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A realidade da gestão de pessoas no serviço público


A discussão sobre a necessidade de como a reforma administrativa está no momento sendo tratada por diversos atores, porém como em épocas pretéritas, continua denodando um viés distorcido da realidade dos servidores públicos da maioria dos municípios brasileiros.

Quando em artigos, noticiários e outros instrumentos de divulgação é mostrada uma realidade dos valores salariais em comparação aos salários da iniciativa privada, temos a impressão de que todos os servidores federais, estaduais e municipais recebem valores muito acima do praticado pelo mercado de trabalho.

Como estão misturados o joio – o servidor público que recebe salário incompativelmente alto – com o trigo – o servidor que tem o holerite vergonhosamente baixo – devemos separá-los para evitar cometer excessos descabidos ao externar opiniões, que em muitas oportunidades são impróprias.

É difícil nas nossas redes sociais, seja presencial ou virtual, que não tenham a presença de servidor público municipal, seja ele pertencente a quadro de nível superior ou não, que de acordo com a proximidade da amizade ou parentesco nos forneça informações confiáveis como esses servidores públicos são tratados, tanto nas questões salariais quanto nos de cargos, salários e carreiras, sendo a primeira apenas a vantagem da estabilidade, após o período de estágio probatório praticado por raras administrações públicas municipais, e a segunda inexistente na maioria das administrações públicas, resumindo-se apenas ao abono quinquenal ou anual que adiciona 5% ou 1% nos salários dos servidores públicos.

Considerar os servidores públicos como atores importantes e necessários para a boa prestação dos serviços à população, geralmente não foi prioridade nos planejamentos estratégicos de gestores municipais no passado e lamentavelmente são raros esses lampejos nas plataformas de intenções de candidatos e quando mencionado é de uma forma genérica e superficial com rótulo de “os servidores públicos serão valorizados” onde se percebe que nada mudará no quartel de Abrantes.

A absurda assimetria da produtividade de serviços prestados entre as organizações privadas e as públicas, comprovada nas estatísticas já realizadas e provavelmente pelas que venham a ser realizadas, é o puro resultado de como os agentes púbicos foram e são tratados pelas administrações passadas e presentes, que continuadamente praticam os processos e o tratamento das pessoas como continuássemos presos no período da revolução industrial.

Desde a metade do século passado, a ciência que trata da administração empresarial vem desenvolvendo teorias, observações, implicações, experimentos, métodos e novas hipóteses sobre o comportamento humano nas organizações, estando esse imenso material disponível para as pessoas que pretendem realizar, no mínimo, uma gestão empresarial que apresente resultados melhores, por menor que seja, dos que lhes precederam.

As premissas de valorização do assalariado, tanto na gestão pública ou privada, são similares e baseadas no tripé: justiça, conquista e perspectiva futura. Quando se observa as empresas privadas que se destacam e se mantêm entre as melhores de seus respectivos segmentos negociais, elas não só incorporaram nas suas culturas organizacionais essas âncoras básicas, como também outros desdobramentos eficazes nas suas gestões de pessoas.

É visível que inexiste uma uniformidade, mesmo relativa, generalizadas entre as diversas carreiras dos servidores públicos nos três níveis – federal, estaduais e municipais, mas a existência de planos de cargos, carreiras e salários com seus respectivos instrumentos que lhes proporcionam solidez e credibilidade, encontram-se, na maioria dos casos, nos estados e municípios localizados em regiões economicamente mais desenvolvidas.

Quanto as demais administrações públicas, encontramos nesse ambiente de gestão de pessoas. incompreensíveis lacunas que sequer são provocadas para discussão pelos próprios servidores públicos e seus órgãos representativos em decorrência da indisposição da maioria desses gestores, ignorando que quando melhor for a gestão dos servidores públicos, melhores serão os resultados produzidos pelos serviços prestados às comunidades.

Na administração existe uma ferramenta de gestão denominada benchmark, que é analisar qual o modelo que as empresas utilizam nos segmentos que estão tendo sucesso, no caso aqui tratado na gestão de pessoas e copiá-lo com suas devidas adaptações à realidade local, para que seus colaboradores sejam de fato colaboradores. É difícil realizar esse procedimento ou a empáfia de certos gestores públicos é impeditiva? Esperemos como se comportarão os prefeitos que serão eleitos no próximo mês.