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Cultura

A partir de janeiro, inicia a devoção do ribeirinho ao seu protetor

Celebração acontece em todas as cidades banhadas pelo Rio

É 06h da manhã, segundo domingo de janeiro, ecoa o sino, cidade em silêncio. É o sinal para o despertar, da oração com o toque de Ângelus na pequenina Igreja de Santa Cruz do Nosso Senhor Bom Jesus dos Navegantes, em Penedo, protetor dos remeiros e dos ribeirinhos, momento em que todos despertam para o início das homenagens ao santo. Às 8h da manhã, igreja cheia, inicia-se a missa. Mas, as homenagens não se restringem apenas aos ritos religiosos.

Nesse domingo especial há, também manifestações artísticas e folclóricas em reverência ao santo. Participam da festa, banda de pífanos composta por mulheres, capoeira, marujada, salva de fogos a todo o momento. Promessa são pagas com flores, ex-votos, fitas coloridas enroladas ao pé do Bom Jesus, fotos e, até, cartas com os mais inusitados pedidos de agradecimentos.

Com uma grande salva de fogos às 15h, sai o andor com a imagem do Glorioso Bom Jesus dos Navegantes, em procissão terrestre, acompanhada por centenas de devotos em direção ao rio, para prosseguir em procissão fluvial em barcas, percorrendo as margens das cidades de Neópolis e Santana do São Francisco, para retornar ao Porto de Penedo. Essas são as manifestações de agradecimento do ribeirinho, pelas graças alcançadas e pela proteção ao povo que depende do Rio. A celebração ao Glorioso Bom Jesus dos Navegantes acontece em todas as cidades banhadas pelo Rio São Francisco, iniciando a partir de janeiro, sendo a primeira, Neópolis, município sergipano à margem direita do São Francisco.

Profissão de fé

Roberto Miranda - aquiacontece.com.brDona Benedita, 65, é uma dessas devotas que assegura ter recebido uma graça dias antes da celebração. “Eu estava acamada no hospital, há dez dias, com problema de asma. O médico já tinha pedido para fazer um raio-x para ver qual era a minha situação. Aí comecei a pedir ao Bom Jesus dos Navegantes para me ajudar a participar da festa religiosa”, conta.

“Então, na quarta-feira, comecei a cantar: olha para perto de mim, olha para dentro de mim, olha para o meu coração ô meu protetor Bom Jesus…, à noite, recebi alta, fui para casa. Acordei na quinta-feira as 06hrs, com o toque de Ângelus, ao som do sino, o despertar da oração e do trabalho. Estava bem e participei da organização da festa, da procissão terrestre e fluvial”, narra dona Benedita, com os olhos brilhando, ao garantir que foi o santo quem tirou-a do hospital.

Ela é aquela típica senhora que participa ativamente das celebrações religiosas todos os anos. Cuida da Igreja de Santa Cruz, participa da organização da festa, é encarregada de colocar aos pés do Bom Jesus, as várias fitas coloridas, que é uma forma simbólica de os devotos agradecerem as graças alcançadas.

“As fitas precisam ser do tamanho do devoto”, lembra entusiasmada. Além de todas essas atividades, ela ainda toca na banda de pífano Mulheres do Bom Jesus. Em suas várias histórias, ela relata que tem uma em especial. Nesse ano em que estava doente e o Bom Jesus curou-a, também fez parte da história de outra devota.

“A senhora estava com o filho desaparecido, pediu para o santo trazer de volta a criança e o seu pedido foi alcançado. Como retribuição, teria que participar da procissão fluvial e terrestre. Acompanhou a procissão terrestre e na hora de entrar na balsa para acompanhar a procissão fluvial, não conseguiu entrar por causa da grande quantidade de pessoas. Então, foi quando essa mulher me pediu para que eu a ajudasse, como faço parte da organização, consegui fazê-la entrar na balsa que leva o andor do Bom Jesus. Assim, além de conseguir a minha graça, também ajudei outra pessoa com a sua”, relata dona Benedita feliz da vida ao relembrar uma das várias histórias vividas.

São inúmeras narrativas contadas por essa senhora humilde, responsável por fazer com que os agradecimentos cheguem aos pés do protetor dos ribeirinhos. São várias as fitas que coloca na semana da celebração do Bom Jesus.