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Cultura

A música às margens do Velho Chico

Orquestra Lira Traipuense representa a mais fiel tradição musical do município

Formada atualmente por 75 músicos, a Orquestra Lira Traipuense representa a mais fiel tradição musical do município de Traipu. Dessa localidade às margens do rio São Francisco já surgiram regentes conhecidos até mesmo nacionalmente. Toda essa trajetória erudita tem feito com que muitos jovens e até mesmo crianças sigam os mesmos exemplos. No comando do grupo, há 42 anos, encontra-se o maestro Antônio Basílio.

Para ilustrar a força da cultura musical erudita em Traipu, Antônio Basílio, um senhor de 70 anos de idade, lembra de músicos nascidos na cidade e que chegaram a despontar em várias regiões do Brasil. Um dos principais é o regente Florentino Dias, considerado “uma das glórias da música erudita no Brasil”.

Aos sete anos de idade, Florentino teve iniciação musical com o maestro Nelson Palmeira, à época regente da Lira Traipuense. Quando jovem, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro e, antes mesmo de completar a maioridade, conseguiu ingressar na Banda do Corpo de Fuzileiros Navais, onde chegou a ocupar a função de oficial-regente. Formou-se em música pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro e concluiu mestrado em regência na Washington University, nos Estados Unidos. Fundou no Rio de Janeiro um coral e três orquestras sinfônicas, das quais foi titular e se tornou membro da Academia Internacional de Dança.

“Entre os meus mestres posso citar Ranufo Carmo e Mariazinha Duarte, que também contribuíram para o surgimento de muitos talentos até hoje reconhecidos em Alagoas, a exemplo de Nilton Souza, regente da Orquestra de Câmara da Universidade Federal de Alagoas e do músico e compositor Basílio Sé, que foi meu aluno”, reforça o maestro Antônio Basílio, que aprendeu a tocar desde criança, incentivado pelo pai.

Por viver numa cidade onde a cultural musical segue em plena força, Antônio Basílio decidiu abrir a Escola de Música Santo Antônio, onde ele dá aulas de teoria e harmonia para crianças e jovens. Traipu possui atualmente três escolas de músicas e centenas de artistas nessa área, que têm tocado em várias cidades da região. Uma das épocas em que a cidade é tomada pelas orquestras é durante o Carnaval. Agora em 2010, as ruas da localidade foram ocupadas por milhares de pessoas, que seguiam as três orquestras formadas exclusivamente por músicos locais.

“Minha trajetória musical passa por cidades como Arapiraca, Própria, São Paulo, Recife, entre outras. Tudo o que eu arranjei foi por causa da música. Tudo que eu tenho foi meu piston quem me deu”, enaltece o regente da Orquestra Lira Traipuense, que é autor dos hinos dos municípios de Girau do Ponciano, Campo Grande e Traipu.

De acordo com a secretária de Cultura do município, Dulcinéia Soares, apesar de possui tradição em diversos folguedos e também no teatro, a música erudita tem sido a principal cultura da localidade, motivo que tem favorecido a permanência dessa tradição por anos.

Nesse caminho seguem os garotos Josefy Einsthem e Maurício Herbete. Ambos com 12 anos, eles aprendem a tocar, respectivamente, piston e clarinete. E entre os mais de 30 alunos do maestro Antônio Basílio há apenas uma garota, Lídia Carolyne. Com 11 anos de idade, ela sabe muito bem a importância da música para seu crescimento e o empenho do maestro em seu aprendizado. “Acho que ele se dedica aos alunos e, com essa ajuda, espero ser uma grande saxofonista”, diz a menina. Com isso, a tradição musical de Traipu fica assegurada pelas próximas gerações.