ganha como associada, ela já comprou uma motocicleta. “Agora ficou melhor pra me locomover, resolver minhas coisas”, conta com um sorriso no rosto.

Dona Valdeci Amerina da Silva é outra agricultora que participa da associação. Ela produz doce de caju, melancia, goiaba, leite e banana, de acordo com as frutas da estação, e revela que em apenas um dia e meio de trabalho pode ganhar R$ 400,00. “Na roça, eu só ganho isso se trabalhar o mês inteiro”, afirma.

Primeiros passos — Mas nem sempre foi assim. O empreendedorismo das mulheres de Taboquinha começou a partir do acompanhamento de técnicos extensionistas da Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (Seagri), em 2005. Elas se interessaram em produzir bolos, doces e broas. Depois disso, foram capacitadas em associativismo. Desde 2008, elas vendem a produção ao PAA Municipal e o restante é vendido em casa ou sob encomendas para festas e eventos.

“Elas descobriram as aptidões e os sonhos. Esse é um trabalho de extensão com enfoque participativo”, revela a extensionista social da Seagri, Valdenice dos Santos. “Organização é uma questão educativa e processual, ela acontece a longo prazo”, completa.

Valdenice e o técnico agrícola Elielton Amaral, da Gerência Regional da Secretaria de Estado da Agricultura em Arapiraca, acompanham o grupo e fornecem orientações sobre produção, comercialização e associativismo. Para o engenheiro agrônomo José Chaves, gerente regional da Seagri, a organização desse grupo de agricultoras serve de exemplo para todo o Estado. “Isso acontece por que o técnico vive a realidade da comunidade, desenvolve um trabalho pioneiro”, afirma Chaves.

Outro fator que colabora para o êxito das mulheres empreendedoras de Taboquinha é revelado pelo técnico Elielton. “A parceria entre o Estado, a Prefeitura e a União funciona muito bem”, diz. Mesmo com a produção e as vendas constantes ao PAA, as 21 mulheres não deixaram a agricultura. Como a maioria só precisa ir para a unidade produtiva dois dias por semana, os demais são dedicados ao trabalho na lavoura ou criação de animais.

Até agora, elas já tiveram um curso de preparo de alimentos à base de macaxeira e mandioca, promovido pelo Arranjo Produtivo Local Mandioca no Agreste, em parceria com a Seagri e o Sebrae/AL, e um curso de preparo de alimentos à base de fécula, promovido pelo Consórcio Intermunicipal do Agreste (Consiagri), por meio do Senai.

Entre as 21 associadas, Nadieje Antônia da Silva é uma das mais confiantes. Em 2008, com as economias que ganhou do PAA, ela comprou o forno que até hoje é utilizado na cozinha adaptada onde elas preparam os alimentos. Este ano, com orientação técnica, ela fez um empréstimo junto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf B) para estruturar a unidade produtiva.

“No início elas não tinham nenhum capital para investimento, mas agora todas já possuem alguma coisa”, declara a técnica Valdenice dos Santos. Quando questionadas sobre as ambições para o futuro, todas as associadas são enfáticas: continuar vendendo para o PAA, criar uma associação específica de mulheres, com CNJP e estatuto social, e participar da licitação para fornecer alimentos à merenda escolar do município. A associação da qual elas participam é apenas comunitária.

De acordo com o secretário de Agricultura de Arapiraca, Manoel Henrique, elas estão no caminho certo para que isso aconteça. “O município vai comprar 30% da merenda de produtos da agricultura familiar, como manda a lei, e a associação de Taboquinha pode ser contemplada”, explica.

Segundo ele, a participação nas compras do PAA não impede a mesma associação de concorrer à licitação e fornecer alimentos à merenda escolar. Atualmente, de acordo com Manoel, o PAA Compra Direta Local da Agricultura Familiar investe mais de R$ 1,2 milhão, com contrapartida de R$ 66,5 mil do município.

“Em 2006, quando o programa começou, eram só R$ 238 mil investidos. Hoje, já são 78 entidades beneficiadas com a doação dos alimentos adquiridos, entre escolas, creches e outras instituições”, diz o secretário municipal. Há uma variedade de 34 alimentos fornecidos ao PAA, com 365 agricultores familiares fornecendo constantemente e garantindo renda e inclusão produtiva no campo. Entre os produtos fornecidos, estão abacaxi, banana, mel, farinha, macaxeira, bolos, doces, abóbora, ovos e peixe.