Em razão da proximidade do natal gostaria de discorrer sobre um tema de natureza transcendental que possa servir para uma reflexão mais real a respeito da salvação espiritual, aspiração de todos que acreditam que, ao morrer ou desencarnar, serão julgados pelos seus atos. Esse julgamento tem sido uma preocupação constante por parte de todos os que seguem uma religião ligada ao cristianismo, ou, mesmo sem ter uma religião definida, veja em Jesus o único caminho, o exemplo a ser seguido para que se chegue diante desse Tribunal Supremo, apto a merecer um bom veredito.
Quando digo que a salvação é individual é porque são as ações, os atos, as atitudes, o comportamento social ou político de cada um, que vai lhe garantir ocupar um espaço mais ou menos privilegiado no plano espiritual. Por mais perfeito que alguém possa se julgar, por mais santo que seja considerado, esses requisitos só servirão a ele próprio, não favorecendo a seus próximos como pai, mãe, esposa, esposo, filhos nem aos demais que enxerguem tais virtudes.
Cada pessoa, cada cristão deve se esforçar para, inicialmente, se auto-melhorar, extirpando de dentro de si o orgulho, a insensatez, a arrogância, o ódio, o ressentimento e especializar-se a amar, pois é na demonstração do amor ao próximo que demonstramos o nosso amor por Jesus e a Deus. Eis aí o grande desafio. Esse amor é muito pouco exercitado até mesmo por àqueles que dizem ter uma vida religiosa por vocação ou por tradição. O apóstolo João é enfático ao dizer: “Quem não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.”. O próprio Jesus afirmara que todos os mandamentos se restringiam a apenas dois: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. (grifo nosso).
Faz-se necessário que cada um que almeje essa salvação tão cobiçada, primeiro se volte para dentro de si mesmo, eliminando os entraves humanos, as traves nos olhos a que Jesus tanto se reportava, se eximindo de julgar os outros porque com a mesma medida que se julgar também será julgado. A regra aparentemente é simples: cuide de sua própria vida e deixa a vida dos outros. Melhore-se para você mesmo para que o outro que vê a sua mudança possa seguir o seu exemplo. É o mesmo Jesus que diz que devemos ser luz. Essa mudança só é real se for percebida pelos outros. Muitas pessoas dizem que mudaram que estão diferentes, que seguem uma nova vida, mas, os que estão ao seu redor não experimentam tais mudanças. Algo está errado. Essa mudança vista por nós mesmo em nossas vidas é falsa, fingida sem nenhum reflexo no espelho da vida. A mudança verdadeira experimentada por cada um é aquela capaz de promover mudança nos outros, é aquela que sirva de exemplo a ser seguido.
Apesar de se estar revestido dessa mudança, de tê-la como uma couraça contra a ingerência dos atos maléficos, denominados de pecado, se a pessoa não amar o seu próximo, todo “esforço” estará perdido. É o amor o dom supremo que está, inclusive, acima da própria fé até daquela capaz de remover montanha. O próximo, a que se refere Jesus é o instrumento para se atingir a perfeição. É nele que se deve exercer o amor a Jesus e a Deus. Não é apenas frequentar igrejas, fazer longas orações, vigílias, participar de eventos religiosos. Tudo isso sim é importante desde que o foco seja a manifestação de amor ao próximo e não às instituições de que se faça parte.
É comum, até mesmo corriqueiro, se ouvir, presenciar ou assistir discussões acaloradas sobre doutrinas religiosas, cada um defendendo suas convicções, demonstrando conhecimento teológico e filosófico, sem perceberem que, ao invés de produzir frutos benéficos, produzem os frutos da discórdia, do desentendimento, da ignorância e da falta de sabedoria. Em vez de se discutir doutrinas seria mais lucrativo se estar atento aos ensinamentos de Jesus, estes sim, devem ser difundidos no lar, no local de trabalho, na convivência social, pois é útil, concorre para aproximar as pessoas e para formar uma convicção de que é a paz e o amor, o objetivo maior do cristianismo. É, exatamente, sobre tais discussões que o apóstolo Paulo se reporta na sua epístola a Tito: “Evita discussões insensatas, genealogias, e contendas, e debates sobre a lei; porque não tem utilidade e são fúteis”.
As palavras de Jesus não são apenas para serem ouvidas, mas, principalmente, para serem refletidas e vividas como ensinamentos éticos e morais necessários e insubstituíveis para que se possa levar uma vida correta, honesta e participativa. Cada um deve ser um apóstolo de Jesus, um divulgador dessas palavras que tem transformado homens e mulheres pela sua força e poder.
Amar ao próximo no exato sentido das palavras de Jesus não é fácil, mas não é impossível. Muitos já conseguiram. O que Ele espera de cada um de nós não é, por enquanto, a perfeição, que exige uma condição espiritual superior à humana, mas que comecemos, imediatamente, a lutar conosco mesmo, sem tréguas, de forma contínua, diária para matar os dragões que nos devora por dentro e nos impede de sermos felizes. Essas mudanças só acontecerão se assumirmos, de forma verdadeira o compromisso de fidelidade aos ensinamentos de Jesus. Não devemos esperar, de forma insensata, que a mudança em nossas vidas se dê apenas nas promessas, nos desejos manifestados por ocasião da virada do ano novo e para o ano vindouro porque, de súbito, poderemos deixar este plano de existência sem experimentarmos as mudanças a nós mesmos prometidas.
Que todos entendamos que é necessário seguirmos a verdade de Jesus e reflitamos nas palavras de Paulo aos Efésios 4,22-24, assim expressadas: “no sentido de que quanto ao trato passado vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscência do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.
Despojar-se do homem (e da mulher) velhos é deixar para traz a vida de sofrimentos, de martírios internos, provocados por nós mesmos, e voltando-se para um novo horizonte, vislumbrar a Grande Luz: Jesus, e continuar o percurso da estrada da vida mais confiante, mais amigo, mais humilde, vendo no próximo o único meio visível para que se manifeste o nosso amor por Jesus, e aí sim, seja operada a grande transformação do velho para o novo, sem a qual o sonho da salvação jamais será alcançado.