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A vocação econômica municipal

Desenvolvimento e geração de renda dependem da visão vocacional dos dirigentes dos municípios.

Em vários municípios esta vocação surgiu independentemente da interferência programática do poder público, pois as riquezas inatas de seus solos e subsolos, topografias, rios, oceano, clima e outros fatores naturais levaram naturalmente as pessoas à exploração destas riquezas, determinando a sua vocação econômica por proporcionar desenvolvimento, riqueza e renda, e então chamar a atenção das autoridades públicas para melhoria da infraestrutura, incentivos e acessos para escoamento da produção.

Em outros municípios, em pequeno número, a ocorrência de um evento ocasional é que direcionou a escolha da atividade econômica principal do município, como a descoberta de minério valioso, instalação isolada de um grande hotel, de um mega estaleiro ou porto, de uma mega indústria, como também a beatificação ou canonização de religioso ou religiosa residente na cidade.

Porém na maioria dos municípios a atividade econômica é ampla e desconexa entre si, não tendo uma que seja a âncora e que proporcione aos outros segmentos produtivos protagonismo complementar e necessário a um desenvolvimento contínuo e consistente para enfrentar crises econômicas pontuais. Neste caso o poder público municipal é o ator principal para que a comunidade decida, consensualmente, qual atividade econômica será a mais significativo na geração de emprego e renda e como será a atenção às demais atividades para que também ganhem com a decisão.

Quando a principal vocação econômica do município ainda está indefinida, o ideal é o processo que envolva a comunidade na decisão de escolha é a realização de audiências públicas, mecanismo muito divulgado e utilizado atualmente. Quando este exercício é bem utilizado apresenta ótimos resultados, mas para isso aconteça, o ator principal – o poder público, tem que exercer a liderança que proporcionou a sua escolha popular no último pleito eleitoral e conduzir de forma produtiva estes encontros, planejando como se desenvolverão para que resultem no resultado esperado.

No nosso contexto, em decorrência da dinamicidade econômica municipal provocada pela ansiedade dos agentes econômicos em produzir incremento de receitas e da população na melhoria de sua renda e bem-estar, o segmento que está melhor atendendo estas necessidades vão, paulatinamente, se tornando o vetor da definição da principal fonte de produção da renda municipal. Esta é a dinâmica que estamos observando em Penedo.

Após um longo período de encolhimento econômico, originado pela instalação do porto marítimo de Maceió, que provocou o encerramento do polo comercial aqui instalado, diversas iniciativas foram tentadas para reverter a situação, porém em decorrência de novas variáveis incontroláveis a curva descendente não foi revertida. Mas foi deixado um legado inestimável: a festa de Bom Jesus dos Navegantes, o patrimônio artificial constituído pelas belas edificações da belle époque e o imperecível Rio São Francisco, carinhosamente tratado Velho Chico.

A festa de Bom Jesus dos Navegantes, evento religioso mais antigo e maior de Alagoas, sempre provocou um grande e crescente fluxo de pessoas a Penedo, esgotando a capacidade dos hotéis e restaurantes da cidade nos dias de sua realização. Esta continuidade despertou as pessoas a começarem a investir, ainda de modo incipiente, na instalação de novos equipamentos para atender a demanda reprimida.

Vagorosamente as diversas administrações passadas do poder público começaram a visualizar a importância que os eventos podem provocar no desenvolvimento do segmento do turismo e assim tornar-se a principal fonte de produção de renda e emprego para o município, considerando que as outras atividades econômicas não apresentavam um desempenho necessário para atender a criação de novos empregos, que sempre foi prometido nas campanhas eleitorais mas não cumprido, gerando uma retenção, cada vez maior, da mão de obra disponível e sem emprego, em um círculo vicioso no qual as expectativas eram frustrada e os problemas sociais crescendo.

Recentemente o secretário municipal de Turismo de Penedo, Jair Galvão Freire Neto, afirmou. em entrevista, as ações promovidas e que impulsionará para que o setor se consolide como vetor de desenvolvimento do município, tornando-se o segmento âncora que estimulará os empreendedores locais investirem nesta prestação de serviços, como também na indústria, comércio e agricultura, pois observamos que na maioria dos municípios que tem o turismo como locomotiva ele exerce tração para que os demais segmentos econômicos também avancem.

Esta entrevista, muito técnica, indica que a vocação econômica de Penedo será o Turismo, em suas diversas ramificações, embora não tenha sido tratado na entrevista de Freire Neto, fica a dúvida do horizonte temporal do seu planejamento, como também a participação das demais secretárias neste contexto. Temos conhecimento que primeiramente, sem uma educação de qualidade não melhoraremos o bom atendimento em todos os estabelecimentos comerciais da cidade, que atualmente é muito criticado nos segmentos de hotéis e restaurantes; em seguida as vagas de emprego criadas, principalmente as melhores remuneradas não aproveitarão a mão de obra local, importando pessoas de outras localidades com melhor preparação. Como a educação formal, por melhor que seja, não preenche as necessidades das empresas em relação as funções dos seus empregados, torna-me imperativo cursos específicos para esses operadores, pois são as pessoas que alavancam todos os empreendimentos. Igual importância têm as demais secretarias municipais neste planejamento integral.

Para que as intenções da escolha tenham sucesso, será necessário um plano central que ultrapasse o período dos mandatos eletivos e que envolvam todas as agências públicas no grande objetivo municipal sob a direção e liderança do gestor municipal eleito.